O custo do ‘reset’ do Benfica
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OPINIÃO O custo do ‘reset’ do Benfica

OPINIÃO21.04.202410:00

Rui Costa terá sempre de investir: ou na ideia de Schmidt, ou numa nova identidade

Entre Famalicão e Marselha, a última semana definiu o presente do Benfica e deixou bases para que a SAD liderada por Rui Costa possa clarificar aquilo que quer para o futuro imediato. Ninguém esperava que Roger Schmidt conseguisse agora, num estalar de dedos, resolver problemas que se arrastam há demasiado tempo, mas chegar mais além na Liga Europa podia garantir ao técnico alemão a continuidade na Luz. Só que dois dias depois de uma vitória sportinguista que arrumou a esperança encarnada na revalidação do título nacional, o Benfica despediu-se da Liga Europa frente um adversário claramente inferior.

O jogo de Marselha reforçou dúvidas quanto à capacidade de Schmidt reconquistar a confiança dos adeptos. Sem grande surpresa, o técnico alemão decidiu recuperar a fórmula que tinha dado o apuramento em Glasgow: prescindir da pressão alta para ter um bloco defensivo mais compacto, fixado logo depois da linha do meio-campo, e esperar que a qualidade individual de Di María, Neres e Rafa alimentasse a produção ofensiva. Mais do que a falta de ambição, a eliminação puniu a má preparação estratégica. A coesão defensiva de pouco serve quando a equipa revela uma tremenda incapacidade para construir jogo. Até o futebol direto requer trabalho, e apesar da disponibilidade para resistir à pressão do Marselha e trocar a bola em zona recuada, o Benfica não conseguiu disfarçar a falta de dinâmicas ofensivas e encontrar os espaços para chegar à baliza contrária de forma sustentada.

Também não ajuda insistir num avançado só porque pressiona mais do que os outros, mas os pecados na gestão do plantel são muito mais abrangentes, e bem patentes na gestão das substituições, uma vez mais. Schmidt não percebeu quem devia sair e renunciou a alternativas como Tiago Gouveia, perante um adversário claramente diminuído fisicamente.

Entre a abordagem ao jogo, a gestão do mesmo e até a análise posterior, Schmidt voltou a evidenciar pouco jogo de cintura, e esse é o sinal mais preocupante para o futuro do Benfica. É inegável o mérito do técnico alemão na conquista do título 2022/23, e do impacto imediato que conseguiu, mas também evidente a dificuldade para recuperar a sua fórmula, à medida que foi perdendo recursos que tão bem a assimilaram, sobretudo no que diz respeito à pressão alta que a sustenta. É claro que o treinador não pode assumir toda a responsabilidade pelo fracasso de 2023/24, mas Schmidt não tem mostrado capacidade para fazer reset. Não sendo expectável que o alemão renuncie à filosofia que o tem acompanhado ao longo da carreira, a SAD terá de pensar se compensa mais tentar investir em jogadores que encaixem melhor na ideia do treinador ou gastar dinheiro em alguém que traga uma nova identidade. Se bem que os nomes apresentados pelo mercado podem inibir mais a mudança do que propriamente os milhões de euros a aplicar.

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