Vitória perdeu em Alvalade — em dia de festa para o Sporting —  e não se apurou para as competições europeias
Vitória perdeu em Alvalade — em dia de festa para o Sporting — e não se apurou para as competições europeias (Foto: Imago)

Nós não merecíamos isto

OPINIÃO20.05.202508:00

'Sentido de pertença' é o espaço de opinião quinzenal de André Coelho Lima, jurista, empresário e associado do Vitória SC

1 O Vitória falhou o seu objetivo. A quarta qualificação europeia consecutiva era o grande objetivo desta época; não o conseguir, é falhar nos objetivos que definimos. E dizê-lo com esta objetividade é preciso para podermos depois tirar conclusões.

E a primeira dessas conclusões é a menos relevante porque a mais imediatista: não foi em Alvalade nem na última jornada que o Vitória falhou o apuramento europeu, aproveitando para felicitar o Sporting pela conquista do seu título. No meu último texto nesta coluna escrevi: «Na próxima jornada, em Guimarães, estaremos a disputar o acesso às competições europeias. No jogo contra o Farense a vitória bastará para assegurar o 5.º lugar e a qualificação europeia.» E era verdade. Bastava termos feito o que nos competia, bastava termos cumprido o nosso papel, e não teríamos lágrimas para verter. Tivemos o nosso futuro nas nossas mãos, não o soubemos agarrar, outros o fizeram e estão hoje a festejar. Cumpre dar os parabéns sinceros ao Santa Clara, que lutou toda a época por um objetivo que, mesmo no último suspiro do campeonato, acabou por alcançar. O Vitória, que esteve 8 pontos atrás do Santa Clara, recuperou paulatinamente vencendo 5 jogos em 7 jornadas (exceção foi o empate em Moreira de Cónegos e a derrota com o Benfica), fez uma recuperação absolutamente fantástica até chegar à penúltima jornada com três pontos de avanço sobre o seu adversário — aí deitámos tudo a perder. Custa muito aceitar.

2 Nós não merecíamos isto. Após três qualificações europeias consecutivas (igualando o que apenas conseguimos por uma vez, nos anos dourados de 1986/87, 1987/88 e 1988/89), propunhamo-nos atingir a quarta qualificação europeia consecutiva e, com isso, igualar o recorde de quatro qualificações que conseguimos apenas por uma vez, nos anos 90.

Não merecíamos após uma caminhada europeia absolutamente exemplar, na qual o Vitória brilhou a grande altura na Europa do futebol, passando a fase de liga em 2.º lugar, imediatamente atrás do Chelsea. O tanto que esta equipa nos fez sonhar, o tanto que nos fez regressar ao Vitória de que muitos de nós nos recordámos, não merecia não ter sequer oportunidade de poder dar sequência a um percurso magnífico.

Não merecíamos após termos conseguido encaixar €9 M na Conference League 2024/25 (€6,5 M positivos após deduzidos os custos que sempre se têm de suportar) e após a valorização exponencial dos nossos ativos que permitiu ao Vitória ter efetuado vendas históricas no mercado de janeiro. Estávamos finalmente a recuperar financeiramente do fosso em que estávamos enfiados e tínhamos na participação europeia 2025/26 uma continuidade dessa recuperação.

Não merecíamos porque esta equipa não merecia. Não merecíamos porque o Presidente e a sua Direção não mereciam. Por muito magoados e revoltados que estejamos — e estamos — penso que, sendo justos, temos de reconhecer isto. Não merecíamos porque nós, sofredores já bastante treinados que víamos já um glimpse de esperança no futuro… não merecíamos isto.

3 Mas dito isto há algo que tem de ser absolutamente claro: a dor não nos pode tirar objetividade. O caminho que temos feito tem sido percorrido no sentido certo. O caminho da honradez e responsabilidade financeira, tendo sido o acertado. O caminho da aposta forte na formação do Vitória e de contratação em divisões inferiores e em atletas tecnicistas, jovens e com potencial, tem sido o acertado. O que o Vitória continua a precisar é de estabilidade e este revés, que é um grande revés, não pode fazer sobrelevar a irracionalidade e fazer esquecer tudo o que de bom tem sido feito que, se tivéssemos ganho ao Farense, tinha resultado na mesma.

É preciso refletir, pensar e amadurecer, mas nunca voltar à estaca zero, seja em que domínios for. Há sempre coisas a acertar e a melhorar, há sempre jogadores a sair e outros a entrar, mas eu não vejo o Vitória a exibir-se como vi este ano há décadas, não vejo o Vitória respeitado por esses palcos europeus como vi este ano há décadas, e isto não foi obra do acaso nem pode ser posto em causa porque não ganhámos ao Farense. Temos progredido, a estabilidade e o equilíbrio têm sido a razão do nosso sucesso, é irracional pô-lo em causa.

4 Por último e no espírito do que venho dizendo, registemos o que importa: o Vitória foi campeão nacional de pólo aquático, pela sexta vez. O Vitória foi campeão nacional da II Divisão de futebol feminino, subindo pela primeira vez à I Divisão. O Vitória B conseguiu alcançar a subida à Liga 3, de onde nunca devia ter saído.

Tudo isto importa registar que é igualmente resultado do muito que se tem construído, do muito que temos progredido. Vamos aproveitar este inconseguimento para concluir que o projeto do Vitória tem que ser assegurar apuramento todos os anos para as competições europeias e isso deixar de ser razão de festejo. Já há muito que estávamos desabituados disso, mas, agora, habituaram-nos mal, têm de levar com o aumento das nossas expectativas… Mas, que diabo, nós não merecíamos isto!

Vídeos

shimmer
shimmer
shimmer
shimmer