Sistema tácito: da gratidão à traição
Como se não bastassem as enormes adversidades com que se deparou assim que tomou posse como CEO da SAD do FC Porto, sendo uma das principais relacionadas com a tesouraria, que colocam em causa os próprios salários dos funcionários, André Villas-Boas debate-se, agora, com uma dificuldade acrescida relativamente ao treinador. Sérgio Conceição renovou a dois dias das eleições, o que gerou um enorme descontentamento em grande parte do universo azul e branco, e ficou melindrado pelo facto de o seu principal adjunto, Vítor Bruno, num gesto de pura emancipação, querer seguir uma carreira a solo... que poderá terminar com o seu lugar nos últimos sete anos. O ainda treinador do FC Porto tem o direito de se sentir traído, mas o seu fiel escudeiro nos últimos 13 anos também pode escolher o seu destino, não tendo de justificar as suas opções.
Sérgio Conceição fala em traição, ingratidão, falta de honestidade e frontalidade de Vítor Bruno, criando ondas de choque enormes, que já afetaram os demais adjuntos — DiamantinoFigueiredo, Siramana Dembelé e Eduardo Oliveira —, que ficaram sob a alçada na nova Administração da SAD.
Está criado um clima de grande hostilidade, que penaliza e atrasa a planificação da próxima temporada. André Villas-Boas tem duas opções perante um contexto tão complicado:por um lado, senta-se novamente à mesa com Sérgio Conceição e explica-lhe que em causa está o bom funcionamento do trabalho no clube que ele aprendeu a amar desde os 15 anos, quando trocou Coimbra pelas Antas, promovendo uma saída airosa do treinador que elevou bem alto o nome do FC Porto em Portugal — com 11 títulos — e além fronteiras — conseguindo façanhas notáveis na Champions; ou, em alternativa, tem de optar por uma saída mais musculada e que implica enfrentar Sérgio Conceição, podendo o caminho resultar num diferendo judicial, uma situação que certamente quer evitar, já que apenas o técnico tem uma cláusula no contrato que lhe permite sair sem qualquer indemnização.
Tudo isto seria evitável se a tão famigerada renovação de contrato fosse oficializada fora da campanha eleitoral e em moldes diferentes. Pinto da Costa sabia de antemão que ao avançar com tal ato iria deixar na mão da nova Direção o ónus de despedir o novo treinador. Jogou esse trunfo na tentativa desesperada de ganhar votos, mas a sua intenção saiu gorada e faz com que André Villas-Boas esteja, uma vez mais, refém de mais uma decisão sua, concretizada à pressa e que atrasa o futuro do FC Porto...