Os que Amorim ganhou e perdeu: este será o ponto de partida para 2025/26

INTERNACIONAL22.05.202511:12

Português terá 128 milhões de euros, de acordo com a Imprensa britânica, para reformular no verão o plantel e, desde logo, parece curto

O Manchester United está a um jogo de terminar uma das piores épocas da sua história. Não só falhou a conquista de um troféu europeu como a Liga Europa como também o 16.º lugar no campeonato – que pode nem ser definitivo, já que se despede da Premier League a receber um Aston Villa em luta pela Liga dos Campeões e está, também aí, ainda ao alcance do Tottenham, anfitrião do Brighton –, deixa um sabor muito amargo a qualquer adepto dos Red Devils.

Apesar de a continuidade de Ruben Amorim estar nesta altura longe de estar em causa, por tudo o que já explicámos, a verdade é que a revolução não é assim tão visível ou, se quisermos, ainda não começou verdadeiramente. Talvez até se tenham descoberto problemas a mais para as soluções que surgirão a curto prazo. É que se fala de um orçamento de 180 milhões de euros para reforços e desde já parece curto, por muita boa vontade que o treinador português possa ter. Isso obrigá-lo-á sempre de gerar dinheiro com vendas a fim de alimentar a sua sucessão, não esquecendo que ao ser Manchester United a comprar tudo estará inflacionado e a vender, conhecendo-se a necessidade, os negócios poderão ter de ser feitos abaixo do preço da tabela.

Percebe-se que o caminho que Amorim seja semelhante ao que estipulou, em traços gerais, para o Sporting, ainda que com contextos muito diferentes, como o próprio tem confidenciado ao longo destes últimos meses. É preciso estabilizar para crescer, é preciso consistência antes de se querer dominar como uma equipa da sua dimensão deveria fazer. Mas a consistência ainda não está lá. Há um ou outro dado evolutivo a assinalar, como o crescimento da percentagem da posse de bola ou até as recuperações no último terço, porém fica-se com sensação de que, tudo somado, o técnico terá perdido mais jogadores do que aqueles que ganhou para o projeto.

Na baliza, por exemplo, André Onana está há muito por estabilizar. Sente dificuldades no jogo aéreo e tem cometido erros a mais, contrastando com as performances assinadas ao serviço do Inter. Num cenário ideal, reconhecendo que o guarda-redes camaronês também fez algumas boas exibições, não será aquele keeper intocável que transpira confiança, inspirando os colegas de setor. Altay Bayindir ainda menos, tal como Tom Heaton, o terceiro da lista, com 39 anos. Aqui entra a questão: há ou não problemas mais urgentes? Talvez haja.

Leny Yoro mostrou crescimento nesta fase final da temporada. Não só a defender rápido e assertivo, mas também no passe e no transporte de bola, quebrando linhas de pressão. Assume-se como um central moderno e terá à sua conta a vaga à direita na linha de 3. Já Ruben Amorim quis fazer de Harry Maguire o Seba Coates do Manchester United, assumindo que o sistema o iria proteger como ao uruguaio, mas não só as limitações estão lá como as exigências são bem maiores em Inglaterra. Por não poder contratar o mundo inteiro, acredita-se que continue a ser aposta, tentando-se protegê-lo daquilo que não consegue mesmo fazer. Já Luke Shaw, ainda sendo útil e percebendo-se a ideia do central-esquerdo, parece ser símbolo de um outro tempo. Irá Amorim à procura de um… Gonçalo Inácio, ou do próprio? Embora De Ligt continue a não ser o mesmo que deixou Amesterdão em 2019, muito por culpa das lesões que não o deixam em paz, mas não só, continua a ver-se um espaço tanto para ele como para Lisandro Martínez, que injeta sempre aquela atitude never say die contagiante de que o português tanto gosta. Já Lindelof e Johny Evans, cada vez mais opções de recurso, terão guia de marcha.

À direita, Dalot e Mazraoui deverão chegar para as encomendas e à esquerda Patrick Dorgu é já uma contratação de Amorim. O jovem Amass, ainda muito verde, precisará de tempo para ser concorrência, o que significa fragilidade na profundidade do plantel. Ainda que Shaw, hoje mais velho e mais pesado, possa derivar para aí.

Se há algum jogador que Ruben Amorim terá ganho esse será Casemiro, mesmo aos 33 anos. Notou-se um crescimento exibicional nas últimas semanas, o que significa que se sente agora mais ligado ao processo. Ugarte é também um produto do treinador português, por isso a posição de médio defensivo estará mais ou menos ocupada. O mesmo se pode dizer dos criativos interiores, casos de Bruno Fernandes, um capitão a que não se pode apontar nada, muito menos a ambição – basta recordar o estado emocional em que se encontrava no final do jogo, já na zona mista –, e de Mason Mount, que se espera que com o tempo, e sem lesões, possa assumir o protagonismo que lhe estava dedicado na altura da sua contratação. De qualquer forma, ter alguém que possa fazer o papel do internacional se este não estiver, seria bom sinal para Amorim e a sua equipa técnica. Mainoo é um jovem talento, tal como Collyer (embora possa sair para rodar) e entrará na rotação, mas Eriksen estará em fim de ciclo.

Na frente, parece faltar… tudo. Hojlund tem muitas dificuldades em criar momentos de golo, sobretudo num conjunto que coletivamente também é pouco dominador, e Zirkzee também se mostra algo instável fisicamente, de forma a poder ser a referência, ainda que tenha argumentos técnicos mais válidos que o dinamarquês. Não é à toa que se fala em Matheus Cunha, que poderá criar outro tipo impacto na área contrária. E não chegará apenas um para dotar a equipa de maior produção ofensiva.

Nos extremos invertidos também há problemas. Garnacho é o único que ataca a profundidade e isso assenta bem nas ideias do treinador, mas depois tem inúmeras dificuldades na tomada de decisão e, sobretudo, na definição no momento de finalizar. O argentino terá muitos problemas em ser titular se não resolver essas carências rapidamente e ainda mais terá piorado o seu caso com as declarações após o jogo, que de certa forma questionam Ruben Amorim. Do outro lado, Diallo é um jogador de 1x1 e isso, paradoxalmente, limita-o bastante porque é quase argumento único. Consegue definir, maioritariamente, melhor do que Garnacho, mas não compreende o ataque posicional, nem sabe esticar o jogo sem bola. Chido Obi, aos 17 anos, tem muito pela frente.

Não se sabendo ao certo o que vai na cabeça de Ruben Amorim, e com dúvidas nas situações de Onana e Garnacho, por exemplo, os 15 em baixo serão provavelmente aqueles que terão aval para integrar a primeira época completa do projeto. Outros poderão ficar em Old Trafford, mediante a capacidade do Manchester United no mercado ou as dificuldades em vender. Porque, recorde-se, 128 milhões é muito curto para adquirir 8 ou 9 jogadores de grande qualidade, se pensarmos num plantel a 25.

Onana, Yoro, Maguire, Shaw, Lisandro, De Ligt, Mazraoui, Dalot, Dorgu, Casemiro, Mainoo, Ugarte, Bruno Fernandes e Mount serão, muito provavelmente, o ponto de partida de Ruben Amorim para o próximo Manchester United.