Pedro Emanuel: «Não me passou pela cabeça falhar o penálti»
Pedro Emanuel ao lado do capitão Jorge Costa. com Quaresma e Diego e, baixo, com a Taça Intercontinental (FOTO: A BOLA)

ESPECIAL TAÇA INTERCONTINENTAL Pedro Emanuel: «Não me passou pela cabeça falhar o penálti»

NACIONAL12.12.202408:00

Da marca dos 11 metros, o antigo defesa-central deu aos dragões o bicampeonato mundial; assumiu a responsabilidade sem ponta de medo e com um olhar penetrante que ficou gravado na história da final da Intercontinental, em Yokohama

Naquela noite mágica no Estádio Internacional de Yokohama, todos os jogadores foram verdadeiros heróis. Frente ao Once Caldas, numa final decidida na marca dos 11 metros, depois de um teimoso 0-0 que sobreviveu ao prolongamento, o FC Porto conquistou a sua segunda Taça Intercontinental. Mas, entre os nervos, a incerteza e a angústia que pairavam sobre as hostes portistas, um nome destacou-se no momento decisivo: Pedro Emanuel.

O antigo defesa central protagonizou um instante que ficará eternamente gravado na memória portista. Com um olhar penetrante e fixo na baliza adversária, Pedro Emanuel assumiu a responsabilidade da última grande penalidade, aquela que decidiria o troféu. Sem margem para erro, não vacilou. O 8-7 no marcador fez explodir a alegria azul e branca, transformando o relvado de Yokohama num palco de celebração inesquecível. Um momento de superação, coragem e glória que continua a inspirar gerações.

«Criamos de facto bastantes oportunidades, tivemos dois golos anulados, bastantes situações de perigo. Sabíamos que era um adversário lutador, trabalhador no jogo, perigoso no contra-ataque, que defendia bem e que acreditava muito. Nós fomos para o jogo preparados para isso. Sabíamos que íamos ter que trabalhar e desde cedo vimos que em termos de qualidade de jogo éramos superiores. Contudo, quando a bola não entra não podemos fazer a diferença para poder ganhar. E sendo assim tivemos que chegar aos penáltis e de facto tínhamos grande parte dos jogadores definidos, mas os jogadores foram passando e a final não estava resolvida», recorda a A BOLA, Pedro Emanuel.

A celebração portista no Japão, há 20 anos (FOTO: A BOLA)

«Como eu disse na altura e repito agora: deve fazer parte daquilo que é um jogador de futebol e a sua mentalidade para poder jogar numa equipa como o FC Porto, portanto, fui bater o penálti com aquele olhar de convicção, de que não ia com medo de ser feliz. E ser feliz era marcar para ganharmos e nem me passou pela cabeça que iria falhar. Ia com a convicção de que iria marcar, de que iria resolver definitivamente ali a final e felizmente isso aconteceu», rebobina a fita 20 anos, como se sentisse a medir aquela mesma baliza.

Entrevista de Pedro Emanuel a A BOLA depois da conquista da Taça Intercontinental

«Pessoalmente fiquei ligado a esse momento, mas essencialmente pela equipa e pela história, que mais uma vez, de uma forma bonita, sofrida, mas bonita, se escreveu numa fase importante para o clube, uma fase de reestruturação com a saída de muitos jogadores importantes na equipa, mas mesmo assim continuamos essa cultura de vitória e de conquistas internacionais», lembra Pedro Emanuel, que no FC Porto, além da Intercontinental, ganhou seis campeonatos, três Taças de Portugal, uma Champions, a Taça UEFA e três Supertaças. Homem de grandes proezas, foi campeão e vencedor de uma Taça e Supertaça no Boavista e como treinador conduziu a Académica ao triunfo na edição 2011/2012 da Taça de Portugal, somando mais troféus e títulos no Chipre e Arábia Saudita.

Duas referências do FC Porto: Vítor Baía e Jorge Costa (FOTOS: A BOLA)

«Foi uma época atribulada e difícil. Início com o Del Neri, que depois sai antes de começar a época. De facto foi um treinador que não se adaptou à cultura do clube, os jogadores também que não se conseguiram adaptar ao treinador. Foi logo a primeira mudança. Depois vem o Victor Fernández, tenta fazer o seu trabalho, mas é uma época onde há muitas alterações, muitos jogadores importantes que saíram, outros que se calhar queriam sair e acabaram por ficar, e claro que isso afeta sempre aquilo que é o desempenho coletivo, quando os jogadores individualmente não estão no seu nível máximo», reconhece Pedro Emanuel, agora com uma visão diferente, de treinador. «Ficou esta conquista importante da Taça Intercontinental, a última neste modelo de final e sendo assim é mais uma conquista importante. Fiquei ligado a mais uma página bonita da história do futebol com o FC Porto, e hoje em dia valorizo isso, mais do que se calhar valorizei na altura», frisa.

«O Victor acabou por ter um trabalho ali um tanto ou quanto inquinado, contudo surpreendeu-nos porque faz o mercado de janeiro, há bastantes alterações nesse mês, e acaba por sair, porque de facto os resultados ditam muita coisa naquilo que é a vida de um treinador, e eu bem o sei neste momento», situa o momento em que o FC Porto decide, em fevereiro de 2005, despedir o espanhol.

Victor Fernández foi despedido do FC Porto pouco tempo depois de ganhar a Intercontinental (FOTO: A BOLA)

«Fiquei com uma ótima impressão do Victor, até pela carreira que ele continuou a fazer em Espanha, e o sentimento foi de que de facto grande parte da responsabilidade daquilo que é a saída de um treinador como o Victor Fernández naquela altura da época também nos cabia a nós, os jogadores, mas era uma época que estava destinada em termos internos a não ter sucesso», considera.