O zigue-zague de Tomás Araújo
Tomás Araújo, no Benfica, vive no impasse entre jogar e recuperar bem. É possível jogar com pubalgia? Sim — mas não convém arrastar o problema
Para além de uma grande carreira, o que têm em comum jogadores como Aimar, Wayne Rooney, Fernando Torres, Kaká, Richarlison ou David Beckham? Pubalgia. A lesão que afeta a região púbica e a parte inferior do abdómen.
É neste impasse entre jogar e recuperar bem que se encontra Tomás Araújo. No início do ano houve quem o comparasse a Franz Beckenbauer, mas após alguns jogos e uma mudança de posição em campo, percebeu-se que Tomás Araújo não era o mesmo jogador do início da época. É possível continuar a jogar com pubalgia? Sim, é. Temos o exemplo dos jogadores mencionados acima. Mas não convém arrastar um problema.
Num conjunto de estudos e ensaios controlados/aleatorizados, o Copenhagen Adduction associou-se a uma redução de 41% na prevalência e no risco de problemas no contexto da síndrome pubálgica em jogadores de futebol masculino.
O futebol é um desporto extremamente complexo a nível tático e técnico. No entanto, a componente física é um fator muito relevante. As necessidades do jogo, normalmente, exigem que na sua grande maioria seja realizado a baixa intensidade. No entanto, é influenciado por esforços explosivos e de alta intensidade.
O consenso de Doha veio ajudar a uniformizar esta síndrome patológica, definindo quatro possíveis estruturas que originam os sintomas, até então genericamente definidos por pubalgia: adutor, iliopsoas (músculo psoas-ilíaco), inguinal e púbica foram as estruturas definidas. O adutor representa cerca de dois terços de todos os casos de pubalgia, sendo o mais comum e com melhor prognóstico. Este quadro clínico faz com que a área da medicina desportiva não tenha a real ideia da extensão deste problema, uma vez que a grande maioria dos estudos epidemiológicos recorrem ao diagnóstico de lesão por «tempo perdido por lesão» (time-loss) e nesta condição é possível jogar uma carreira por completo, apenas gerindo cargas externas e realizando tratamento.
Os tempos mudaram. Hoje, os jogadores falam menos, ou praticamente nada. Interagem pouco. E quando tentam interagir, não podem. Para ser diferenciada, a pessoa não pode apenas fazer o seu trabalho bem feito, ser campeão ou ser o melhor. Precisa ser espetacular dentro do seu ofício e maior ainda fora dele. Mas ainda não ouvimos o Tomás. Nem sabemos se prefere jogar a central ou a lateral direito. Ou outra posição que hão de inventar.