Noronha Lopes: «No Benfica, Vieira representa o passado»
No dia em que João Noronha Lopes formaliza a (nova) candidatura à presidência do Benfica, A BOLA publica uma entrevista com o gestor e empresário de 58 anos. Neste excerto da conversa, o candidato avalia outros nomes envolvidos na corrida eleitoral e fala do papel que Luís Filipe Vieira pode assumir, para além de analisar os novos estatutos do clube encarnado.
— João Diogo Manteigas já anunciou também a sua candidatura, elogiou-o, e disse, inclusivamente, que, se quisesse, tinha um lugar para si na lista dele. Está disposto a abdicar da candidatura em favor de João Diogo Manteigas ou a abrir-lhe, em sentido, contrário a porta para ele integrar a sua candidatura?
— A minha candidatura é assumida com muita convicção, com muita força e com a capacidade de reunir as melhores pessoas. E, portanto, é assim que me vou apresentar a todos os benfiquistas. Todas as outras candidaturas serão muito bem-vindas. Faz falta no Benfica o debate de ideias, o debate de projetos e, portanto, todos os candidatos que o vierem fazer de uma forma construtiva e para defenderem aquilo que é a sua visão para o Benfica serão muito bem-vindos.
— Mas admite integrá-lo na sua lista se houver a convergência de ideias?
— Não é isso que está aqui em questão. Mais uma vez, aquilo que me parece importante é que todos os candidatos defendam as suas ideias, que defendam aquilo que é o seu projeto para o Benfica de uma forma aberta, que não fujam ao debate, que contactem com os benfiquistas. Acho que é isso que todos os candidatos irão fazer.
— Recentemente, o empresário Marco Galinha, que chegou a admitir-se que poderia candidatar-se à presidência do Benfica, teve algumas palavras que provavelmente considerará desagradáveis, dizendo que João Noronha Lopes não lhe atendeu o telefone, que se apresenta como diretor da McDonald's e que as suas empresas nunca deram lucro. Que comentário lhe merecem estas palavras?
— Isso é um absurdo. Essas declarações são feitas ou por ignorância ou por má-fé. Aquilo que se passa com a empresa a que fez referência é muito simples. Temos empresas que estão em fase de investimento e temos empresas consolidadas. Essa empresa foi considerada a marca mais inovadora do retalho em Portugal e que está numa fase de crescimento, crescimento esse que é financiado pelos sócios que têm capacidade financeira para o fazer. Neste momento vai iniciar um processo de expansão internacional, abrindo as primeiras lojas em Espanha e iniciando um processo também no Médio Oriente.
— Porque é que se considera melhor candidato que João Diogo Manteigas, Cristóvão Carvalho, Rui Costa, ou eventualmente Mauro Xavier?
— Tenho 20 anos de experiência enquanto empresário em várias organizações e em vários pontos à volta do mundo. Para o poder fazer, tive de liderar com visão estratégica, tive de escolher os melhores e não basta escolher os melhores, temos de os pôr a trabalhar em conjunto e na defesa de um interesse superior e não dos seus interesses próprios. Tive de ter ambição, tive de lidar com situações muito difíceis, tomando decisões em contextos complicados, em que era preciso romper com o passado, em que era preciso transformar organizações. E, portanto, tudo isso me preparou para um dos grandes desafios, ou o maior desafio, diria, da minha vida, que é liderar o Sport Lisboa e Benfica. E depois devo recordar que também tenho uma experiência enquanto vice-presidente do Benfica, numa altura particularmente difícil, em que era importante recuperar o Benfica para os sócios. E aquilo que posso garantir é que eu e a minha equipa estamos prontos e que no dia seguinte às eleições estaremos prontos para gerir o Benfica. Não preciso de períodos de aprendizagem, não vou fazer um estágio, estou com muita convicção e estou com muito boa gente à minha volta para ajudar a fazer crescer o clube.
— Francisco Benitez, candidato derrotado nas últimas eleições, tem sido uma voz ativa no universo benfiquista, tem contribuído inclusivamente para a elaboração dos novos estatutos. Vai contar novamente com ele na sua lista?
— Francisco Benitez é um benfiquista que respeito muito e que tem sido muito ativo na defesa dos interesses do Benfica e que teve um papel muito importante agora no processo de revisão dos estatutos. E, portanto, todos aqueles benfiquistas que puserem os interesses do nosso clube acima de tudo serão muito bem-vindos e o seu apoio, obviamente, será muito bem-vindo.
— Isso é um sim?
— É um sim a todos os benfiquistas que puserem os interesses do Benfica acima de tudo. E não gosto de particularizar A ou o B, sabe porquê? Porque importantes somos todos, todos os sócios do Benfica. O Benfica é dos sócios e, portanto, quero ter o apoio de todos os sócios, os de Lisboa, os da província, e que quiserem pôr os interesses do Benfica acima de tudo, incluindo aqueles que são mais ativos e que tiveram, obviamente, papéis importantes, como foi o caso do Francisco Benítez, que mencionou.
