Roberto Martínez dá indicações a Ronaldo no jogo com a Alemanha, para a Liga das Nações
«Roberto Martínez não conseguiu criar uma identidade na nossa forma de jogar» - Foto: IMAGO

Portugal–Espanha: que seja um grande jogo

Mercado de Valores é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo futebolista e atual economista e comentador desportivo

Este domingo temos a oportunidade de vencer mais uma edição da Liga das Nações. Pela frente teremos uma Espanha igual a si mesma, que tem uma identidade bem definida, com jogadores com enorme compromisso, que se diverte a jogar e que está sempre de olhos na baliza adversária, mesmo quando está em vantagem no marcador.

Já do nosso lado não consigo identificar que Portugal vamos ter. Será que é o Portugal dos últimos 40 minutos frente à Alemanha? Ou será que iremos ter uma Seleção cheia de surpresas e de invenções promovidas por Roberto Martínez. Acima de tudo, espero um grande jogo de futebol e que no final possamos ser nós a sorrir…

Que Portugal esperar?

Ninguém tem dúvidas de que, na noite deste domingo, em Munique, estarão duas seleções com muita qualidade individual.  As exibições da nossa Seleção sob o comando de Martínez têm sido muito inconsistentes. Ao fim de dois anos e meio Roberto Martínez não conseguiu criar uma identidade na nossa forma de jogar. É por este motivo que nunca sabemos que Portugal vamos ter em cada jogo. Costuma-se dizer que no futebol o mais difícil é fazer o fácil, ou seja, simplificar o jogo. Martínez tem seguido o caminho oposto.

De tanto querer implementar uma forma de jogar diferente, com laterais por dentro a fazerem de médios, de uma forma sistemática ou com uma constante troca no sistema de jogo utilizado, ora com três centrais ora com uma linha de quatro defesas, o futebol praticado, na maior parte dos jogos, tem sido pobre. O jogo contra a Alemanha é um bom exemplo porque nos permite tirar pontos muito positivos e outros que não fazem sentido.

Para uma Seleção como Portugal não faz sentido colocar João Neves a lateral-direito quando temos dois laterais no banco de suplentes. Não só não conseguimos potenciar toda a qualidade que João Neves pode dar à equipa, como ficamos com um lateral sem as rotinas ideais. Do lado positivo, com uma linha de quatro defesas, Nuno Mendes ganha uma dimensão natural (que não tem como terceiro central) e é uma mais-valia em termos ofensivos e defensivos.

Por fim, deixar Vitinha de fora numa fase em que é unanimemente considerado um dos melhores médios do mundo, com a justificação de que tem de ter um onze para o início e outro para o fim de jogo, não faz o menor sentido. Assim, esta noite, estou à espera do melhor Portugal. De uma equipa que queira jogar e ganhar o jogo, sem medo de o fazer.

Temos a capacidade para poder lutar pelo controlo da posse de bola, assim como temos a capacidade de poder aproveitar transições rápidas e chegar rapidamente a zonas de finalização. Temos argumentos e jogadores para todos os contextos do jogo. Se pudesse falar com Roberto Martínez pedia-lhe duas coisas: a primeira é que não invente e não baralhe os jogadores dentro do relvado. A segunda é que não olhe a estatutos na Seleção. Que coloque aqueles que estão no melhor momento. Aos jogadores pedia-lhes que tenham compromisso, que sejam compactos, que se divirtam dentro do relvado e que tenham a personalidade e perseverança demonstradas no jogo com a Alemanha

Espanha alegre

A Espanha é uma equipa fácil de identificar e difícil de parar. Tem um ADN muito bem definido e do qual nunca abdica. Na seleção espanhola não existem estatutos ou experiência. O principal critério é a qualidade que os jogadores apresentam. Todos têm compromisso. Todos sofrem nos momentos de maior aperto e todos crescem nos momentos de controlo do jogo. Têm sempre os olhos postos na baliza adversária e jogam o jogo pelo jogo.

A principal característica da seleção espanhola é conseguir controlar o jogo em posse e chegar a zonas de finalização com muita frequência. A única dúvida no onze poderá ser a utilização de Fabián Ruiz, que dará maior consistência ao meio-campo espanhol, ou a titularidade de Merino, que tem uma grande capacidade de jogar entre linhas e de aparecer a finalizar na área adversária. Com Merino, a Espanha perde algum controlo no jogo, mas torna-se mais agressiva em termos ofensivos.

Pela forma como se expõe em campo, a seleção espanhola também dá espaço aos adversários e permite, com frequência, que os jogos sejam abertos e bem disputados, como foi o exemplo do embate frente à França. Por norma, os jogos em que a seleção espanhola está presente são grandes desafios de futebol. Espero que hoje possamos presenciar mais um grande jogo de futebol, com magia, com qualidade, com fair-play, com agressividade e que no fim ganhe Portugal!

Duelos muito interessantes

Entre os muitos duelos que vamos ter oportunidade de assistir, Nuno Mendes vs Yamal pode ser um duelo épico. Vão estar frente a frente o melhor lateral-esquerdo e o melhor ala do mundo. Na minha opinião Yamal, com apenas 17 anos, já é o melhor jogador do mundo. Incrível a qualidade que demonstra semana após semana. A forma como desliza perante adversários de enorme qualidade, a capacidade de decisão, a definição no último terço e a personalidade que tem fazem com que Yamal consiga desequilibrar em praticamente todos os jogos em que está presente.

Este domingo vai encontrar pela frente Nuno Mendes que considero ser o melhor lateral-esquerdo da atualidade. Forte no um contra um defensivo e com uma enorme capacidade de desequilibrar em termos ofensivos. Estou curioso para perceber se Nuno Mendes, por um lado, vai conseguir controlar o talento de Yamal e se, por outro, terá ainda capacidade para desequilibrar ofensivamente, como costuma fazer de uma forma regular.

Outro duelo muito aguardado é o de Vitinha vs Pedri, isto se Martínez não se lembrar de guardar Vitinha para lançar na segunda parte! Tanto Pedri como Vitinha são dois jogadores que pautam os ritmos de jogo. Os dois veem coisas que os outros não veem e têm uma capacidade e velocidade de execução incríveis. Acrescentam a estas qualidades uma personalidade forte que está bem presente na forma como jogam. Tanto um como o outro estão num grande momento de forma e vêm ambos de uma época fantástica e de uma enorme preponderância nas suas equipas. 

A valorizar: Antunes

Aos 38 anos, terminou a carreira no clube do coração (P. Ferreira), depois de uma época desgastante. Teve um belo trajeto pautado por um enorme profissionalismo.

A valorizar: Bruno Fernandes

O dinheiro ainda não consegue comprar tudo. A paixão pelo futebol sobrepôs-se aos cifrões!