Derrota para os racistas
Maignan foi vítima de racismo em Udine. Foto: EPA/GABRIELE MENIS

Derrota para os racistas

OPINIÃO22.01.202409:30

Presidente da FIFA quer ir mais longe na luta contra o racismo. Mas até agora é pouco...

O fim de semana futebolístico ficou marcado por dois episódios de racismo, desta vez em Inglaterra e Itália. Adeptos do Sheffield Wednesday e da Udinese a fazer gestos de macaco para jogadores adversários, com as câmaras televisivas a apanhar tudo. No caso da Serie A, o guarda-redes do Milan avisou o árbitro e saiu do campo, acompanhado - e bem - pelos companheiros. O jogo acabou por ser retomado, a equipa de Milão ganhou com um golo nos descontos e o guardião recebeu muito apoio, mas o mal estava feito.

Às habituais condenações por estes atos vergonhosos e lamentáveis, juntou-se muito rapidamente o presidente da FIFA, com uma proposta dura, mas provavelmente necessária: derrota para a equipa cujos adeptos interrompam jogos por esta razão. Desta vez, felizmente, Gianni Infantino não teve de ‘sentir-se negro’ e comparar-se a Kasey Palmer e Mike Maignan (porque também o gozavam por ser ruivo e ter sardas…) para estar do lado certo.

Antes de questionarmos como seria possível executar tal ideia com justiça e precisão, talvez seja novamente altura de olharmos para o que tem sido feito. Há muitas campanhas, alguns castigos e enorme visibilidade, mas como travar uma abominação que está a crescer e a ser fomentada na sociedade e na política?

Vejamos o exemplo de Vinícius Jr. O jogador brasileiro do Real Madrid tem sido o principal rosto de denúncia do racismo no futebol e já ‘obrigou’ muitos clubes a tomarem medidas, como expulsar adeptos que o pratiquem. Mas, ainda há uns dias, Vinícius entrou no dérbi de Madrid ao som de cânticos racistas. Ou seja, a luta avançou, mas ainda está perdida.

Por cá, Marega foi o caso mais mediático dos últimos anos. Mérito do próprio, que se revoltou e quis sair do campo, em Guimarães. Como demasiadas coisas no futebol português, tudo acabou em tribunal, com castigos revoltantemente leves, recursos com alegações tão risíveis como não ser possível provar que o clube teria conhecimento atempado dos atos racistas e constatações óbvias de que, sem som no sistema de videovigilância, nada se podia… ouvir.

Por isso, antes de ser possível tirar 3 pontos a equipas com adeptos racistas, e de toda a discussão que isso vai gerar entretanto, talvez fosse melhor começar a utilizar de forma eficaz as ferramentas e leis já disponíveis (dentro e fora do campo). Sem desculpas, sem atrasos, com firmeza e determinação.

Mas claro que atacar o racismo no futebol com todos os recursos justos e necessários é só um dos passos - e nem esse está sempre a ser dado. Para que Palmer, Maignan, Vinícius, Marega e todos os outros possam entrar nos relvados e não ser vítimas deste crime, é preciso uma sociedade mais inclusiva, um mundo com menos discriminação e ódio. Educar - sim. Prevenir - sempre. Punir - claro. Para que o racismo perca em todos os campos, temos todos de fazer mais do que até agora.