Gelson Fernandes: «Fiquei mesmo feliz por Cabo Verde....»
— O que representou, em termos pessoais, este apuramento histórico dos Tubarões Azuis para o Campeonato do Mundo?
— Uma grande honra. Era um sonho para todos os cabo-verdianos. Um país pequeno, que sofreu muito, e que agora está no mais alto palco do futebol. É lindo.
— Onde estava no jogo que ditou o apuramento, com Essuatíni?
— Estava no estádio com a minha família. Também em representação da FIFA. Um momento de pura emoção, com tanta gente feliz. Não deve ter havido um cabo-verdiano em qualquer parte do Mundo que não tenha feito uma grande festa. Eu tive de ser muito contido, porque estava em representação da FIFA, mas sou cabo-verdiano, seria impossível não celebrar.
— Vamos falar um pouco dessas funções de representação da FIFA em África. Em que consistem?
— Sou diretor-adjunto Mundo e diretor África na FIFA. A minha missão é precisamente coordenar a implementação dos apoios da FIFA às associações africanas. Um programa chamado Forward, o maior contributo no desenvolvimento do desporto a nível mundial. E que nos permite trabalhar com cada país de forma muito concreta, respondendo às necessidades específicas de cada um deles. Nem sempre é fácil, porque os países têm estados diferentes de necessidades e até de estabilidade. Há países com guerra dentro de portas, outros têm problemas sérios de governação, instabilidade política e social.... Mas, de forma global, estamos no caminho certo porque estamos a dar oportunidades aos jovens.
— Assumiu estes função a 1 de agosto de 2022. Em três anos, o que o tem orgulhado mais?
— Todos os projetos são importantes. Naturalmente que ajudar uma federação pequena, de um país pequeno, como Cabo Verde e ver depois os resultados é um motivo de orgulho enorme. Mas acudimos a todas as federações com igual empenho....
«BUBISTA TEM HUMILDADE»
— Que tipo de apoio é mais necessário em Cabo Verde?
— Temos apoiado muito em infra-estruturas, investimento e know-how. Temos apoiado financeiramente a Federação, a operação ao nível da seleção e respetiva preparação, por exemplo, é suportada pela FIFA. Tal como os salários dos profissionais. Eu diria que 90 a 95 por cento da operação da federação é suportada pela FIFA.
— Como tem sido o diálogo com Mário Semedo, um decano entre os presidentes de federação dos PALOP e africanos?
— Mário Semedo tem muita qualidade. E é uma pessoa de bem, que trabalha com grande sentido estratégico. O sucesso que os Tubarões Azuis estão a viver deve-se muito a ele. É importante reconhecer, elogiar mas também continuar a ajudar.
— Que opinião tem do selecionador de Cabo Verde, Bubista, que acaba o ano a ser eleito o melhor treinador do ano de África?
— É um treinador local. Um ex-jogador. Um treinador de qualidade e que está a fazer história em Cabo Verde. É uma pessoa muito humilde, trabalha sempre em prol do jogador.
— Que tipo de ajuda vai Cabo Verde continuar a receber da FIFA?
— Temos que continuar a desenvolver o futebol feminino, cuja seleção também fez história ao apurar-se pela primeira vez para a CAN; apostar na formação do jovem jogador; ajudar à profissionalização dos clubes; apostar na formação e qualidade dos árbitros.
— Ser dirigente após deixar de jogar sempre foi a primeira opção?
— As coisas foram acontecendo. Ser treinador também é uma opção, mas para já estou feliz e sinto-me útil como dirigente. A oportunidade surgiu, não estava à espera, decidi agarrar com as duas mãos.
— Alguma vez equacionou ser internacional por Cabo Verde e não pela Suíça?
— A escolha não existia, Cabo Verde não tinha a possibilidade de receber jogadores como eu ou o Jorge Andrade... Não tinha ainda estruturas para isso, foi criando para as atuais gerações poderem, agora sim, escolher.
— O que também não é uma questão de escolha é a raiz cabo-verdiana?
— Claro. Sou cabo-verdiano de sangue, nasci lá. Sou cabo-verdiano nos valores e no trabalho. É a minha identidade. O Zouk, o funaná, as mornas a comida, a cultura. Cabo Verde é para onde viajo todos os dias. Uma viagem mental que me dá tranquilidade, segurança, ânimo. Onde me encontro, no fundo. Preciso de sentir o pulsar da minha terra. Beber da energia do meu povo e país.