Morten Hjulmand e Viktor Guokeres posam, no Estádio José Alvalade, com o troféu de campeão nacional conquistado pelo Sporting em 2024/25
Hjulmand, capitão leonino, seduz a Juventus, enquanto a 'novela' Gyokeres parece não ter fim

Quem ganha com as novelas no Sporting?

Verde à Vista é o espaço de opinião semanal de Carmen Garcia, enfermeira, sportinguista, autora do blogue 'Mãe Imperfeita'

Há uns dias, o meu filho mais novo perguntou-me qual era o meu jogador favorito no Sporting. E eu, sem hesitar, respondi-lhe «o Hjulmand». Ele, talvez surpreendido com a resposta, tentou perceber a dimensão do meu amor pelo médio dinamarquês: «Gostas mais do Hjulmand do que gostavas do Pedro Barbosa quando eras da minha idade?». E foi aí que me senti obrigada a explicar-lhe que, no futebol como na vida, existem diferentes tipos de amor — mesmo no que a jogadores diz respeito.

Reparem, eu gosto sempre de todos os jogadores do SportingRicardo Esgaio incluído —, mais que não seja porque me é emocionalmente impossível compatibilizar algum tipo de embirração com quem escolhe vestir e defender a verde e branca às riscas.

Mas há sempre aqueles jogadores que acabam por nos ganhar o coração de uma forma especial. E o meu coração, desde há duas épocas, está conquistado pelo nosso capitão.

Hjulmand, convenhamos, não tem o perfil típico de um jogador de futebol. Não sei se tiveram a oportunidade de ver o um dia com que foi gravado com ele, mas, se não tiveram e são sportinguistas, façam um favor a vocês mesmos e vão ao YouTube espreitar.

Depois de assistirem ao episódio, vão seguramente perceber o que quero dizer quando falo nesta coisa do perfil, especialmente no que toca ao homem para lá do jogador. Porque se ele já me tinha ganhado dentro das quatro linhas, com o que vimos no referido episódio passou a ganhar-me também fora delas.

Hjulmand é extremamente inteligente. E se já o sabíamos futebolisticamente falando — todos reconhecemos a sua cultura táctica com e sem bola —, ficámos a perceber que esta inteligência se estende também à parte pessoal da sua vida. Além disso, digam o que disserem, é difícil não nos surpreendermos e orgulharmos pelo seu português extraordinariamente fluente — especialmente se considerarmos o pouco tempo que leva em Portugal.

Hjulmand tem, quanto a mim, tudo o que um jogador do Sporting deve ter para ser grande. O médio dinamarquês é forte física e psicologicamente, resistente e com uma garra que não verga durante os noventa minutos de jogo. Disciplinado tacticamente, lê os jogos como ninguém e injecta oxigénio no nosso meio-campo como se de um verdadeiro pulmão se tratasse. É um pilar de coesão em campo e fora dele e, por isso, naturalmente, chegou à posição de capitão.

Então não, não nego que as notícias da sua eventual saída para a Juventus caíram directamente como pedras (pesadas) no meu estômago e que me agarrei a todas as fontes credíveis com desespero à espera de perceber se estávamos perante especulação ou se havia nesta história alguma veracidade.

Neste momento, com a informação de que dispomos, parece-me que, por esta época, ainda posso — eu e mais uns quantos milhões de sportinguistas — dormir descansada. O Sporting não está disponível para ouvir propostas muito abaixo do valor da cláusula (80 milhões) e o jogador refere estar feliz em Alvalade. Creio, embora gostasse muito que o Sporting quebrasse o silêncio e colocasse um ponto final em todas as especulações, que não vamos ter com Hjulmand uma novela semelhante à que temos vindo a assistir com Gyokeres e que já dura mais do que o Anjo Selvagem que, para quem não se lembra, foi uma novela da TVI que, a determinado momento, pareceu interminável.

Agora, e sem querer entrar no campo das teorias da conspiração, parece-me que há muita gente feliz e, inclusivamente, comprometida com a promoção destas novelas, reais ou inventadas, construídas à volta de supostas saídas de jogadores do Sporting.

Imagino, é claro, que a equipa bicampeã nacional incomode muitos abutres, mas creio que também é tempo de o Sporting dar um murro na mesa e informar que não existe nenhum animal moribundo no chão pelo que o bando de necrófagos fará melhor figura se voltar a esconder-se no ninho. O clube, até para conforto dos sócios e adeptos, faria bem se viesse desmentir taxativamente estes rumores porque, como bem sabemos, quem tem a ganhar com a nossa instabilidade não hesitará em manter esta linha se perceber que daqui advêm resultados. E se continuarmos nesta senda, estamos prestes a ler por todo o lado que Francisco Trincão disse que sim a Amorim e está a caminho do Man. United ou que Gonçalo Inácio é a nova contratação do Atlético de Madrid. E, juro-vos, não há coração leonino que aguente estes golpes de forma constante.

A lógica, bem sei, diz-nos para não acreditar em nada que não venha de fontes oficiais do clube. Mas as paixões clubísticas, já aqui o referi, não se compadecem com a racionalidade e, como tal, nós até sabemos que não devemos acreditar, mas não conseguimos evitar ficar com uma pulga incómoda instalada atrás da orelha. E com isso perdemos nós e ganham outros, sejam agentes, empresários ou clubes rivais.

Espero, e cada vez mais assim parece, que as notícias sobre a saída de Hjulmand esta época sejam mesmo fumo sem fogo. Mas as minhas coronárias agradecem se alguém da comunicação do Sporting fizer o obséquio de nos dar esta certeza antes que comecemos todos a entupir as salas de hemodinâmica deste país — é que nós temos fé e acreditamos no colectivo, mas perder Gyokeres e Hjulmand de uma assentada é coisa para nos poder fazer enfartar.

Não conheço o dia de amanhã e, por isso, não sei se algum dia vou mesmo poder dizer ao meu filho João que gosto de Hjulmand tanto ou mais do que gostei de Pedro Barbosa quando era só uma miúda que via os jogos com o pai.

Mas sei que se o médio continuar connosco, estou claramente no bom caminho para que isso aconteça.

No pódio

Pela primeira vez na história, Portugal chegou aos quartos de final do campeonato do mundo sub-19 feminino de basquetebol, terminando a sua participação com um honroso sétimo lugar após vencer, no domingo, a selecção da Hungria. A equipa portuguesa demonstrou uma enorme qualidade e ambição sendo, neste momento, a terceira melhor selecção a nível europeu. Além da força colectiva, esta competição serviu ainda para destacar o talento da basquetebolista portuguesa Clara Silva, que entrou para o livro de recordes da Federação Internacional de Basquetebol depois de conseguir 37 pontos, em 20 lançamentos, no jogo contra Israel.

Na Bancada

Luís Filipe Vieira disparou em todas as direcções na entrevista que deu ao jornal Correio da Manhã, mas ainda sem confirmar a sua candidatura à presidência do Benfica. Elogiando os seus mandatos enquanto presidente, colou-se ao papel de D. Sebastião como se fosse o único que, chegando numa manhã de nevoeiro, pudesse voltar a colocar o Benfica numa senda vitoriosa. Curiosamente (ou talvez não), desvalorizou em absoluto os seus problemas judiciais bem como o processo de inquérito que lhe foi instaurado depois de ter agarrado um sócio do Benfica pelo pescoço em plena Assembleia Geral do clube. Teremos mais do mesmo a caminho?

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