Juan Ayuso e Primoz Roglic são os principais candidatos a suceder a Tadej Pogacar no Giro

Giro de Itália: não há Pogacar, aproveitem!

Sem o dominador da edição de 2024 para defender a 'maglia rosa', Primoz Roglic e Juan Ayuso perfilam-se como principais favoritos à sucessão do campeão do mundo. Jovem Eulálio é o único português na prova que parte esta sexta-feira na Albânia

Sem Tadej Pogacar, vencedor incontestado da edição de 2024, em que foi líder do segundo à última dia e o primeiro classificado em seis etapas, a Volta a Itália parte esta sexta-feira na Albânia com quatro dos últimos seis portadores da camisola rosa final no pelotão e ainda um quinto em edição anterior.

À exceção do esloveno campeão mundial, dominador na estreia na edição transata, líder indestronável, e do britânico Tao Geoghengan Hart, vencedor da edição de 2020 do Giro, em que o jovem estreante português João Almeida deslumbrou ao envergar a maglia rosa durante 15 etapas e com o quarto lugar final à geral, há um quinteto que se destaca na lista de participantes (alargada este ano a 184 corredores com a inclusão de mais uma equipa, num total de 23) por já ter erguido o belíssimo troféu Senza Fine, entregue ao vencedor desde 1999: Primoz Roglic (2023), Jay Hindley (2022), Egan Bernal (2021), Richard Carapaz (2019) e Nairo Quintana (2014).

Apesar das ausências de alguns dos melhores voltistas do WorldTour, como a referida de Pogacar, Jonas Vingegaard, que ainda está por se estrear na corsa rosa, Remco Evenepoel ou João Almeida, a edição 2025 da grande Volta italiana promete uma batalha aguerrida e emocionante pela camisola rosa entre um consagrado e um jovem ambicioso à procura da glória, num percurso em que serão as montanhas, como é tradicional no Giro, a estabelecer a hierarquia, colocando todos nos seus lugares.

No topo do favoritismo está Primoz Roglic, experiente líder da equipa alemã Red Bull-Bora-hansgrohe, que esta temporada voltou a decidir-se pela participação no Giro e no Tour, reeditando 2023, quando venceu em Itália pela Jumbo-Visma, impondo-se então a João Almeida, terceiro, e o britânico Geraint Thomas (2.º). Roglic, de 35 anos, já venceu ainda quatro Voltas a Espanha (é recordista em igualdade com o espanhol Roberto Heras) e apresenta-se no Giro rodeado de uma equipa fortíssima que inclui o vencedor da edição de 2022, o australiano Jay Hindley, e o segundo classificado em 2024, o colombiano Daniel Martinez, só derrotado pelo irresistível Tadej Pogacar.

Juan Ayuso e Primoz Roglic sprintam pela vitória numa etapa da Volta à Catalunha esta temporada

Primoz Roglic, de quem o diretor desportivo da Red Bull, Rolf Aldag, diz estar em «grande forma», deverá ter como principal oponente o jovem Juan Ayuso. O espanhol, de 22 anos, recebe, enfim, a confiança dos responsáveis da UAE Emirates para liderar a equipa n.º 1 do ranking mundial numa grande Volta - se excetuarmos a Vuelta 2023, em que foi colíder com João Almeida -, apesar de, no papel, partilhar o comando com o britânico Adam Yates. Ambos numa formação de luxo que inclui Jay Vine, Brandon McNulty ou Rafal Majka, e que certamente dividirá o protagonismo na batalha pela camisola rosa com a Red Bull. Como referência, esta temporada Ayuso já foi derrotado por Roglic na Volta à Catalunha.

