De quem Rui Costa não falou
Rui Costa. Foto: ASF

De quem Rui Costa não falou

OPINIÃO11.02.202408:46

Para lá do que explicou, Rui Costa merece referência pelos nomes que evitou

Empenhado em manter a promessa de maior transparência, lançada em campanha eleitoral para marcar a diferença relativamente ao período em que seguia a liderança de Luís Filipe Vieira, Rui Costa voltou à BTV para explicar a janela de transferências do Benfica. Seria mais desafiante trocar as notas introdutórias do canal do clube e enfrentar perguntas, num contexto verdadeiramente jornalístico - que o presidente encarnado já mostrou ser capaz de enfrentar -, por exemplo para explicar melhor a aposta em David Jurásek, um perfil tão diferente de um caso de sucesso como Grimaldo, mas não deixa de ficar um relatório audiovisual para que os sócios e adeptos entendam o racional de cada ajuste do mercado de inverno. 

Relativamente às entradas de janeiro, Rui Costa não tem dúvidas do talento recrutado, e o crédito de nomes como Marcos Leonardo, Álvaro Carreras, Benjamín Rollheiser e Gianluca Prestianni justifica essa confiança no futuro, tanto quanto possível dentro da imprevisibilidade do potencial. O Benfica vai tirando proveito da capacidade de investimento e do talento para gerar mais-valias, claramente acima dos rivais, mas também de uma postura negocial que já tem arrancado elogios lá fora, e que sustentou um agradecimento público do presidente encarnado a Rui Pedro Braz e a Lourenço Coelho, enquanto destacava a boa relação com o despromovido Santos ou os méritos de jogar na antecipação para garantir duas das maiores promessas argentinas. O potencial dos quatro reforços não estava disponível no Seixal, e isso legitima a opção, ainda que também possa representar uma quebra de produção na fábrica encarnada. 

Firme parece manter-se a aposta na juventude, com Rui Costa a destacar os 14 jogadores da equipa com idade até aos 24 anos, mas consciente da importância de equilibrar o plantel com a experiência de jogadores como Otamendi, João Mário, Rafa ou Di María, sabendo, ainda para mais, que estes dois últimos parecem estar de saída. Também isso abordou o presidente do Benfica, que usou elogios para deixar a porta aberta, mas o maior mérito até estará naquilo de que não teve de falar. Nas contratações que não precisou justificar. Como agora lembrou o próprio Rui Costa, o Benfica tinha 63 ativos quando Roger Schmidt entrou ao serviço, na (pré-)época 2022/23. 

«Isto com os emprestados, sem jogadores da equipa B. Neste momento temos 31. Destes, 24 são do plantel, sete estão emprestados», detalhou. Uma estratégia bem distinta do presidente anterior, que não se importava de ter uma espécie de plantel-sombra a rodar, e que até chegou a assumir que encarava algumas contratações «puramente para ganhar dinheiro». Uma visão dispendiosa, sobretudo quando a contabilidade inclui salários e comissões, e que deixa claro quando o sucesso desportivo é entendido como um caminho para o resultado financeiro, e não o propósito maior de uma sociedade desportiva.