Só pode haver um Boavista
Não se sabe quantos ‘Boavistas’ vão competir nos distritais e qual deles manterá a identidade de um clube que no início deste século quebrou com a hegemonia dos três grandes e sagrou-se campeão nacional. Com todo o mérito, de resto. Tinha um plantel recheado de nomes que se tornariam referências também nos grandes (Ricardo, Pedro Emanuel, Sánchez, Rui Bento, Petit), sem esquecer Litos, que fez carreira no Málaga, e outros futebolistas que tiveram impacto na conquista, como Rui Óscar, Quevedo, Frechaut, Jorge Couto, Martelinho, Duda, Whelliton ou Elpídio Silva. Corriam mais que os outros e tinham na liderança um treinador excecional, Jaime Pacheco, que merecia mais reconhecimento e carinho por cá.
Tive o gosto de acompanhar o antes, durante e o depois desta incrível façanha de um clube que nas suas vitrinas exibe ainda cinco Taças de Portugal e três Supertaças. Não é brincadeira. Foram cinco anos muito feliz da minha vida profissional. Voltando ao tema, e não contornando a ironia de ser o Marco 09, um clube corajosamente fundado em 2009 dos escombros de um FC Marco que entrou em falência, a ocupar o lugar dos axadrezados na Liga 3, o Boavista que a maioria dos sócios parece preferir não é aquele que AF Porto recebeu de braços abertos na sua competição mais importante, a Liga Pro, porque se trata, na realidade, do Boavista SAD, uma empresa insolvente, tal como o clube, de resto.
Unidos nesta adversidade, clube e SAD podem seguir caminhos diferentes, com o Boavista clube a começar no escalão na 1.ª Divisão, três níveis abaixo. Fazer um reset pode não ser uma má ideia, mas como será feito, mantendo o emblema, o estádio e a história – o maior património de todos – é um desafio que o presidente eleito, Garrido Pereira, terá de explicar na próxima Assembleia Geral, marcada para o próximo sábado. O presidente já garantiu ter um plano de recuperação que visa construir um novo caminho com autonomia, salvaguardando o futebol e as modalidades.
Além disso, assegurou ter parceiros nacionais e internacionais como suporte, bem como a compreensão dos credores. Apesar de ser um cenário difícil de descortinar, há uma certeza: o Boavista não vai morrer. Não pode morrer porque os seus adeptos, nos bons e maus momentos, nas alegrias e deceções, e apesar das boas e más decisões de quem administrou clube e SAD, sempre estiveram presentes. Esta paixão não se explica – sente-se. O Boavista, tal como o Salgueiros que procura reerguer-se e já conseguiu recuperar o seu símbolo e nome originais, representa não apenas a paixão pelo futebol, mas também a resiliência e o espírito comunitário que caracterizam o Porto. Dito isto: Boavista há só um. Escolham o verdadeiro.