Lois Boisson apurou-se para as meias-finais de Roland Garros (IMAGO)

Na poeira nasceu uma estrela: do hospital às ‘meias’ de Roland Garros num ano

Lois Boisson com trajeto incrível para se tornar na nova heroína do desporto francês. Número 361 do 'ranking' conseguiu algo que nenhuma tenista gaulesa fazia desde 2011

Ao fim de 2h08, percebendo que a esquerda de recurso de Mirra Andreeva ia bater fora, Lois Boisson deixou-se cair com as mãos a tapar a face, mas com todo o corpo em transe.

Mas tal como fez quando o destino a derrubou, há pouco mais de um ano, reergueu-se rapidamente, levantou o queixo e recebeu uma ovação.

Dois dias depois de bater Jessica Pegula (3.ª do ranking) nos quartos de final, a francesa de 22 anos afastou a número 6 do mundo e semifinalista da época passada, por 2-0, após salvar dois set points num primeiro parcial que durou 81 minutos e de recuperar de um 0-3 para 6-3 no segundo.

A história da primeira tenista francesa a chegar às meias-finais de Roland Garros desde 2011 não é um conto de fadas. É de super-heróis. Porque aconteceu muito mais pelo superpoder da superação dela do que por um movimento aleatório de uma varinha mágica.

A 13 de maio de 2024, uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, 13 dias antes do início de Roland Garros, deitou-lhe por terra a possibilidade de se estrear no torneio de sonho.

A organização tinha-lhe atribuído um wild card para premiar o momento fulgurante que vivia, com 23 vitórias em 24 jogos em terra batida, a superfície preferida da tenista natural de Dijon.

Lois Boisson chora após o apuramento para as meias-finais de Roland Garros (IMAGO)

Ao sair do hospital, Boisson focou-se no objetivo com critério, disciplina e sacrifício. Durante longos e penosos nove meses, não houve diversão. Não pôde sequer voltar a pegar numa raquete. Porque era preciso apontar todas as energias para a recuperação do joelho.

«Não há segredo. Se está onde está neste momento é porque fez todos os esforços e até mais do que o necessário para recuperar em pleno», assegura Jonathan Dasnières de Veigy, treinador que a ajudou na recuperação, citado pela RCM.

Da poeira rumo ao estrelato

«Se está onde está...». Quando Veigy foi ouvido, era aos quartos de final do torneio parisiense que se referia. E falava assim, já com o mundo do ténis a abrir a boca de espanto.

Porque tudo neste percurso de Boisson é inesperado. Afinal, falamos de uma tenista que nunca tinha jogado um torneio de Grand Slam. Que era 361.ª do ranking WTA, e cujo melhor posicionamento que tinha tido até agora era o número 152, que ocupava quando se lesionou em 2024.

Lois Boisson em ação em Roland Garros (IMAGO)

Agora, já depois de se apurar para o top-4 do torneio da capital francesa, mais do que se teronar na tenista com o ranking mais baixo a conseguir chegar às meias-finais de um Grand Slam nos últimos 40 anos, Boisson sabe que vai subir pelo menos 300 (!!), rumo ao 61.º posto da hierarquia mundial.

E há mais dados que tornam esta semana e meia a mais louca da vida de Boisson. Até ao início da 129.ª edição de Roland Garros, a tenista de 22 anos tinha amealhado 130 mil euros em prémios. Com as seis vitórias consecutivas somadas na competição já ganhou 690 mil euros. Seiscentos e noventa mil euros! Cinco vezes mais do que tinha alcançado até este torneio.

É preciso recordar que há um ano Lois Boisson estava num bloco operatório por causa de uma das mais graves lesões que um atleta pode sofrer? Não vale pena. A cicatriz está lá para lembrar. Mas a tenista valoriza mais a tatuagem que traz no braço direito e que resume a sua personalidade: «Resilience».

Tatuagem de Lois Boisson, tenista francesa que brilhou em Roland Garros (IMAGO)

Segue-se Coco Gauff. Mas aconteça o que acontecer frente à norte-americana, número 2 do mundo, os franceses festejam o nascimento de uma nova estrela.