Richard Carapaz, corredor da EF Education-EasyPost

Destas duas equipas, superpotências perante a concorrência, deverá sair o próximo vencedor do Giro, mas há que contar com pretendentes de valia noutras formações. Desde logo, em dois ex-ganhadores da corrida italiana, Egan Bernal e Richard Carapaz. O colombiano deverá apresentar-se na melhor forma desde o grave acidente em treino na pré-temporada de 2022 que lhe colocou em risco a carreira, já abrilhantada pelos triunfos no Tour 2019 e no Giro 2021. Poderá ser (ainda) demasiado pedir-se a Bernal que lute pela maglia rosa, mas o corredor, de 28 anos, já provou resiliência suficiente que sustentar uma moderada pretensão. O corredor, de 28 anos, lidera a britânica Ineos Grenadiers com o neerlandês Thymen Arensman, que chega após exibições de encher o olho na Volta aos Alpes, com vitória numa etapa e o 2.º lugar à geral.

Egan Bernal, corredor da Ineos Grenadiers

Menos imprevisível será a candidatura de Richard Carapaz, vencedor do Giro de 2019 e ter estado muito perto de repetir o sucesso em 2022, quando foi superado, com espanto, na montanhosa penúltima etapa pelo quase desconhecido Jay Hindley. O equatoriano não voltou a ter a regularidade indispensável a vencer uma grande Volta, restringindo-se a caçar etapas (importantes!) e a camisola da montanha no Tour (2024) e na Vuelta (2022). De regresso ao Giro, se sobreviver às primeiras tiradas mais seletivas, em que nos últimos anos no Tour e Vuelta tem hipotecado ambições à geral, Carapaz será um corredor a ter em conta, sempre ambicioso e batalhador.

Wout van Aert, corredor da Visma-Lease a Bike

Expectativa será observar igualmente o desempenho de uma das grandes vedetas do pelotão mundial, Wout van Aert, em estreia no Giro numa equipa da Visma-Lease a Bike com quase inédito descomprometimento pela classificação geral, apesar da integração de britânico Simon Yates, terceiro na corsa rosa em 2021 e vencedor da Vuelta em 2018, ano em que esteve 13 etapas na liderança até ter um dia mau (ou muito bom de Chris Froome, futuro vencedor) tê-lo atirado para a 21.ª posição final.

Troféu Senza Fine, para o vencedor da Volta a Itália

Obviamente, Van Aert não tem pretensões à geral final, vem atrás de vitórias de etapas, quiçá da camisola dos pontos e, com certeza, de se reencontrar com os grandes momentos no Tour (2019-22) ou até da Vuelta de 2024, antes de uma queda grave forçá-lo a desistir. No entanto, o belga adoeceu após a Amstel Gold Race (20 abril) e desde então treino condicionado e apresenta-se com «dúvidas» sobre a sua condição física e ambições para o início da prova, que passam por «vencer a primeira etapa e vestir a maglia rosa».

Mikel Landa, corredor da Soudal Quick-Step

Por fim, um corredor terá mais uma oportunidade (talvez das melhores, aos 35 anos) de concretizar o sonho de vencer uma grande Volta: o espanhol Mikel Landa, eterno candidato adiado, que liderará a Soudal Quick-Step sem Remco Evenepoel. Contudo, o basco tem na inadaptação ao contrarrelógio contraponto ao enorme talento na montanha. E sabe-se que é o equilíbrio que faz a diferença nas maiores corridas por etapas.

