Lutar pela liberdade
«Foram cinco meses de muita luta, muito trabalho, extrema dedicação, lágrimas, dor e suor, para poder voltar à competição o melhor possível a tempo de concluir o meu objetivo. Desde o primeiro dia senti e sabia, sabíamos, do desafio que estava à nossa frente. Foi duro. Mas o momento chegou! Volto à competição dia 25 de Abril no Campeonato da Europa. Não poderia ser num dia mais bonito», escreveu Telma Monteiro nas redes sociais, na passada semana, a confirmar o regresso aos tatamis.
Cerca de duas semanas depois do nome ter integrado a convocatória de 16 judocas para o Europeu de Zagreb de judo — equipa que, entretanto, perdeu Bárbara Timo (-63 kg) devido à olímpica do Benfica, que foi bronze em Lisboa-2021, ter sofrido um estiramento —, Telma confirmava a ida a uma das provas que lhe é mais querida, onde já deixou a sua marca para a eternidade, e que esta época começa num dia histórico para Portugal. Jornada em que, hoje, estarão em ação outros cinco portugueses.
Ambição dos sextos Jogos
Para a hexacampeã europeia será também um dia de liberdade. A de poder voltar a fazer aquilo que sempre gostou, competir — bem, talvez aprecie mais ganhar — e manter viva a ambição de chegar aos Jogos de Paris-2026.
Meta que, a concretizar-se, acontecerá pela sexta vez na carreira. Não só se tornará na atleta feminina nacional com mais participações olímpicas, como no primeiro judoca a nível mundial a disputar meia dúzia de Jogos desde que a modalidade integrou o programa em Tóquio-1964 e fixou-se definitivamente em Munique-1972.
Recorde de 18 Europeus
Será igualmente viver a liberdade de estar naquele que, aos 38 anos, deverá ser o último Europeu que realiza antes de se retirar e o 18.º da carreira. Máximo que tão cedo não será ameaçado por ninguém da Seleção. E isto sem sequer comparar com as 15 medalhas individuais consecutivas, mais uma por equipas mistas, que conquistou nas anteriores 17 participações.
Telma sempre teve o desejo de concluir os mais de 20 anos no judo de alta competição entre as melhores do mundo. Depois de, em novembro, no Europeu Montpellier-2023, ter sofrido uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo logo no primeiro combate contra a russa Daria Korbonmamadova, o que a obrigou a intervenção cirúrgica e exigente recuperação física enquanto estava limitada em andar ou correr e procurava manter a força física e resistência, não surgirá, naturalmente, no primeiro Euro na Croácia ao mais alto nível. Até porque lhe falta o ritmo competitivo, mas não será por isso que deixará de ter ambição do pódio e não será temida.
Apurada por quota alheia
É sobretudo a primeira oportunidade de tentar pontuar para o ranking de qualificação olímpica que seis meses afastada do Circuito Mundial a retiraram do top 10 dos -57 kg e a deixaram em 24.ª. Neste momento estaria qualificada para Paris-2024, mas já seria beneficiando das vagas oriundas de continentes que não têm atletas suficientes para preencherem as respetivas quotas continentais, costuma acontecer com a Oceânia e até África, e cujo lugar será atribuído a quem tem mais pontos dos cinco continentes.
Contando com o Europeu, restam quatro provas do Circuito para fechar o apuramento e todos os pontos que se consigam podem vir a fazer a diferença entre, no final de julho, estar a combater em Paris ou ficar em casa a ver pela televisão.