A luta mais intensa desta Volta a Portugal aconteceu na subida para a Senhora das Graça (foto Volta a Portugal)

Volta a Portugal: Até Lisboa, ainda tanto para trepar...

Após dia de descanso, arranca esta quarta-feira a segunda e decisiva parte da Volta a Portugal com (ainda) mais montanha. Guarda, Torre, final empinado em Santarém, Montejunto. Antes do contrarrelógio plano na capital, a fechar no domingo

«Tudo por decidir. Muito por correr até Lisboa. O mais difícil está por chegar...» São definições proferidas por alguns protagonistas da 86.ª edição da Volta a Portugal para o estado da corrida após seis dias de competição (prólogo e cinco etapas) e o que falta disputar em outras cinco jornadas de exigência elevada até ao último dia, domingo, do contrarrelógio plano em Lisboa.

Já se cumpriram etapas seletivas, as principais, a tradicional da Senhora da Graça e a com meta em Fafe. E outras menos, ao contrário do que se esperava, como a que terminou com dupla ascensão ao Sameiro, em Braga, a primeira em linha.

A acrescentar-se às dificuldades montanhosas que estavam estampadas no papel antes de o pelotão ter iniciado a pedalada e confirmadas na estrada, as elevadas temperaturas que se têm feito sentir na região norte do país, e como é tradição na Grandíssima, a intensa competitividade.

Fatores de desgaste que certamente acentuarão as diferenças na segunda parte da prova, a partir desta quarta-feira, com a continuidade dos percursos acidentados e com final em alto, num total de três em cinco etapas: Guarda (6.ª), Torre (7.ª) e Montejunto (9.ª), esta última, traiçoeira pela longa travessia da sempre ventosa faixa costeira oeste, de Nazaré a Santa Cruz. A estas, juntar-se-á outra etapa imprevisível, a da chegada a Santarém (8.ª), com o quilómetro final bem empinado.

Os trepadores deverão continuar a imperar, ainda que o líder, Artem Nych, não seja puro corredor de montanha, mas sim, completo, como se caracterizam os melhores que competem para o topo da geral. No entanto, uma vez que está por disputar a etapa-rainha, a subida mais seletiva da Volta a Portugal (é-o todos os anos), a Torre, na Serra da Estrela, o russo da equipa Anicolor não deve ser declarado o principal candidato à sua própria sucessão.

O próprio corredor reconhece-o. «Vou esperar pela etapa da Torre, porque é sempre muito difícil para mim», disse após a chegada a Viseu, no domingo. O siberiano sabe-o, porque na edição de 2024 perdeu quase três minutos no ponto mais alto de Portugal Continental para o vencedor, o guatemalteco Sergio Chumil, e para a sensação dessa Volta, o jovem Afonso Eulálio, segundo classificado na etapa, conquistando a camisola amarela com que luziu até ao penúltimo dia, na Sra. da Graça, que cedeu ao insuspeito... Artem Nych, ascendendo das trevas para a vitória final.

Artem Nych contra Jesus Peña

Nych tem a liderança sob forte ameaça, por ser curta, presa por escassos oito segundos para o australiano Byron Munton (Feirense), surpreendente vencedor na Sra. da Graça, e por 12 para o colombiano Jesus Peña (Tavira), com que se igualou na subida ao icónico Monte Farinha e na chegada a Fafe, esta última etapa, onde a passagem pelo troço de terra batida de Pedra Sentada também fez diferenças.

E a diferença que Nych impõe a Peña na geral, fê-la no prólogo inicial, uma prova individual em que o leve trepador sul-americano, de apenas 56 kg, tem clara desvantagem face ao russo de 74 kg. Por isso, o corredor que chegou esta temporada para o Tavira proveniente da WorldTeam, Jayco, sabe o que tem a fazer se quiser vencer esta Volta e retribuir à formação algarvia ter-lhe «aberto das portas» para continuar no ciclismo europeu.

«Tenho de ganhar tempo aos meus adversários nas etapas mais montanhosas, Guarda, Montejunto e principalmente a Torre, porque no contrarrelógio final eles serão mais forte», afirma Jesus Peña.

E os 'outsiders'...

Outro corredor que não se pode descartar é o francês Alexis Guerin, trepador de provas dadas (já nesta temporada portuguesa), e que pode muito bem ser uma carta valiosa a apostar pela Anicolor. Quer em estratégia para acossar os rivais (Tavira, Feirense em primeiro plano), quer em eventual incapacidade de Artem Nych na Torre, onde certamente o russo será atacado por Jesus Peña e outros trepadores. Guerin poderá ser joker em jogada de antecipação - e já hoje até, na etapa da Guarda, ainda que não seja provável.

Além deste quarteto, quem mais? Tiago Antunes (Efapel), Edgar Cardenas (Petrolike) ou... Lucas Lopes. Este jovem de 22 anos, em estreia na Volta a Portugal, é a grande revelação, ou a confirmação precoce do valor que já se lhe reconhecia, da prova. Ocupa a quinta posição da geral, a 43 segundos de Nych, e lidera a classificação de Melhor Jovem. Na Sra. da Graça bateu-se com os melhores graúdos, alcançado a quarta posição, a 9 segundos do duo Peña/Nych, e a 18 segundos do vencedor, Munton, lado a lado com Guerin. Na outra chegada em alto já cumprida nesta edição, o promissor sub-23 da Rádio-Popular-Boavista foi sexto.

Dúvidas por esclarecer a partir desta quarta-feira, no tortuoso caminho para a cidade mais alta de Portugal.