Os direitos televisivos, as contas do Benfica, o naming: tudo o que disse Luís Mendes
Luís Mendes, admnistrador da SAD das águias, deu esta segunda-feira uma entrevista conjunta à BTV e ao ECO e abordou vários temas
Leia em baixo na íntegra a opinião do braço-direito de Rui Costa, presidente do Benfica, sobre vários temas:
- As contas do Benfica apresentaram um resultdo líquido positivo de 18 milhões de euros, agora o Benfica inicia uma emissão de obrigações no valor de 35 milhões, qual é o objetivo?
- É para reembolsar a emissão anterior. Esta emissão tem um período de três anos e uma taxa de 5,1 por cento. Estamos atentos à evolução da procura e se entendermos que podemos alargar, analisaremos. Um dos objetivos é o reembolso do empréstimo anterior, mas queremos também diversificar as nossas fontes de financiamento e fazermos face em relação ao que são as nossas perspetivas de tesouraria.
- A rentabilidade, a taxa de 5,1 por cento, é inferior à de outras SAD’s… e fazer neste momento desportivo menos bom do Benfica não pode refletir-se numa travagem na procura?
- Estamos tranquilos com o comportamento da procura, o valor que estamos a oferecer o mercado vai apreciar em função do que é o perfil do forrador tradicional do Benfica. Estamos tranquilos quanto à taxa. E o Benfica tem um histórico imaculado em termos de cumprimento, sempre pagou o juro a tempo e horas e reembolsou a tempo e horas, o risco é, portanto, muito calculado.
- Como justifica a diferença de 60 pontos base entre a taxa oferecida pelo Benfica e a que ofereceu o Sporting?
- Quando o Sporting fez a emissão o indexante era um pouco superior e historicamente o Benfica oferece taxas relativamente mais baixas. Naturalmente que as contas do Benfica e os capitais do Benfica são devidamente robustos e isso reflete-se também num risco menor.
- O Benfica fez vendas importantes, porque é que o passivo aumentou, desde junho de 2020, de 325 para 442 milhões de euros?
- Temos de olhar para a evolução do passivo e paralelamente para a evolução do ativo está em equilíbrio e os nossos capitais próprios também cresceram. Estamos num valor muito idêntico ao do capital social, portanto estamos perfeitamente tranquilos em relação ao aumento do passivo.
Estamos perfeitamente tranquilos em relação ao aumento do passivo.
- A receita está muito ligada a venda de jogadores e receitas desportivas internacionais não é?
- Consideramos que o nosso passivo é perfeitamente suportável e se formos olhar para os ativos desde logo uma das componentes são os passes dos nossos jogadores e eles estão considerados a valores de aquisição de modo que temos até internamente mecanismos de controlo e de na análise de risco e se formos espelhar no nosso ativo aquilo que é o real valor do nosso plantel de futebol…
- Mas como calculam esse valor?
- Temos uma ferramenta própria, um algoritmo próprio que nos permite determinar o valor dos nossos atletas; obviamente que também olhamos para o transfermarket, mas temos as nossas ferramentas internas.
- A Benfica SAD está obrigada a vender jogadores no final desta época?
- Qualquer SAD está obrigada a vender jogadores isso é inquestionável, se formos verificar 90 a 95 por cento dos clubes europeus, todos eles vendem jogadores, todos eles necessitam da venda de jogadores para equilibrar contas. Até o próprio Real Madrid o ano passado teve de fazer vendas de jogadores para equilibrar as suas contas, portanto é normal que isso aconteça e faz parte da nossa estratégia de investimento. Se nós quisermos investir em novos jogadores, na nossa formação, temos naturalmente que vender jogadores.
Até o próprio Real Madrid o ano passado teve de fazer vendas de jogadores para equilibrar as suas contas
- João Neves e António Silva? Apenas pelas cláusulas de rescisão?
- O que posso dizer em relação à venda de jogadores é que o Benfica tem de vender jogadores, agora tem de analisar no momento certo o que é que o mercado oferece por esses jogadores ou outros e depois tomar as decisões
- Hoje essa decisão não está já tomada?
- Não, de todo. O Benfica não está pressionado a vender desde logo porque tem uma situação de capitais próprios que lhe permitem acomodar um prejuízo, ainda que ligeiro, não é isso que nos vai assustar ou determinar a venda de um jogador, não é ‘eu preciso fazer resultado e então vou vender a correr’, não…
Não é ‘eu preciso fazer resultado e então vou vender a correr’, não…
- Há uma receita inoperacional que tem a ver com a Champions, os 100 milhões de que se fala para a nova edição são valores reais, irreais…
- O novo quadro competitivo da Champions, em matéria de premiação o que se vai verificar é que à partida o nível de prémios vai ser muito idêntico ao que foram os quadros anteriores, o que se pretende agora é premiar muito a performance desportiva e só a partir de uma fase muito adiantada da prova é que os prémios podem subir.
- Imagine que corre mal, o Benfica consegue sobreviver sem uma ida à Champions na próxima temporada?
