Talvez Adán mereça confiança
Antonio Adán, guarda-redes do Sporting, tem 36 anos. MIGUEL NUNES/ASF

Talvez Adán mereça confiança

OPINIÃO28.02.202410:00

É um facto que Adán não tem vindo a melhorar, mas não há paciência para as ‘redes sociais’

Provavelmente Rúben Amorim tem uma decisão tomada e dorme bem por estes dias, pelo menos no que respeita ao guarda-redes que fará subir ao relvado de Alvalade esta quinta-feira, diante do Benfica.

Talvez durma menos bem a pensar como travar uma trajetória ligeiramente descendente iniciada frente ao Young Boys e prosseguida em Vila do Conde, que resultou num apuramento europeu, é certo, mas também em duas partidas sem as vitórias a que a equipa já se vinha habituando. Mas isso são outros temas, e como sabemos as próximas semanas trarão respostas bastante robustas a Rúben Amorim, como a Roger Schmidt, Sérgio Conceição e Artur Jorge. As lutas estão acesas e quase tudo em aberto.

Voltemos à baliza leonina: Franco Israel tem sido titular nos jogos da Taça de Portugal. Deve o treinador manter a aposta, mesmo correndo riscos de a saída de Antonio Adán ser encarada como punição pelo jogo menos conseguido diante do Rio Ave?

Em 2021/2022 o titular da Taça também foi João Virgínia, mas apenas até às meias-finais, altura em que o então idolatrado Adán retomou o posto, frente ao FC Porto.

É factual que o guardião espanhol tem cometido progressivamente mais erros desde que chegou a Alvalade.

De memória, no ano do regresso do Sporting ao título nacional, Adán defendeu quase tudo o que pôde, tendo facilitado ligeiramente em Famalicão, num golo sofrido de livre, e frente à B SAD em casa, quando tentou sair a jogar (como lhe é indicado) e falhou uma finta, lance que resultou em golo adversário.

Os anos seguintes, com efeito, não foram iguais, mas mesmo assim há fortes lembranças de jogos em que o guarda-redes salvou a equipa de alguns males maiores.

A questão da confiança é fundamental. A autoconfiança, antes de mais (e essa não parece faltar a Adán, que várias vezes já respondeu com classe e trabalho a percalços sofridos), a confiança do treinador, a confiança da defesa e a confiança dos adeptos.

Esta, claro está, é a mais difícil de manter. Nos tempos de pensamento imediato que vivemos, qual fast food for thought, essa entidade a que convencionámos chamar redes sociais - quase como se elas se autoalimentassem e não houvesse pessoas por detrás dos comentários (bom, sabemos que por vezes não há mesmo, mas essa também é outra conversa) - incendiaram-se (parece que é assim que se diz) depois do jogo de Vila do Conde. De repente, a gratidão pela época de 2020/2021, mágica para os leões, transformou-se no típico «vai-te embora», «o teu tempo acabou» e mimos afins.

Apostaria dobrado contra singelo em como Adán confia em si próprio e os companheiros continuam a confiar nele. A questão-chave está, como sempre acaba por estar, em saber o que pensa e sente Rúben Amorim sobre o assunto.

Não sou treinador, nem conseguiria sê-lo, mas aqui desta bancada confesso que colocaria o espanhol em campo.