João Almeida e Juan Ayuso
João Almeida e Juan Ayuso - Foto: IMAGO

Juan Ayuso atira-se à UAE Emirates: «Não esclarecem a função dos corredores»

Ciclista espanhol abre o livro sobre os temas polémicos que o envolveram na equipa: «A minha imagem está a ser retratada de uma forma que se desvia de quem realmente sou»

Juan Ayuso, uma das figuras mais controversas do ciclismo internacional, abriu o jogo sobre os anos turbulentos vividos na UAE Emirates. O espanhol, de 23 anos, que vai mudar-se para a Lidl-Trek em 2026, revelou ter enfrentado um ambiente hostil dentro da estrutura dos Emirados e responsabiliza a direção da equipa por grande parte da sua reputação de corredor problemático.

O jovem catalão admitiu que ponderou deixar a UAE há dois anos, quando recusou renovar contrato até 2030 e, em resposta, foi ameaçado com «um mau calendário». Segundo Ayuso, essa tensão abalou a sua relação com os colegas e o seu próprio desempenho. «Após todas as corridas, quando regressava a casa, sentia que não havia química. Eram pequenas coisas, mas mesmo na Vuelta de 2023, pensei que, se tivesse a hipótese de sair, consideraria», revelou em entrevista ao jornalista Daniel Benson.

O espanhol explicou que tentou várias vezes negociar uma saída antecipada, mas sem sucesso. «Todas as vezes que eu, mesmo que brevemente, mencionava o assunto [da saída antecipada] com a direção da equipa, a resposta era sempre 'não'. Sentia que sair era uma possibilidade muito remota, por isso tentei tirar o melhor partido disso. Por outro lado, quando todas estas coisas se acumulam, chega um momento em que se pensa 'bolas, estou aqui para correr e aproveitar'», afirmou.

A rescisão do contrato, que se estendia até 2028, acabou por ser acordada, mas a divulgação pública aconteceu durante a própria Vuelta — uma decisão que o corredor diz não ter sido sua. «Corri muito contra os meus colegas de equipa. Não é uma sensação agradável. A situação só piora quando estás constantemente focado no que está a acontecer dentro do autocarro da tua equipa, em vez de lá fora, com colegas de equipa que te querem derrotar. Foi mais uma coisa gradual do que algo que aconteceu num único dia», contou.

Alegadas tensões com Pogacar e João Almeida

Ayuso esteve envolvido em várias situações polémicas ao longo da passagem pela UAE. No Tour de 2024, mostrou-se relutante em trabalhar para o líder Tadej Pogacar durante a subida ao Col du Galibier, episódio que gerou desagrado público de João Almeida. O espanhol acabaria por abandonar a corrida devido a uma alegada doença.

Os desentendimentos com o ciclista português já vinham de trás, nomeadamente nas Vueltas de 2022 e 2023, e na Volta à Catalunha de 2022, quando Almeida perdeu a liderança da corrida e Ayuso aparentou resistência em colaborar no esforço coletivo. «Não houve nada com Almeida, e eu nunca desafiaria um colega de equipa. Mas da parte da direção nunca ficou claro qual era a mensagem ou qual era a função dos corredores», acusou.

Ayuso afirma que muitas das decisões táticas controversas partiram do carro da equipa. «Se foram cometidos erros, nunca foram corrigidos. Isso só me custou energia; mais do que o ato em si, foi mais sobre a forma como a direção lidou com a situação. Para ser honesto, não foi um problema tão grande com os colegas de equipa. O problema foi com a direção», sublinhou.

O espanhol revelou ainda ter sido pressionado durante as negociações contratuais. «Em janeiro, recebi uma proposta para prolongar o meu contrato por mais dois anos, ou seja, até ao final de 2030. Durante estas negociações com a direção, a minha maior preocupação não era tanto com o dinheiro, mas sim com a famosa cláusula de rescisão de 100 milhões. Disse-lhes que poderia prolongar o meu contrato, mas apenas se houvesse cláusula, no caso de querer sair mais cedo», relatou.

Ayuso acabou por recusar o acordo — e, segundo ele, isso mudou a atitude da equipa. «A partir desse momento, a direção tornou-se muito agressiva, ao ponto de me dizerem que, se não assinasse a extensão, veríamos qual o calendário que iria seguir. Esse foi um dos maiores pontos de viragem, para além do aspeto desportivo, que foi um pouco superficial, e foi nesse momento que eu disse: 'Ok, já chega.'»

O ciclista reconhece que a sua imagem pública foi afetada por esses episódios, mas rejeita a ideia de ser um elemento difícil. «Não estou a dizer que é injusto que as pessoas pensem que tenho uma má conduta, porque todos têm direito à sua opinião, mas a minha imagem está a ser retratada de uma forma que definitivamente se desvia de quem realmente sou», defendeu-se.

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