- Bem, neste momento não nos passa pela cabeça não ir à Champions. Se não estivermos presentes na Champions, temos os nossos mecanismos de controlo e mitigação por esse facto. Pode passar por mais vendas de jogadores, por algum aperto que tenhamos de fazer nos custos.
Neste momento não nos passa pela cabeça não ir à Champions
- Orçamento atual ressente-se da campanha na Champions desta época?
- Naturalmente que quando fazemos o orçamento prevemos que vamos até um determinado momento da prova, o que não sucedeu e logo ficámos aquém nas receita das Champions.
- O Mundial de Clubes, o Benfica já tem presença assegurada, os €50 milhões de que se fala são reais?
- Ainda não está nada determinado pela FIFA em matéria de premiação, o que temos em perspetiva é um startingfee na ordem dos 40 a 50 milhões de euros, embora estejamos da divulgação da FIFA. A questão da divulgação da marca também muito importante, podemos ter presença em termos televisivos na Ásia e noutros pontos do Mundo onde normalmente o Benfica não chega.
- O Naming. Não avança porquê?
- O tema tem sido tratado já alguns anos, a questão em relação ao naming é que o Benfica não está disposto a associar-se a qualquer marca, vamos ter de escolher uma que ajude a potenciar a marca do Benfica e que o Benfica ajude a potenciar essa marca, e estamos a falar de marcas internacionais, e paralelamente é também o que as marcas estão dispostas a pagar ao Benfica, e da conjugação destes dois fatores vai surgir uma decisão. Continuamos à procura, ainda não encontrámos a oportunidade certa.
- Em que ponto está a centralização dos direitos televisivos da Liga?
- Deram-se recentemente alguns passo interessantes naquilo que é a definição do produto, naquilo que é o modelo de comercialização, contudo aquilo que eu verifico é que o esforço de capacitação dos clubes, a formação que tem de ser dada aos clubes no sentido das verbas que lhe vão ser dadas serem devidamente alocadas, sobre estas matérias pouca coisa tem sido feita e é muito importante que venha a ser feita o mais rapidamente possível porque estamos à porta…
- Não considera viável uma antecipação desse calendário que por lei aponta para 2028/29?
- A Liga Centralização terá de correr contra o tempo, como é lógico. É possível haver uma antecipação para 2026 desde que as condições satisfaçam todas as partes. Sem um controle económico rigoroso entendo que não conseguiremos ter uma Liga verdadeiramente competitiva. Veja-se o exemplo da Espanha, em que a La Liga tem o enpoerment para determinar as execuções dos orçamentos dos clubes e a capacidade de impor a inscrição ou a não inscrição de um jogador… hoje até tivemos uma notícia de mais um clube que foi punido na Premier League por não estar a cumprir os critérios financeiros, portanto, eu não consigo ter um bom produto sem controlo económico, não consigo fazer com que as sociedades desportivas façam os investimentos que têm de fazer, em infraestruturas, não apenas na aquisição de jogadores, mas também na melhoria do produto que temos de entregar.
- Admite a possibilidade de o Benfica ficar fora da centralização?
- Em relação ao Benfica ficar de fora ou ficar dentro, já foi dada a garantia de que ninguém vai sair prejudicado com a centralização. O presidente Pedro Proença, ainda há pouco tempo, garantiu que ninguém iria ficar prejudicado.
Em relação ao Benfica ficar de fora ou ficar dentro, já foi dada a garantia de que ninguém vai sair prejudicado com a centralização.
- O Benfica vai continuar a receber pelo menos o mesmo dinheiro que recebe hoje?
- Garantias dadas pelo presidente da Liga. Contudo, o Benfica considera que vale muito mais isoladamente do que integrado num processo de centralização de direitos televisivos. E, por esse facto, para já, a nossa intenção é fazemos o nosso caminho sozinhos e não estarmos integrados. Contudo, sublinho, e deixo aqui em aberto a possibilidade de podermos estar integrados desde que a proposta sirva os interesses económicos do Benfica.
- Há duas épocas desportivas — 2026/27 e 2027/28 — em que o Benfica está livre do contrato atual e ainda não há a imposição da centralização de direitos. Nesses dois anos, o Benfica vai vender esses direitos de forma direta, sem intermediários?
- A convicção do Benfica neste momento, em função dos dados que tem, é que vale mais e, valendo mais, naturalmente que a intenção é ir sozinho. Mas, como disse também há pouco, se aparecer alguma proposta que satisfaça, que favoreça o Benfica, porque não analisá-la.
- De acordo com o contrato atual, o Benfica recebe 40 milhões de euros por ano da venda de direitos, assinado com a Nos. Considera que, nesta fase, será possível aumentar este valor de receita?
- Claramente que acredito. Vejam, o Benfica pode vir a ter aqui várias formas de poder explorar [os direitos televisivos], pode ir pelo ‘linear’, explorar plataformas de ‘streaming’, pode até retomar o tema da BTV e ser mais uma vez inovador relativamente àquilo que foi feito quando lançou a BTV. Temos muitas possibilidades que nos dão boas perspetivas relativamente ao valor daquilo que seja o nosso negócio.