Marco final em Anfield?

OPINIÃO04.12.201903:00

SETE derrotas em dez jogos. 17.º lugar na Premier, a 26 pontos do líder e apenas dois pontos acima da linha de água. Assobios dos próprios adeptos. Desconfiança da imprensa que anda há largas semanas a sugerir que o despedimento é apenas uma questão de tempo. Esta é a situação de Marco Alexandre Saraiva da Silva, 42 anos, no dia em que o Everton joga em Anfield o dérbi que poderá ser o marco decisivo na carreira do treinador português em Goodison Park. O ponto final (em caso de derrota) ou mais um fôlego, um adiamento da separação que, neste momento, parece inevitável. Anfield fica a 1,4 km de Goodison Park, mas essa é a única relação de proximidade entre as duas equipas, tão grande é o fosso que os separa na tabela e tão grande a diferença de qualidade entre o futebol que cada um tem apresentado. Para tornar a situação ainda mais difícil (e mais desafiante) para Marco, cumpre dizer que o Everton não ganha um jogo ao Liverpool há mais de nove anos! (última vitória: 17 outubro 2010), naquele que é o jejum mais prolongado de um rival na história do dérbi de Merseyside: são dezanove jogos sem que os azuis consigam bater os vermelhos, embora mais de metade deles (dez) tenham terminado empatados. Quer isto dizer que, se por um lado é muito pouco provável que o Everton consiga ganhar em Anfield, onde o Liverpool não perde para a Premier há mais de dois anos e meio (47 jogos), também não será uma grande surpresa se Marco levar um ponto de Anfield e aliviar a amargurada nação toffee. Lembre-se que para todos os efeitos o culpado matemático de o Liverpool não ter sido campeão na época passada foi o Everton, com o empate (0-0) imposto ao rival em Goodison Park à 29.ª jornada, que se viria a revelar fatal para Klopp - o City ultrapassou o Liverpool e não mais perdeu a liderança.


Tenho visto os jogos do Everton e seguido a carreira de Marco em Inglaterra e o facto de ser português não nos deve tolher o raciocínio. Esperava-se mais. O Everton tem um bom plantel e Marco (ao contrário de Villas Boas no Marselha, por exemplo) não se pode queixar da Direção do clube. É um facto que tem havido muitas lesões, mas não se pode ignorar que o Everton gastou mais de 200 milhões de euros em reforços avalizados pelo treinador português (Richarlison, Digne, Yerri Mina e André Gomes na época passada; Moise Kean, Alex Iwobi, Fabian Delph e Gbamin nesta época). A verdade é que a maior parte deles (jogadores de 30 milhões…) está muito longe de justificar o investimento.


Mas o dia de hoje na Premier não se resume ao exame de Marco em Anfield. A 55 kms de distância o Manchester reencontra o ex-treinador Mourinho em Old Trafford. «José tem o Tottenham vigoroso - será que vai voltar para assombrar o United?», perguntava na segunda-feira um cronista do Daily Mail. Ninguém sabe. Este United não assusta ninguém, mas tem gente capaz de assustar a defesa do Tottenham, que por sua vez assusta os próprios adeptos por ser uma espécie de passador. A verdade é que nem Mourinho encontrou até agora maneira de tapar aquele queijo suíço: em três jogos sofreu seis golos. A única quase certeza relativamente ao clássico de hoje é que Mourinho encontrará um Manchester mais ou menos igual ao que deixou há um ano, quando foi despedido: mediano, pouco competitivo e com um futebol tão excitante como uma hérnia discal. Mas há uma coisa que pode jogar contra ele: haverá jogadores red devils com muita vontade de lhe estragarem o dia. Com um plantel rico e variado do meio-campo para a frente, Mourinho tem tudo para fazer progredir os spurs e alcançar o top four, desde que se mantenha a irregularidade do City e do Chelsea. Se o treinador português souber tirar partido dos jogadores que tem e reforçar a defesa (já em janeiro, de preferência), o Tottenham, vice-campeão europeu em título (não esquecer), tem condições para ser a terceira equipa inglesa.