José Condessa no Belém Clube, onde deu os primeiros passos no teatro (Foto A BOLA)
José Condessa no Belém Clube, onde deu os primeiros passos no teatro (Foto A BOLA)

José Condessa: «Atlético? Benfica? Tenho o coração dividido...»

Conhecido ator jogou no Benfica e é adepto dos encarnados, mas também esteve no Atlético e confessa «grande paixão» pelo clube da Tapadinha

José Condessa, 28 anos, é um dos maiores nomes do meio artístico nacional, ele que também se vai lançando a internacionalmente após o estrondoso sucesso da série Rabo de Peixe, cuja terceira temporada será lançada no próximo ano.

Apesar do estrelato, Condessa mantém uma fortíssima ligação ao futebol e às origens populares como adiante se verá e hoje estará de coração completamente dividido no encontro de hoje entre o Atlético e o Benfica. Aliás, o jogo dificilmente lhe poderia dizer mais. «Vai ser muito bonito. Joguei no Benfica e no Atlético e o jogo vai ser no Estádio do Restelo, o recinto mais próximo da casa onde fui criado», diz, retomando as origens na zona da Memória, na Ajuda, ali a dois passos do campo dos azuis.

José Condessa junto à placa do largo onde vivem os pais (Foto A BOLA)

O capítulo seguinte serve para explicar o capítulo de José no futebol de onze: «Entrei no Benfica com cinco anos. Sou da geração do Renato Sanches, que para mim é o Bulo, do Rúben Dias e do Ferro, por exemplo. Somos das equipas de formação que estrearam o Seixal. Mas lesionei-me a dada altura no tendão de Aquiles. E ficou aquela dúvida: opera-se uma criança ou espera-se que consolide e vá ao lugar.  Ainda continuei a treinar com a equipa e a ir a alguns jogos em torneios. Estive quase um ano em treinos e alguns jogos entre paragens e recomeços que era a fase de transição para uma coisa mais profissional. Quando entenderam que era bom ir para uma equipa mais pequenino rodar sem ser com a exigência que se tem no Benfica fui para o Colégio Guadalupe, que apesar de ser federado era uma coisa mais amadora. Funcionava ali no Casa Pia. Só depois mais tarde é que fui para o Atlético. Depois disso comecei o percurso no futsal. Quando estava no Atlético já tinha aquela envolvência do teatro na Academia de Santo Amaro e comecei a ir à Tapadinha, a gostar daquilo e, confesso, também fiquei com grande paixão pelo Atlético. Isto depois de em termos artísticos ter transitado do Belém Clube para a Academia de Santo Amaro», conta, referindo-se à coletividade que ainda hoje em dia é um santuário do teatro amador e que tem como ator o pai, Jorge.

Joguei com o Renato Sanches, que para mim é o 'Bulo', com o Rúben Dias e com o Ferro. Somos da geração que estreou o Seixal

José Condessa começou a jogar no Benfica com cinco anos (Foto DR)

José Condessa, aliás, confessa ser um defensor do «futebol mais romântico». «Lembro-me perfeitamente de ir à bola com o meu avô Zé e com os meus pais e o meu avô levar aqueles binóculos pequeninos para ver bem os jogadores quando estávamos num sítio mais afastado do relvado e das almofadinhas para nos sentarmos de forma mais confortável. Além disso, havia a tradição de irmos mais cedo para comermos uns couratos. É esse espírito que ainda encontro na Tapadinha», vinca, para ir um bocadinho mais longe: «De facto, tenho o coração dividido. Sou benfiquista, sem dúvida, mas não me importo muito se o Atlético fizer o jogo duma vida e dali saírem dois ou três heróis. Gosto, genuinamente, do Atlético. Não estou só a ser simpático.»

