Vitinha venceu UEFA Champions League, Ligue 1, Taça de França e Supertaça de França no PSG (Imago)

Bola de Ouro 2025: sucederá Vitinha a Cristiano Ronaldo?

Sim, pode mesmo acontecer. Depois de uma era dominada por extraterrestres, Portugal pode voltar a erguer o troféu individual mais cobiçado do futebol mundial.

Durante mais de uma década, o futebol viveu entre dois mundos: o de Lionel Messi e o de Cristiano Ronaldo. Dois fenómenos que transformaram o impossível em rotina, quebrando recordes como quem respira e dominando o jogo global com feitos que desafiaram o tempo. Para Portugal, foram anos verdadeiramente dourados, impulsionados pela força, ambição e talento incomparável de Cristiano Ronaldo. O craque português colocou o país no centro do universo futebolístico: cinco Bolas de Ouro, maior goleador da história da Liga dos Campeões, recordista absoluto de golos por seleções e o único jogador a marcar em cinco Europeus e cinco Mundiais. A sua marca é eterna. Inigualável.

Em 2024, o domínio que durava há mais de uma década foi finalmente quebrado. Rodri, médio do Manchester City e da seleção espanhola, venceu a Bola de Ouro, tornando-se apenas o terceiro jogador desde 2007 a conquistar o prémio sem se chamar Messi ou Ronaldo.

É verdade que a escolha do vencedor da Bola de Ouro nem sempre é consensual. Nomes como Toni Kroos, Neymar Jr., Wesley Sneijder e Iker Casillas já levantaram dúvidas quanto aos critérios e à transparência da distinção. Ainda assim, o prémio continua a ser o mais prestigiado do futebol mundial. E em 2025, quem poderá seguir as pisadas do espanhol? Um nome impõe-se: Vitinha — a inteligência em movimento.

Num ano recheado de estrelas exuberantes e números impressionantes, há algo de raro e precioso em jogadores como Vitinha. A sua temporada ao serviço do Paris Saint-Germain e da seleção portuguesa foi uma verdadeira masterclass de inteligência tática, simplicidade eficaz e consistência de elite.

Vitinha não protagoniza vídeos virais com dribles vistosos, nem marca golos de levantar estádios com frequência. Mas transforma o futebol num jogo mais claro e fluido para todos à sua volta. Discreto, mas sempre influente, é um maestro moderno que faz a orquestra soar afinada sem procurar o protagonismo.

Tecnicamente requintado, toma decisões com rapidez e precisão. Lê o jogo com uma antecipação que poucos possuem. Embora não seja fisicamente imponente, exibe resistência, intensidade e coragem para enfrentar qualquer adversário - fosse na Champions League ou em duelos internacionais. Como alguém disse: no futebol, quem decide melhor, joga melhor. E Vitinha decide melhor do que quase todos.

Os números contam parte da história: sete golos e seis assistências em 59 jogos. Pode parecer modesto, mas quem o viu jogar sabe: Vitinha foi o cérebro do PSG campeão europeu e o motor de uma seleção portuguesa que conquistou a Liga das Nações - precisamente frente à poderosa Espanha de Lamine Yamal.

Essa conquista pode ser decisiva na corrida à Bola de Ouro. Porque além do triplete nacional com o PSG (Ligue 1, Taça de França e o Trophée des Champions), além da tão desejada Liga dos Campeões, Vitinha ainda levantou um troféu internacional ao serviço da Seleção – a Liga das Nações. Um feito que o coloca um passo à frente dos concorrentes.

Dembélé, por exemplo, teve uma época fantástica em Paris, com 35 golos e 14 assistências. Lamine Yamal, com apenas 17 anos, registou 21 golos e 22 assistências entre Barcelona e seleção espanhola, assinando uma temporada assombrosa. Mas nenhum deles teve um impacto tão completo e equilibrado - em clube e seleção - como Vitinha.

Até os mais céticos se rendem. Luka Modric foi claro:

Teve uma temporada fenomenal. É organizador, indispensável, excelente com bola. Para mim, foi o melhor médio de 2024/25. Um dos melhores, se não o melhor do mundo.

Thierry Henry foi ainda mais poético:

Vitinha joga um desporto diferente. Controla o ritmo e o tempo do jogo como ninguém.

Resta saber se o futebol mundial está preparado para reconhecer e premiar um jogador que brilha mais na arte da simplicidade do que nos holofotes do espetáculo. Se a resposta for sim, então a Bola de Ouro 2025 já tem dono.

Chama-se Vitinha. E joga um futebol maior.

No dia 22 de setembro, no Théâtre du Châtelet, em Paris, saberemos quem erguerá a 69.ª Bola de Ouro. Até lá, discutimos, especulamos, sonhamos. Porque, no fundo, a Bola de Ouro nunca foi só sobre números - é sobre narrativa. E este ano, há muitas. Mas nenhuma tão elegante como a de Vitinha.

«Liderar no Jogo» é a coluna de opinião em abola.pt de Tiago Guadalupe, autor dos livros «Liderator - a Excelência no Desporto», «Maniche 18», «SER Treinador, a conceção de Joel Rocha no futsal», «To be a Coach» e «Organizar para Ganhar» e ainda speaker.