«Deixei de ver felicidade em tudo»
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JAIR TAVARES «Deixei de ver felicidade em tudo»

INTERNACIONAL12.03.202409:00

Em conversa com A BOLA, médio formado no Benfica assume que chegou a perder a alegria nos treinos, na primeira época ao serviço do Hibernian, mas garante que já recuperou a paixão pelo jogo

Jair Tavares soma 33 jogos pelo Hibernian, mas apenas 9 na primeira época. Neste excerto da entrevista dada a A BOLA, o médio assume que viveu momentos difíceis na adaptação à Escócia, após vários anos na formação do Benfica, mas garante que agora recuperou a paixão pelo futebol.

- Que tal está a ser a experiência no futebol escocês?

O futebol escocês não é nada daquilo que as pessoas de fora pensam. Não têm noção da dificuldade que é jogar aqui. Não é nada fácil mesmo. É um futebol totalmente diferente do português. No nosso país encontras jogadores com muito mais qualidade do que aqui, e é um futebol mais bonito de ser ver, há mais espetáculo, mas aqui tens um tipo de jogo sem parar. Aos 20 minutos já quase não tens oxigénio. É um jogo muito mais físico, mais feio, mas em termos de intensidade está uns passos acima de futebol português. Como o meu treinador do ano passado dizia: «Se conseguires chegar ao nível de intensidade desta Liga, jogas em qualquer lado». Com isto não quer dizer que falte valor individual, pois há bastantes jogadores com qualidade, só que não se dá tanta atenção.

- Como é o Hibernian, enquanto clube, e como tem sido viver em Edimburgo?

Não conhecia o clube, de todo, até surgir a proposta e vir para cá. Mas é um excelente clube para o desenvolvimento de um jogador. Dentro da realidade escocesa vem logo depois de Rangers e Celtic, ao nível de Hearts e Aberdeen. O Hibernian oferece-te as melhores condições, com um estádio lindo, também, e com adeptos loucos pelo clube. Viver em Edimburgo tem sido bom, sinceramente. Completamente diferente da minha querida Lisboa, que só depois de sair é que percebi que é a melhor cidade do mundo (risos). O tempo e a comida são as únicas coisas que me “deprimem” aqui, mas de resto é uma cidade muito bonita, com qualidade de vida elevada.

Jair Tavares em Edimburgo

- E esta segunda época está a correr melhor do que a primeira…

Sim, bastante melhor. Já tenho muito mais jogos nas pernas,  comparativamente ao ano passado, e tenho aproveitado também as oportunidades.

- Chegou a confessar que, a dada altura da primeira época, nem tinha vontade de ir treinar. Já recuperou a paixão pelo jogo?

Sim. Foi uma época bastante difícil, principalmente a nível mental. Deixei de ver felicidade em tudo, e a parte mais difícil era ter de ir treinar e sorrir como se estivesse tudo a correr às mil maravilhas, ou com se eu fosse jogar no fim de semana, mesmo sabendo com quase 100% de certeza que não ia ser convocado. Felizmente as coisas mudaram, mas o mais importante foi estar preparado para a eventual mudança, porque eu nunca deixei de treinar para mim, fiz extras atrás de extras, sozinho, depois dos treinos, em folgas… Ia treinar sozinho porque eu também nunca deixei de acreditar, porque eu sempre soube - e sei - das minhas qualidades. Mas neste momento o mais importante é que voltei a sentir essa alegria, o amor pelo jogo.

- Como ultrapassou esse momento? Recorreu a ajuda?

Não, não.. aguentei tudo sozinho com ajuda dos meus pais, claro. Mais o meu pai, porque é ele que trata de mim no mundo do futebol. Mas eu sou aquele tipo de pessoa que não gosta de partilhar as coisas quando está mal, então guardei tudo para mim.

- Tem estado com o Paulo Bernardo e o Duk, ex-colegas que estão também a jogar na Escócia?

Não costumo estar com ele, mas falamos muitas vezes. Mais com o Duk do que com o Paulo. Eu e o Duk falamos todas as semanas.

O cântico dos adeptos do Hibernian para Jair Tavares: