Avançada do Sporting não poupa elogios a Kika Nazareth e a Cláudia Neto

«Quero fazer do futebol vida, mas tenho de ter um plano B»

Aos 19 anos, Carolina Santiago já é uma das referências ofensivas do Sporting e tem estatuto de internacional sénior, mas continua a construir uma rede de segurança fora dos relvados. Estreia na Seleção marcada por vitória histórica

As exibições de gala rubricadas por Carolina Santiago nos primeiros jogos de regresso ao Sporting, após uma época de empréstimo ao Valadares Gaia, abriram-lhe a porta da Seleção Nacional principal. A avançada de 19 anos foi lançada a titular por Francisco Neto na primeira vitória lusa da história contra os Estados Unidos (2-1), a 23 de outubro.

A avançada das leoas voltou a ser chamada por Francisco Neto, desta feita para os duelos particulares contra os Países Baixos, a 28 de novembro, e Brasil, a 2 de dezembro, mas o estatuto de Seleção não alterou o objetivo de assegurar o futuro, dentro e fora de campo. Carolina Santiago levantou o véu sobre a vida de jogadora-estudante, na segunda parte da entrevista a A BOLA.

— Estreou-se pela Seleção Nacional na paragem de outubro. Como é reagiu quando soube que foi convocada pela primeira vez?

— Fiquei muito feliz, não acreditei. É um sonho. O patamar mais alto e o objetivo de qualquer jogadora de futebol é chegar à Seleção A. Fiquei mesmo muito feliz por representar o meu país. Já estive nas camadas jovens, mas chegar à equipa principal era mesmo um sonho.

— Esperava ser logo lançada a titular no primeiro particular contra os Estados Unidos?

 — Não, mas é algo para o qual trabalho. Há sempre essa hipótese. Cabe-me estar tranquila, confiar na minha qualidade e fazer o meu trabalho.

Carolina Santiago durante o Estados Unidos-Portugal - Foto: IMAGO

— O que é que motivou o grupo para iniciar uma reviravolta completamente histórica e vencerem os Estados Unidos pela primeira vez, depois de terem sofrido golo logo aos 30 segundos?

— Passou muito pela união e pela mentalidade competitiva. Sendo Portugal, óbvio que faz parte às vezes sofrer, mas foi no início do jogo e ainda havia muitos minutos pela frente. Foi mesmo na base da união e da mentalidade competitiva e o objetivo era ganhar e era continuar.

— Estreia-se na mesma janela de compromissos que a Maísa Correia e a Érica Cancelinha, companheiras de equipa no Sporting desde a formação…

— Fiquei muito feliz por irmos as três. Foi ainda mais especial saber que ia ter a presença delas e que íamos estar as três a viver um sonho. Deu-me um bocadinho mais de conforto porque foi a primeira. Espero que consiga mais, mas foi muito bom.

— Receberam algum conselho das atletas mais experientes que tenha ficado marcado?

— Receberam-nos muito bem e transmitiram-nos confiança. Passaram-nos que se nós estávamos lá é porque temos qualidade. Isso é algo que ajuda porque sentimos que nos conhecem, que sabem que temos capacidades para estar lá e que o nosso trabalho e esforço está a ser reconhecido.

Carolina Santiago no primeiro estágio de Quinas ao peito - Foto: FPF

— Integrou a Seleção que chegou até às meias-finais do Euro sub-19. Que elementos positivos tira de uma campanha que terminou com uma derrota por 3-4 no prolongamento contra a França?

— Só o facto de termos chegado às meias-finais contra uma equipa contra a França já foi um motivo de orgulho, foi incrível termos chegado tão longe. O objetivo era ir à final e ganhar, mas foi muito bom, foi um jogo muito bem disputado. Perdemos por um golo no prolongamento, mas o principal sentimento é de orgulho e continuar a trabalhar para, quem sabe, um dia conseguirmos ganhar o Euro. Cada vez mais há meninas a jogar à bola e jogadoras com mais qualidade. Isso é muito bom para o crescimento do futebol feminino.

Carolina Santiago ao serviço de Portugal - Foto: Papagaio loiro

— Quando é que pensou que podia ser profissional?

— Quando comecei a integrar a equipa A. Sempre foi um objetivo chegar o mais longe possível no futebol.

— Estreou-se aos aos 17 anos pela equipa principal. Estava à espera de ser convocada para o jogo com o Amora [9 de dezembro de 2023]?

— Fiquei muito feliz, não sabendo ainda se entraria ou não, mas só o facto de estar convocada, de estar ali presente, já era algo incrível. E depois, ainda ser presenteada com a estreia foi algo incrível, o realizar de um sonho. Não foi algo que estava à espera, mas foi fruto do meu trabalho e fiquei muito feliz com isso.

— Ainda no Valadares, destacou a importância de ter um plano B fora do futebol. Continua a defender essa necessidade?

— Sim. Quero fazer do futebol vida, mas tenho de ter um plano B, tenho de continuar com os estudos. Neste momento estou na faculdade, não vou dizer que é fácil, porque não é, conciliar os dois mundos, mas passa por uma questão de organização e ao máximo conseguir progredir nos estudos. Fiz um ano no Porto, quando estive no Valadares e agora estou em Lisboa. Há professores que percebem mais o nosso lado, outros que nem tanto, mas nós que somos diferentes ali e temos de tentar arranjar soluções e alternativas para as nossas faltas.