Incrível: qualificou seleção para o Mundial sem nunca ter estado no país

Em ano e meio no cargo, o francês Sebastien Migne nunca esteve no Haiti, que esta terça-feira se qualificou com os vizinhos Panamá e Curaçau

O Haiti conseguiu esta terça-feira a proeza de se qualificar para o Mundial 2026, mas o feito é ainda maior quando se sabe que foi alcançado sem o selecionador nunca ter estado no país.

O nível de insegurança no Haiti, sobretudo na capital Port au Prince, levou a que o treinador francês Sebastien Migne, de 52 anos, nunca tenha ido ao país desde que foi nomeado, há 18 meses. Foi isso mesmo que levou os Estados Unidos, que no próximo ano organiza o Mundial com Canadá e México, a restringir fortemente a entrada de cidadãos haitianos no país.

«É impossível porque é muito perigoso. Normalmente moro nos países onde trabalho, mas não posso aqui. Não há voos internacionais para lá», disse em entrevista à revista France Football. Migne baseou-se em informações sobre jogadores locais obtidas por telefone junto de dirigentes da federação. «Deram-me informações e eu geri a equipa remotamente», confidenciou.

Sebastien Migne, selecionador do Haiti

Mas Migne teve outro desafio pela frente: acrescentar ao plantel jogadores com raízes haitianas mas baseados no estrangeiro, como o ex-internacional francês sub-21 Jean-Ricner Bellegarde, do Wolverhampton, o extremo Josué Casimir, do Auxerre, e o antigo defesa belga Hannes Delcroix a comprometerem-se com a causa.

Mas não foi só Migne a ficar de fora. A seleção haitiana, agora composta inteiramente por jogadores que atuam no exterior, teve ainda a desvantagem de ter de sediar os seus jogos em casa em campo neutro. Tem usado Curaçau - a 800 quilómetros, curiosamente nação que também se qualificou - como base e foi lá que recebeu a Nicarágua esta terça-feira – venceu por 2-0 e beneficiou do empate sem golos entre a Costa Rica e as Honduras, para conquistar o Grupo C com 11 pontos (3 vitórias, 2 empates e uma derrota), mais dois que as Honduras.

Desde o sismo de 2010 que o Haiti vive em constante turbulência. Gangues armados assumiram o controlo de quase toda a capital, Port-au-Prince, num conflito que forçou cerca de 1,3 milhões de pessoas a abandonar as suas casas e alimentou níveis de fome comparáveis aos da fome extrema.

Os viajantes são desaconselhados a visitar a nação de 12 milhões de habitantes devido ao risco de raptos, criminalidade, atividade terrorista e agitação civil.

A qualificação para o Mundial dá esperança ao país, que tem apenas uma outra participação: em 1974 ficou-se pela fase de grupos só com derrotas, depois de ter calhado num difícil grupo com Itália, Polónia e Argentina.