O menino de olhos azuis que ganhou tudo no futebol
Mãe costureira, pai vendedor de material de construção, Jorge Paulo Costa Almeida nasceu a 14 de outubro de 1971, o mais novo de cinco irmãos. Teve uma infância feliz no Bairro da Previdência, na Pasteleira, onde nada lhe faltava. Sem qualquer ligação familiar ao futebol, virou futebolista. E o menino louro e de olhos claros tocaria o topo do Mundo futebolístico.
Um dia, ainda iniciado, foi tentar a sorte no FC Foz. Ficou. Um ano depois, surgiram diversos clubes interessados em recebê-lo de braços abertos. Escolheu o FC Porto, apesar do interesse de Leixões e Boavista, por exemplo. Desdobrava-se a ver jogos do Salgueiros, Boavista e FC Porto, mas, por via dos êxitos dos dragões no final da década de 70 e em toda a de 80, os ídolos eram dois: Madjer e Fernando Gomes.
Dava nas vistas como defesa-central na equipa orientada por Costa Soares, mas, por vezes, quando o FC Porto já vencia confortavelmente, avançava no terreno e, como era muito alto, marcava muitos golos de cabeça. Foi logo campeão de juvenis e, no segundo ano nos juniores, voltou a ser campeão.
Com Artur Jorge, em 1987/88, fez alguns treinos na equipa principal e jogava nas reservas. As referências, então, eram João Pinto, Jaime Magalhães, Madjer, Fernando Gomes, Semedo e André.
Porém, chega a sénior e é emprestado ao Penafiel, embora já com contrato profissional com o FC Porto. Estreia-se na I Divisão a 18 de agosto de 1990, frente ao… FC Porto e nas Antas. Perde por 2-0, com golos de Kostadinov e Paille. Do outro lado, entre outros, estavam Vítor Baía, Aloísio, André, Jaime Magalhães e Semedo. Na jornada seguinte, marca o seu primeiro golo na I Divisão, ao Sporting. No plantel penafidelense (14.º lugar no final da prova), treinado por Vítor Manuel a partir da jornada 7, constava Carlos Secretário. No final da época, ao lado de Rui Costa, João Vieira Pinto e Luís Figo, entre outros, sagra-se campeão do Mundo de sub-20, em Lisboa, pela mão de Carlos Queiroz.
A seguir, no arranque de 1991/92, faz alguns treinos de pré-época no FC Porto de Carlos Alberto Silva, mas, com Fernando Couto, Aloísio, José Carlos e Morato no plantel, percebe que terá vida difícil no Dragão e assina pelo Marítimo. Tudo corre bem na Madeira (7.º classificado) e, no final da temporada, quando já tinha tudo preparado para ficar mais um ano nos insulares, o FC Porto não permite e recupera-o para a equipa principal.
Estreia-se em Coimbra, frente ao Estoril, ao lado de José Carlos, pois Fernando Couto e Aloísio estavam castigados. E marca o golo da vitória, ao minuto 64. Passa a ser alcunhado de ‘Bicho’.
É campeão nacional pelo FC Porto em 1992/93, mas, pessoalmente, as coisas não lhe correm bem: sofre uma rotura do ligamento cruzado anterior, no Portugal-Escócia no Estádio da Luz, a 28 de abril de 1993.
Apanha Tomislav Ivic em 1993/94 e a época começa mal para o FC Porto. Em janeiro de 1994, vindo do Sporting, aparece Bobby Robson. E tudo muda. Os dragões ganham a Taça de Portugal, a Supertaça Cândido de Oliveira, chegam às meias-finais da Liga dos Campeões, mas ficam em segundo lugar no campeonato, falhando, de novo, o tri.
Começa a ser preparado o pentacampeonato e, com Vítor Baía, Domingos Paciência, Paulinho Santos, Secretário, Rui Barros e ainda João Pinto, Jorge Costa torna-se uma das referências do FC Porto. E quando João Pinto termina a carreira, no final de 1996/97, Jorge Costa sobe um degrau na hierarquia azul e branca e passa a capitão.
A seguir, em Alvalade, frente ao Sporting, a 24 de abril de 1996, nova lesão gravíssima: nova rotura do ligamento cruzado. Consequência principal: fica de fora do Euro 1996. Mais tarde, já com António Oliveira, chega aos tão ambicionados tri e tetra. E ao penta com Fernando Santos.
Surge, a seguir, um dos episódios mais marcantes da sua carreira. Num Milan-FC Porto, Weah faz golo e Jorge Costa, de costas para o liberiano, pisa-lhe a mão. Nas Antas, na segunda mão, a 20 de novembro de 1996, após os dragões terem conseguido o apuramento, Jorge Costa entra no túnel e leva uma cabeçada de George Weah.
Depois, seguem-se três anos em falso para o FC Porto: 1999/2000, 2000/2001 e 2001/2002, com os títulos a irem para Sporting, Boavista e Sporting. No arranque da última época, aparece Octávio Machado como treinador. Relação complicada entre os dois. Jorge Costa fica apenas seis meses no FC Porto e parte para os ingleses do Charlton. A época corre bem (14.º classificado) e, durante a segunda metade de 2001/2002, José Mourinho, já treinador do FC Porto, liga-lhe e diz: «Queres voltar?».
Voltou. Podia ter ido para o West Ham ou Aston Villa, mas regressa. E recebe a braçadeira de capitão. Entram Derlei, Paulo Ferreira, Tiago, Nuno Valente e Maniche, entre outros, para duas das mais brilhantes épocas do FC Porto: dois campeonatos, uma Taça, uma Supertaça, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões.
Pelo meio, o Euro 2000 e o Mundial 2002. Portugal brilhante na Bélgica e Países Baixos, horrível na Coreia do Sul e Japão. Jorge Costa escreve colunas de opinião para A BOLA, mas, devido a todos os problemas nascidos antes e durante o Campeonato do Mundo, abdica da Seleção Nacional.
No final de 2003/2004, José Mourinho sai para o Chelsea e o FC Porto atravessa um mini-deserto, apesar da conquista da Taça Intercontinental, com o espanhol Víctor Fernández. A seguir, em 2005/2006, aparece Co Adriaanse e Jorge Costa, com Bruno Alves, Pedro Emanuel, Pepe e Ricardo Costa no plantel, percebe que a sua influência em campo não será a mesma. Termina a época e parte, com Sérgio Conceição, para os belgas do Standard Liège. Fica um ano e decide terminar a carreira.
Entre 2006/2007 e 2023/2024, aposta na carreira de treinador e passa por SC Braga, Olhanense, Académica, Cluj, AEL Limassol, Anorthosis, Paços de Ferreira, Gabão, Sfaxien, Arouca, Tours, Mumbai City, Gaz Metan Mediaș, Farense, Sfaxien (de novo), Académico de Viseu e, por fim, AVS.
Em abril de 2024, torna-se diretor do FC Porto liderado por André Villas-Boas. Até hoje. Infelizmente, apenas até hoje.