— Acredita que Luís Filipe Vieira poderá ter um papel importante nestas eleições, como candidato ou apoiando outro candidato?
— Luís Filipe Vieira representa o passado no Benfica. E representa uma maneira de estar no futebol que já não tem lugar nos tempos de hoje, nos tempos modernos. Não sei se vai ser candidato, consta que poderá apoiar outra lista. Veremos aquilo que se vai passar nos próximos tempos. Aquilo que lhe garanto é que estou pronto, vou avançar, seja contra Luís Filipe Vieira, seja disputando democraticamente as eleições com os outros candidatos que se apresentarem.
— Já falámos do processo de revisão dos estatutos, no qual participou ativamente. Subscreve a ideia de que o Benfica é hoje um clube mais democrático, tendo em conta esta aprovação dos estatutos, que até foi aprovada por uma larga franja de votantes.
— Estes estatutos representam uma melhoria relativamente aos estatutos anteriores, inegavelmente, em termos de democracia, em termos de gestão de conflitos de interesse, nas condições de elegibilidade para presidente e, portanto, há muitas coisas que melhoraram. Estes estatutos, como em qualquer processo desta natureza, não são estatutos de ninguém, representam compromissos e, portanto, fiquei satisfeito com aquilo que foi o processo final. Há coisas com as quais concordo, há outras que concordo menos, mas os estatutos, na sua generalidade, são maiores e devo, aliás, aproveitar para reconhecer o trabalho que foi feito pela Direção em cumprir uma promessa e, nomeadamente, o papel importante que o presidente da Mesa da Assembleia Geral [José Pereira da Costa] teve na condução e na conclusão deste processo.
— Como é que olha para as mudanças nos estatutos que têm impacto direto em ato eleitoral, nomeadamente a redistribuição do número de votos, o ter sido retirado os votos às Casas do Benfica e a eventualidade de uma segunda volta. Como é que olha para essas mudanças que impactam diretamente nas eleições?
— As mudanças que foram introduzidas para permitir que existam mais candidatos a concorrer ao Sport Lisboa e Benfica são muito positivas. E, mais uma vez, trata-se de alargar a democracia e permitir que exista gente, gente mais nova, gente que traga ideias e que possa vir discutir o Benfica. Todas as alterações que foram introduzidas no sentido de garantir maior transparência na vida do Benfica são, igualmente, importantíssimas. A segunda volta, que mencionou, parece-me importante, porque vai permitir ao presidente ser eleito com maior legitimidade. E tudo aquilo que o Benfica não precisa é de instabilidade. Portanto, parece-me uma das alterações que foi introduzida depois em Assembleia Geral muito positiva para o futuro do clube.
— Alguns destes elementos tinham muito peso no ato eleitoral: a questão das Casas, a questão da própria distribuição de votos. Isso pode mudar a equação das eleições, a a análise política, digamos assim, que se vai fazer depois do ato eleitoral?
— Não, deixe-me dizer relativamente às Casas o seguinte. As Casas são polos fundamentais do benfiquismo em todo o mundo. Mas a Direção não se pode só lembrar das Casas para cortar fitas ou em vésperas de um ato eleitoral. As Casas têm de ser apoiadas, têm de ser apoiadas de forma eficaz ao longo de todo o mandato, fornecendo-lhe ferramentas de gestão, ferramentas que lhes ajudem melhor, por exemplo, na angariação de patrocínios. É fundamental fazer um processo de digitalização das Casas e é muito importante que a própria Direção vá às Casas mais do que aquilo que tem ido. Por exemplo, uma das coisas que penso fazer são presidências abertas às Casas do Benfica e aos benfiquistas. O Benfica não é só Lisboa, vive-se muito também fora de Lisboa e, portanto, eu, pelo menos duas vezes por ano, vou reunir toda a Direção em Casas do Benfica, não só a pessoa encarregue das Casas, mas toda a Direção, para que possamos contactar de perto com os benfiquistas de fora de Lisboa, que compreendamos as suas preocupações, que ouçamos as suas sugestões para o futuro, e porque o Benfica tem que cada vez mais ser um clube aberto a todos e ouvir muito os benfiquistas que estão fora de Lisboa.
— Preocupa-o aquele eventual conflito legal relacionado com o artigo 66.º dos novos estatutos, que diz que a maioria do órgão de fiscalização seja composta por membros do Conselho Fiscal, quando o código das sociedades comerciais diz o oposto?
— Não, não me preocupa. E mesmo que esse artigo pudesse ser posto em causa, isso não punha em causa a validade dos estatutos como um todo.
— E poderá levantar algumas dúvidas na legalidade do ato eleitoral?
— Não, acho que não. O que é importante é que rapidamente possamos aprovar um regulamento eleitoral que permita uma maior transparência e um maior envolvimento de todas as candidaturas na preparação destas eleições. Julgo que o presidente da Mesa da Assembleia Geral o fará no interesse do Benfica. Acho que isso tem de ser feito o mais rapidamente possível.