Cultivar a história com a memória e encontrar o futuro com saudade
Tribuna Livre é um espaço de opinião em A BOLA, este da autoria de José Neto, Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores FPF/UEFA; Docente universitário – Universidade da Maia; Embaixador nacional de Ética e 'Fair Play' no Desporto
Numa tarde brilhante de sol do passado 1 de março no relvado do Oporto Cricket and Lawn Tennis (o mais antigo clube desportivo existente em Portugal) comemoraram-se os 130 anos do primeiro torneio denominado Football Championship das Cidades de Portugal onde esteve em disputa a Cup de El-Rey, uma taça de prata oferecida por sua majestade.
Refere a história e a exposição dos jornais da época que uma seleção do Porto e uma seleção de Lisboa, essencialmente constituídas por jogadores do Football Club do Porto e do Club Lisbonense, disputaram esse jogo. A taça ficaria na posse de quem vencesse por três vezes o torneio, instituído pelo Rei D. Carlos. Assim pelo convite do presidente do Football Club do Porto, Nicolau de Almeida dirigido a Guilherme Pinto Basto, presidente do Club Lisbonense, o match football, teve efeito.
O Torneio tinha por objetivo fundamental comemorar os 500 anos do nascimento do Infante D. Henrique, com início em 1 de março de 1894, com a chegada ao Porto da Família Real, e terminou no dia 7 de março com a partida de Suas Majestades para a capital do reino.
Segundo alguns historiadores, a cidade tinha na época cerca de 100 mil habitantes, mais que duplicou a sua população nesse período. Entre as diversas atividades aconteceu o cortejo cívico que percorreu diversas ruas que se engalanaram, participando milhares de pessoas que aplaudiam os 12 carros alegóricos, terminando na Praça da Restauração com a audição do Hino do Infante composto por Alfred Keil e Lopes de Mendonça, sendo tocado e cantado por mais de 1000 músicos e cantores, num verdadeiro clima de apoteose.
Como Sportman de eleição, o Rei e a Família Real marcaram para sempre a história do Futebol em Portugal quando apadrinharam o primeiro jogo oficial.
Foi intenção do regente da disciplina de história da educação física e desporto da Universidade da Maia, doutor Nuno Gramacho com meu humilde apoio, estando assessorados por uma superequipa de estudantes do Curso Superior de Gestão de Desporto da Universidade da Maia, celebrando esse feito, replicando o acontecimento de 1894. Para tal convidámos grandes glórias do Futebol Clube do Porto e da cidade do Porto e uma seleção de grandes glórias do CIF e de diversas equipas de Lisboa, entre os quais Nélson, Bandeirinha, João Pinto, Bruno Vale, Quim Berto, Soeiro, Rolando, Rebelo, etc…
A cada jogador foi entregue um kit de equipamentos idênticos aos utilizados na época, uma brochura com as regras que no momento imperavam, estando o umpire (árbitro) devidamente equipado e o campo e balizas sinalizado às regras da época.
Foi de facto um encontro memorável: desde o Porto de Honra a anteceder a abertura pelas entidades oficiais presentes: secretário de Estado de Desporto, Dr. Pedro Dias; vice-presidente da Câmara do Porto, Dr.ª Catarina Araújo; presidente da AF Porto, Dr. José Neves; presidente do Futebol Clube do Porto, André Villas-Boas; presidente da AF Lisboa, Dr. Filipe Araújo; vice-presidente da FPF, Dr.ª Sofia Teles; presidente (em exercício) da Liga Portugal, Drª. Helena Pires; diretora do Oporto Cricket and Lawn Tennis, Drª Maria João Carrapato;presidente do CIF Lisboa, Dr. Fernando Magarreiro; presidente da Assembleia Geral do Futebol Clube do Porto, Doutor António Tavares; diretora do Museu FC Porto, Engª. Mafalda Magalhães; D. Dinis, Duque do Porto; presidente da Assembleia Municipal do Porto e Past Reitor da Universidade do Porto, Doutor Sebastião Feyo de Azevedo; vice-presidentes da ANTF, Prof. Neca, António Oliveira e Domingos Paciência; Reitor da Universidade da Maia, Doutor José Ferreira Gomes; e presidente do conselho de administração da maiêutica — Universidade da Maia, Doutor Domingos Silva; diretor do Departamento de Educação Física e Desporto e Coordenadores dos Cursos de Ed. Física e Gestão de Desporto da Universidade da Maia, respetivamente, Doutores Diogo Leal, M.ª João Lagoa e Celina Gonçalves, o programa evidenciava expectativa entusiasmante entre algumas centenas de convidados.
Seguiu-se a abertura oficial, a apresentação das equipas e a audição do Hino do Infante D. Henrique, nunca mais ouvido desde essa data (1894) em que, conforme descreveu o Primeiro de Janeiro, «provocou tamanha emoção ao ser executado por quatro bandas musicais e rompeu em delírio com bravos e palmas durante alguns minutos em clamorosíssima aclamação». Assim aconteceu agora com a interpretação da Banda Musical da Foz.
Após o início do jogo, naturalmente seguindo o guião da história, o intervalo serviu não apenas para descanso, mas para recuperar a energia com a prova dum cálice de vinho do Porto.
Após o reinício do jogo, pelas 16.13 horas, saudação especial pela chegada dum coche puxado por uma parelha de cavalos, transportando a Família Real (Rei D. Carlos, Rainha D. Amélia e príncipes D. Luís e D. Manuel), cujas equipas perfilaram no relvado saudando Suas Altezas com vivas, seguindo para o camarote real.
Enquanto no resultado em 1894 o Club Lisbonense se sagrou vencedor por 1 golo a 0, neste confronto, passados 130 anos, o Football Clube do Porto saiu vencedor por 4 a 1. Mas a Taça Cup de El-Rey pertença do CIF para já, ficará à espera de novos encontros transformados numa autêntica FESTA DO FUTEBOL.
Toda a envolvência foi pedagógica e cientificamente acompanhada pelo saber duma competência experienciada do Dr. Joel Cleto, assistida e documentada por vários órgãos de comunicação social, muito em especial pela excelência do labor da RTP no programa em direto: Grandiosa Enciclopédia do Ludopédio.
Despedidas com discursos ilustrativos de transbordante alegria e distribuição de prémios, nada melhor que um lanche buffet comemorativo entre sorrisos e graças pela oportunidade de cultivar a história com memória e encontrar o futuro com saudade.