Rui Costa à altura do SLB

Rui Costa à altura do SLB

OPINIÃO21.11.202309:22

Frederico Varandas deve rever a estratégia de comunicação e fazer um esforço para enfatizar o que tem dentro de casa sem comparações inúteis

O Benfica lidera a classificação da Liga e foi importante Rui Costa dizer que nada aconteceria a Roger Schmidt se o resultado do dérbi fosse outro. Uma declaração forte e tradutora de absoluta confiança no treinador, dita na inauguração da Casa de Santarém, geração 2.0, seja o que for, este domingo, tal como faziam outros grandes presidentes no passado, na salvaguarda da identidade do clube. No período do intrépido Pal Csernai, na década de oitenta, por mil vezes foi perguntado a Fernando Martins quando despedia o húngaro e por mil vezes ele respondeu que não era tradição do Benfica despedir treinadores.

Não o despediu e nessa época, apesar de truculenta, o Benfica conquistou a Taça de Portugal (3-1 ao FC Porto na final de 1985). Se o mérito foi do treinador ou dos jogadores é um segredo de cabina, que o meu camarada José Manuel Delgado conhece por dentro. Faz parte dos mistérios do futebol.

Também agora, quarenta anos depois, seguindo a mesma linhagem, Rui Costa apela à união, principalmente nos momentos difíceis. Se administração e direção acreditam no projecto, a família benfiquista tem de acreditar também, porque, tal como na época passada, sublinhou, é preciso «contar com o apoio de todos os benfiquistas» e «em todos os momentos».

O presidente do Benfica foi criticado por ter apresentado como um dos seus objetivos a recuperação do estatuto de grande clube europeu, detido durante três dezenas de anos no século passado, até 1990, em concreto, ano da última final dos Campeões Europeus, em Viena.

Rui Costa acredita na viabilidade dessa pretensão, ele próprio campeão europeu, mas precisa do tempo que em Portugal não existe. Por feliz coincidência, e na defesa deste princípio, escreveu o jornalista Luís Mateus na sua coluna de opinião em A BOLA, edição de ontem, página 31:

«Schmidt ainda há dias festejava no Marquês (…), afinal não percebe nada disto. São folgas a mais. É preciso meter criativos. Ou, se calhar, melhor que sejam menos. Pressionar mais, ou se calhar, não pressionar de todo. Despedi-lo, sim, definitivamente.»

É o adepto no futebol luso no seu melhor, digo eu, mas «se Ferguson tivesse treinado por cá seria um David Moyes, Klopp estaria arruinado após a primeira implosão e o gegenpressing seria, na melhor das hipóteses, um vinho de mesa», contrapõe Luís Mateus, e tem razão.

Aplaudo o entusiasmo de Rui Costa na defesa do seu projeto, com Roger Schmidt, e a convicção com que abordou o tema, mas desaprovo o discurso de Frederico Varandas na cerimónia Rugidos do Leão, uma festa de família, para premiar atletas, funcionários e amigos, em que, de modo inoportuno e desajeitado, o presidente leonino colocou o acento tónico em reparos a emblemas rivais em vez de se focar no essencial da cerimónia e depois derivar para onde muito bem entendesse. Não o critico, mas creio que deve rever a estratégia de comunicação e, futuramente, fazer um esforço para enfatizar o que tem dentro de casa sem necessidade de comparações inúteis com clubes rivais…

Villas-Boas, o agitador

Além de uns empurrões, nada de mais se passou na assembleia do dragão que não nos habituássemos a ver ao longo dos anos de vida profissional. A diferença é que naqueles tempos cenas como estas, e mais feias, aconteciam em circuitos fechados. Hoje, com os telemóveis e as chamadas redes sociais, é tudo em direto, sem filtros.

Como seria de esperar, o Conselho Superior retirou a proposta da alteração de estatutos, com a qual o presidente Pinto da Costa disse não concordar. A época continua o seu curso, esperando-se agora pela assembleia do próximo dia 29, em que os sócios irão pronunciar-se sobre a débil situação financeira do clube.

Alguma razão haveria para o Conselho Superior ter proposto mudar as assembleias eleitorais de abril para junho, mas estando Pinto da Costa determinado em candidatar-se a outro mandato, quanto mais depressa for reeleito melhor para ele, e também para os que esperam suceder-lhe não ficarem com varizes, numa alusão a André Villas-Boas, por ora apenas agitador porque, objetivamente, oposição são José Fernando Rio (26,66% de votos nas eleições de 2020) e Nuno Lobo (4,91%).

Não acredito que Villas-Boas ouse enfrentar Pinto da Costa, cara a cara. Quando tiver todas as equipas montadas, «um programa eleitoral digno como merece uma instituição como o FC Porto», então apresentar-se-á, afirmou, à margem da Web Summit, em Lisboa, sem se comprometer com prazos. Não tendo a certeza de ser o preferido dos sócios do dragão, sabe, porém, que quando Pinto da Costa abdicar outros atores serão convidados a subir ao palco.

Nota - Pedro Proença foi nomeado para a presidência da Associação de Ligas Europeias de Futebol, a ratificar na assembleia geral do próximo dia 30. Uma excelente notícia para a imagem do futebol português e mais uma dor de cabeça para eventuais interessados ao lugar de Fernando Gomes na FPF.

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