Lembro-me perfeitamente de ir à bola e o meu avô levar aqueles binóculos pequeninos e as almofadinhas para nos sentarmos

Quando pode, José Condessa assiste ao jogos do Atlético (Imagem Instagram/Atlético CP)

O que ainda está a causar alguma confusão é o facto de ainda não saber se terá disponibilidade para ir ao Estádio do Restelo para assistir ao jogo ao vivo. «Ando com um ritmo diabólico em termos de gravações e não sei se me despacharei a tempo. No entanto, gostava muito de ir com o meu tio Rui Baioneta, que é pai do Pedro, um dos meus melhores amigos. A ver se consigo... Gostava mesmo, mesmo muito», promete quem quando pode vai ao Estádio da Tapadinha e não se furta a um convívio antes ou após os jogos com sócios e adeptos do clube de Alcântara.

No Cabrinha

José Condessa numa roda de amigos na Quinta do Cabrinha (Foto DR)

Aliás, José Condessa, há cerca de dois anos, fez as delícias dos habitantes da Quinta do Cabrinha quando ali foi para estar num convívio com adeptos do clube alcantarense, naquele que é um local com alguns problemas sociais e onde foram realojados alguns dos habitantes do Casal Ventoso, parcialmente destruído em meados da década 90 na sequência das muitas complicações adjacentes ao tráfico e consumo de droga.

Em relação ao desempenho no Atlético enquanto jogador de futebol onze, o ator apenas tem um lamento. «Nunca consegui estar muito bem dentro da equipa porque já estava muito envolvido no teatro. Eram duas paixões e não era fácil conciliar. Mas lembro-me que o Roxo, apesar de ser mais velho, era uma das nossas referência. O Roxo que é neto do Álvaro Roxo, que foi roupeiro do Atlético durante décadas. Na minha equipa havia o Tavares e um Rodas, também, que eram bons jogadores. E a Carolina Vilão, a guarda-redes que esteve anos a fio no Benfica e agora está nos escoceses do Hearts», refere.

Fanático da bola

José Condessa abre o livro das confissões e diz ser «fanático por futebol», com a magia do jogo a tanto lhe dar para assistir a uma partida da Champions como para um encontro da Liga 3. «Ainda há uns anos fui à Amora ver um jogo com o Real Massamá e reparei no atual número 19 do Atlético, o Paulinho e acompanhei-o porque joga muito. Mandei-lhe uma mensagem pelas redes sociais a elogiá-lo e gostava de ver alguém como ele ter um dia de glória», afirma, referindo-se às tais razões pelas quais está com o coração dividido.

José Condessa com a mãe Delfina, o pai Jorge e o avô Zé a assistir a um encontro do Benfica (Foto DR)

No que toca às semelhanças entre o futebol e as artes cénicas, Condessa diz que há muitos pontos de confluência. «Tal como em cena, também no futebol há momentos que não são teus, deves abrir espaço para que o teu colega brilhe. É o mesmo no futebol quando tens de saber qual é o timing certo para fazeres a assistência para o teu companheiro de equipa. É o mesmo que dares a deixa certa e ficares à espera que o outro que está em cena contigo sobressaía», entende.

Tal como em cena, também no futebol há momentos que não são teus, deves abrir espaço para que o teu colega brilhe

Condessa em cena com a atriz Luísa Cruz na peça 'A Andorinha' no Teatro Experimental de Cascais (Foto Instagram/zecondessa)

No fundo, para Condessa, o futebol ainda continua a ser, no seu entendimento, «aqueles jogos junto à igreja da Memória» com o primo em «que uma das balizas era a sarjeta e a outra a parede da igreja». 

Ator relembra os jogos com o primo no adro da Igreja da Memória (Foto A BOLA)

Confidencia que «ainda tem uma visão mais poética» da modalidade, pelo que está sempre disponível para contribuir para jogos solidários a favor das mais diversas causas. «Em termos comparativos com a cultura, há uma grande diferença nos valores envolvidos, mas ainda há muita gente para quem o futebol e o desporto é um escape de vidas mais complicadas. Acredito que o futebol ainda pode ter esse papel», conclui.