As etapas da Volta a Itália 2025
9/5: 1.ª etapa, Durrës (Albânia) – Tirana (Albânia) 160 km 10/5: 2.ª etapa, Tirana (CRI), 13,7 km 11/5: 3.ª etapa, Vlorë – Vlorë (Albânia), 160 km 12/5: Dia de descanso 13/5: 4.ª etapa, Alberobello – Lecce, 189 km 14/5: 5.ª etapa, Ceglie Messapica – Matera 151 km 15/5: 6.ª etapa, Potenza – Nápoles 227 km 16/5: 7.ª etapa, Castel di Sangro – Tagliacozzo 168 km 17/5: 8.ª etapa, Giulianova – Castelraimondo 197 km 18/5: 9.ª etapa, Gubbio – Siena 181 km 19/5: Dia de descanso 20/5: 10.ª etapa, Lucca – Pisa (CRI) 28,6 km 21/5: 11.ª etapa, Viareggio – Castelnove Ne’Monti 186 km 22/5: 12.ª etapa, Módena – Viadana 172 km 23/5: 13.ª etapa, Rovigo – Vicenza 180 km 24/5: 14.ª etapa, Treviso – Gorizia (Eslovénia) 195 km 25/5: 15.ª etapa, Fiume Veneto – Asiago 219 km 26/5: Dia de descanso 27/5: 16:ª etapa, Piazzola sul Brenta – San Valentino 203 km 28/5: 17.ª etapa, San Michele all’Adige – Bormio 155 km 29/5: 18.ª etapa, Morbegno – Cesano Maderno 144 km 30/5: 19.ª etapa, Biella – Champoluc 166 km 31/5: 20.ª etapa, Verrès – Sestrière 205 km 1/6: 21.ª etapa, Roma – Roma 143 km
Afonso Eulálio, corredor português da Bahrain-Victorious

Afonso Eulálio: «Aprender e experimentar fugas»  

Afonso Eulálio vai estrear-se em grandes Voltas no seu primeiro ano numa equipa do WorldTour, a Bahrain Victorious. O jovem, de 23 anos, ainda na temporada transata competir na formação Continental portuguesa ABFT-Feirense, com um calendário limitado «a corridas basicamente amadoras e meia dúzia de provas internacionais», como refere, e após alguns meses volvidos vê-se «a correr com o [Tadej] Pogacar».  

«Foi passar de um nível que quase nem me conhecem – e nem mesmo eu me conheço - a passar só a fazer este nível de corridas. O início foi um choque um bocado grande, e tem continuado a ser», reconhece, em entrevista à Lusa, o ciclista figueirense que despertou o interesse da Bahrain na última Volta a Portugal, em que andou seis dias de camisola amarela.

Afonso Eulálio, corredor português da Bahrain-Victorious

«Acaba por ser motivador. É o meu primeiro ano e a equipa tem depositado bastante confiança em mim. E isso também vai acabar por ajudar-me a crescer», afirmou, anunciando o seu objetivo para o seu primeiro Giro: «Aprender e estar junto da equipa». 

Eulálio terá como tarefa na corsa rosa apoiar o italiano Antonio Tiberi, o líder da equipa que, em 2024, foi quinto na geral e já esta temporada terceiro na Tirreno-Adriático. «O objetivo prioritário é estar junto do Tiberi e com isso trabalhar para a equipa e aproveitar para aprender. Mas claro que gostava de ter a oportunidade de ir duas vezes para a fuga, ou três, também para ver do que sou capaz», disse Eulálio, que na corrida de estreia em 2025, o Tour Down Under, na Austrália, foi 15.º classificado na geral e destacou-se em etapas com relevo exigente.  

«Sem pensar no resultado, tanto vitórias, como em fazer top 20 ou 50. Isso para mim não vai interessar nada, porque estou mesmo 100% ligado em ajudar a equipa. E, depois, quando tiver de desligar e perder meia hora, não tem mal nenhum», notou. 

Como principais adversários de Tiberi, o ciclista da Bahrain Victorious aponta Primoz Roglic (Red Bull-BORA-hansgrohe) e Juan Ayuso, assim como Adam Yates (ambos da UAE Emirates). 

Eulálio crê que todas as etapas serão importantes, ao contrário do a que estava habituado até ao último ano, e explica: «Antes sabia que uma etapa seria dura devido às subidas, mas as etapas planas mais tranquilas. Aqui [nas corridas internacionais], uma etapa plana acaba por ser quase, ainda mais dura, do que uma montanhosa. Porque quando há vento provocam-se abanicos, o que torna a corrida muito difícil».