Paulo Fonseca não é arruaceiro!

OPINIÃO09.03.202509:25

Treinador aplicado a treinador português é (demasiado) pesado para quem sempre teve uma postura respeitosa no futebol. Perdeu as estribeiras, sim, mas não agrediu (fisicamente) ninguém. In(justiça) suprema!

Quem nunca teve um assomo de fúria na vida que atire a primeira pedra. Paulo Fonseca teve uma atitude evitável para um profissional de futebol, é uma verdade insofismável, mas não agrediu fisicamente o árbitro Benoit Millot e tenho muitas dúvidas que, sequer, lhe tenha tocado quando berrou junto à sua face. A Comissão Disciplinar da Ligue 1 foi lesta a aplicar um castigo exemplar ao treinador do Lyon, querendo dessa forma enviar uma mensagem aos agentes do futebol para que atitudes destas não se repitam no futuro. Paulo Fonseca sente-se como uma espécie de bode expiatório em terras gaulesas. Assumiu publicamente o erro, pediu desculpa ao juiz da partida, aos adeptos do futebol e fez o mea culpa pela conduta antidesportiva que lhe custou caro.

Apesar da sanção aplicada em tempo recorde ser passível de recurso — o que irá fazer o técnico, auxiliado com o departamento jurídico do Lyon — a moldura penal aplicada é, a meu ver, demasiado elevada para quem nunca teve um comportamento indigno no passado, antes pelo contrário.

Conheço Paulo Fonseca há vários anos, desde que um dia, no então Desportivo das Aves, aceitou receber menos para que os seus adjuntos auferissem o ordenado mais elevado, mas sobretudo dos tempos em que brilhou no Paços de Ferreira, conseguindo um inédito terceiro lugar que permitiu ao modesto clube da Capital do Móvel entrar num play-off da Champions, onde viria a ser derrotado pelos russos do Zenit.

Sou amigo do treinador e isso não me tolde as ideias, nem me faz passar por borracha pelo seu comportamento no decorrer do jogo frente ao Brest, mas, muito honestamente, acho um exagero desmedido privá-lo nove meses — quase uma época inteira — de se sentar no banco e comandar os seus homens.

Quem conhece minimamente a pessoa, desconhece o coração de ouro que tem, as pessoas que ajuda sem se colocar no pedestal para ter os holofotes direcionados para si. Tanto assim é que o próprio Lyon não deixou cair o seu treinador, pois sabe da sua competência e dos seus valores morais, a despeito de ter tido um dia não na sua vida profissional. John Textor, dono do Lyon, não podia ser mais lapidar, ao sair em defesa do português, garantindo que é o homem certo para o banco do emblema gaulês.

O mundo do futebol ficou atónico com o que se passou em França, mas a forma rápida como antigos jogadores vieram a terreiro defender Paulo Fonseca diz bem do seu caráter e como é visto nos meandros futebolísticos. Reitero que a abordagem que teve com o árbitro Benoit Millot não foi bonita e era perfeitamente evitável, mas nove meses é muito penalizador para quem sempre foi um sempre um gentleman. E não queiram passar de Paulo Fonseca a imagem de um arruaceiro. Isso não é justo e muito menos verdade.

Por último, um lamento: por que razão algumas instâncias portuguesas não saíram em defesa de Paulo Fonseca em termos oficiais. Num momento difícil, o associado Paulo Fonseca não merecia um comunicado da Associação Nacional de Treinadores de Futebol?

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