4 abril 2025, 00:00
Eusébio e Cristiano Ronaldo homenageados hoje na capa do L'Équipe
Astros portugueses foram destacados pelo jornal francês na celebração do 70.º aniversário da criação da Taça dos Clubes Campeões Europeus
No final de 1954, um jogo entre o campeão inglês e o húngaro fez um jornalista lançar a ideia que outros companheiros no L'Équipe abraçaram; Meses depois, a prova arrancou mesmo já com o apoio da UEFA; Cristiano Ronaldo à cabeça dos portugueses inscritos na história da prova
«Servir o desporto significa, em primeiro lugar, servir a nossa própria causa. Todas as iniciativas promovidas pelo L’Equipe têm o mesmo objetivo: ajudar-nos a vender o jornal.»
Se é um romântico do futebol, talvez este texto não seja para si. Se acredita que aquela que é considerada a mais importante prova de clubes do mundo nasceu assente nos valores mais puros do desportivismo, talvez seja melhor pensar duas vezes.
A frase que abre estas linhas foi dita por Jacques Goddet, fundador e diretor do jornal francês, considerado um dos pais da ideia da criação da primeira competição europeia de clubes.
Sim, é verdade: a competição foi idealizada pelo L’Équipe com um propósito comercial: ter matéria sobre a qual escrever a meio da semana para vender mais jornais. De resto, a fórmula não era nova. Em 1903, a mesma publicação tinha inventado a roda - ou melhor, o Tour - com o objetivo de vender mais jornais no verão.
4 abril 2025, 00:00
Astros portugueses foram destacados pelo jornal francês na celebração do 70.º aniversário da criação da Taça dos Clubes Campeões Europeus
Claro que a ideia de uma competição que juntasse clubes de países diferentes já pairava no ar, como se percebia no final de 1954.
A 13 de dezembro desse ano, realizou-se um jogo particular entre o campeão inglês, o Wolverhampton, e o húngaro, o Budapest Honved, que os Wolves venceram no seu estádio, por 3-2.
Gabriel Hanot, repórter do L’Équipe enviado para o jogo, ao ler nos jornais ingleses do dia seguinte e perceber que os responsáveis do Wolverhampton se consideravam campeões do mundo por terem saído vencedores da partida, escreveu um texto que pode ser considerada a primeira pedra da Liga dos Campeões.
«A ideia de criar um campeonato do mundo, ou pelo menos um europeu de clubes maior, mais expressivo e menos episódico do que a rota da Europa central valeria a pena ser lançada», escreveu, dando mote para que a ideia começasse a ser discutida, primeiro internamente no jornal, e depois com responsáveis do futebol.
Nesse sentido, a proposta da criação da Taça da Europa de clubes foi apresentada nos dias 2 e 3 de abril de 1955, numa reunião na qual estavam presentes personalidades como o selecionador da Hungria, Gusztav Sebes, um vice-presidente da Associação Francesa de Clubes, Ernest Bédrignans, além de Santiago Bernabéu e Raimundo Saporta, dirigentes do Real Madrid.
A proposta final foi publicada no dia seguinte no L’Équipe: um participante por cada um dos 16 países, jogos em casa e fora a meio da semana e à noite e a ideia de procurar uma televisão internacional que pagasse para transmitir as partidas.
O regulamento foi escrito à mão por Jacques Ferran, jornalista que na altura tinha 34 anos - doou esse manuscrito à UEFA, que o terá perdido - e no dia 4 de abril o L’Équipe titulou: «A Taça Europeia de Clubes nasceu envolta em alegria».
Tendo em conta que ficou definido que seria uma competição aberta, na qual entrariam os clubes campeões a cada ano, ficou estipulado que não fazia sentido serem os países fundadores a financiar a prova, sendo que o jornal também não tinha condições para o fazer.
O responsável dos clubes franceses foi nomeado presidente do comité executivo, destituído quando a UEFA decidiu entrar em campo, ainda que só após a pressão da FIFA tenha assumido definitivamente a liderança das operações para tornar realidade a competição sonhada pelos jornalistas do L’Équipe.
A competição arrancaria na época 1955/56, com 16 equipas convidadas, sete das quais campeãs, tendo o Sporting sido o primeiro clube português a participar e a equipa a marcar o primeiro golo da competição, por João Martins. Os leões foram eliminados logo na 1.ª fase pelos sérvios do Partizan, depois de empatarem em casa (3-3) e perderem fora (5-2).
O Real Madrid conquistou essa edição – conquistaria as cinco primeiras – ao bater o Stade Reims por 4-3 na final.
Em 1960/61, o Benfica conseguiu terminar com o domínio dos merengues, sagrando-se bicampeão europeu no ano seguinte.
O FC Porto conquistou a prova também duas vezes, a primeira na época 1986/87, e a segunda em 2003/04, já com a denominação atual, Liga dos Campeões.
No que diz respeito aos melhores da história da competição, o Real Madrid é o clube com mais presenças (55) – seguido do Benfica e Bayern Munique (41) – e é também aquele que conquistou mais títulos (15), mais do dobro do segundo, o Milan que ganhou sete vezes.
Cristiano Ronaldo lidera três dados estatísticos da Liga dos Campeões: mais jogos (183), mais golos (140) e mais minutos (15.917).