O modelo de Martín Anselmi favorece as características atacantes de Francisco Moura
O modelo de Martín Anselmi favorece as características atacantes de Francisco Moura

O extremo que virou lateral (e Abel também é responsável): Moura volta a Braga

Cinco anos e uma lesão grave depois, o jovem internacional português regressa ao sítio onde tudo começou. O ex-treinador dos minhotos, José Carvalho Araújo, recorda o processo de crescimento do defesa e antecipa o seu retorno à Pedreira

25 de setembro de 2020, Francisco Moura mostrava-se entre os grandes. Muito mudou em cinco anos e o ala esquerdo regressa a Braga para defrontar o clube onde se formou e estreou na Liga.

O reencontro do lateral com o SC Braga é um pretexto para recuarmos no tempo e descobrir memórias sobre o defesa, um entre tantos miúdos que tinha o sonho de ser profissional.

«Conheci o Francisco nos sub-13 do SC Braga. Ele veio da Academia Lacatoni para a formação do clube. Tivemos um percurso longo desde os sub-13 até aos sub-23. Ele era um miúdo muito educado e cheio de vontade. Como todos os outros, teve momentos menos interessantes, naturais da adolescência. Mas todos em conjunto, pais, treinadores e clube, conseguimos fazer com que o Francisco, que tinha um potencial enorme e capacidades físicas incríveis, se tornasse num caso de sucesso», começa por dizer ao jornal A BOLA José Carvalho Araújo.

O ex-treinador da formação dos minhotos salienta o papel que os pais tiveram no sucesso de Francisco Moura.

«Como todos os miúdos, ele viveu altos e baixos, períodos nos quais jogou e nos quais não jogou. Teve fases de maior irreverência e a adolescência despertou outras motivações. São coisas normais. Mas foi interessante trabalhar nesta fase com ele e com os pais. Os pais são um exemplo do tipo de relação que se deve ser», adianta, sem especificar os momentos de rebeldia do atual jogador do FC Porto.

Francisco Moura cresceu e atingiu a maioridade no SC Braga. E mudou de posição depois de uma discussão interna que contou com a participação de Abel Ferreira.

«Inicialmente o Francisco jogava como extremo, sobretudo no lado esquerdo. Ele tinha uma capacidade incrível, era muito rápido, tecnicamente evoluído e marcava golos. Fez grande parte da formação a jogar nessa posição. No entanto, a dada altura sentimos que ele iria ser apenas um bom jogador como extremo e não um jogador fantástico. Reuniram-se as condições para baixarmos o Francisco para lateral esquerdo, posição a partir da qual ele poderia ter um percurso muito interessante a nível profissional», conta.

«Essa discussão começou quando o Abel ainda era treinador da equipa B do SC Braga. Havia uma grande relação entre a coordenação do clube, a equipa B e os sub-19. Sentimos que era melhor colocar o Francisco a jogar numa posição mais baixa para ter outra capacidade de aceleração e de explorar o corredor. Começámos a testá-lo nos juniores e depois na equipa B. O facto de também ter jogado nessa posição na seleção, no Euro sub-19, tornou a mudança mais fácil», acrescenta.

Acredito que foi um erro o SC Braga ter vendido o jogador pelo valor que vendeu

Titular em todos os jogos desde a chegada de Martín Anselmi ao FC Porto, Francisco Moura tem jogado como ala esquerdo no sistema de cinco defesas do argentino, uma posição que o favorece no entendimento de José Carvalho Araújo.

«O facto de ter jogado como extremo na formação permite-lhe ser um lateral com uma grande capacidade ofensiva e destacar-se pelo repertório que tem. O Francisco sente-se muito confortável neste modelo do Anselmi, porque ele sempre teve capacidade para marcar golos, fazer assistências e desequilibrar. Ele é muito explosivo, capaz de criar diferenças em espaços curtos, algo que o futebol moderno exige», defende.

O regresso a Braga, meia década após a estreia, será certamente especial. No baú das recordações ficam vários momentos, especialmente os dois golos contra o Benfica, na Luz, e a lesão grave que precipitou a saída da Pedreira para o Famalicão, por apenas 1 milhão de euros por 50 por cento do passe.

«Vi com enorme satisfação a chegada do Francisco à equipa principal do SC Braga. Estes são os grandes troféus da formação: colocar jogadores em patamares de excelência. Ele é verdadeiramente um produto do SC Braga e uma bandeira e um exemplo para outros miúdos do clube. Marcou dois golos contra o Benfica, o SC Braga ganhou. Estava a ser um percurso bonito, dourado e perfeito que acabou, infelizmente, interrompido por uma lesão. Perdeu espaço e acabou por procurar outros clubes. Acredito que foi um erro o SC Braga ter vendido o jogador pelo valor que vendeu», diz.

Apesar da história entre Moura e SC Braga ter terminado, há laços e traços de personalidade que não se perdem, conforme lembra o próprio José Carvalho Araújo.

«Haverá um misto de emoções certamente. Ele vai dar o seu melhor e defender o clube que representa. Mas por outro lado, vai estar numa casa que o acarinhou muito com pessoas que conhece perfeitamente. Vai estar muito confortável e será certamente bem-recebido. O Francisco tem sempre um registo muito sério, comprometido, humilde e disponível para ouvir. Chegou a um dos melhores clubes portugueses e mantém-se no mesmo registo, dá gosto ver», conclui.