Epopeia no Campeonato de Portugal: guarda-redes assiste, marca e dá a vitória ao Salgueiros

Provavelmente, nem Camões se lembraria de uma epopeia como a que lhe passamos a contar: o Salgueiros perdia por 0-1 e estava com menos um jogador em campo. Inesperadamente, o guarda-redes vestiu a capa de herói e virou o jogo com uma assistência e um golo. Parece inacreditável, mas esta história «épica» aconteceu mesmo, no último fim de semana, no confronto entre Alpendorada e Salgueiros para o Campeonato de Portugal (CP).

«Foi mesmo épico. Ainda por cima sendo eu guarda-redes e conseguir dar a vitória com uma assistência e um golo. Se quando é com uma defesa já é difícil...», confessou José Chastre, em entrevista a A BOLA.

«Foi um inexplicável. Não consigo exprimir em palavras o que senti no final do jogo», acrescentou o jogador de 32 anos, formado no FC Porto e Leixões, ainda perplexo com o que aconteceu no partida da Série B do CP.

O Alpendorada abriu o marcador aos 36'. Chastre não conseguiu defender a grande penalidade (estes heróis...). No início da segunda parte, mais uma contrariedade para o Salgueiros: Vitinho foi expulso. Foi então que Chastre vestiu a 'capa' (qual defender penáltis, qual quê...). À passagem do minuto 61, o guarda-redes bateu forte na frente e isolou o antigo campeão nacional pelo FC Porto, Diogo Valente, que fez o golo do empate.

Diogo Valente, hoje com 41 anos e capitão do Salgueiros, recorda o momento, ao nosso jornal: «Faço muitas vezes aquele movimento diagonal. Por acaso, ali o ponta de lança não raspou a bola. Veio direta do Chastre. No ataque à profundidade, ganhei as costas do defesa. Tive o feeling já de muitos anos de experiência que a bola ia passar e passou. Depois acreditei até ao fim, fui feliz e consegui fazer o golo que deu esperança à equipa.»

Fazer uma assistência não foi novidade para o guardião que atuou na Liga 2 entre 2013 e 2020, no Leixões, Famalicão, União da Madeira e Mafra. Mas um golo... Chastre nunca havia marcado. Algum dia teria de acontecer e o guardião garante que foi um gesto intencional: «Olhei para a frente para ver se podia pôr a bola em alguém e vi que o guarda-redes estava um bocado adiantado. Já tinha reparado que estava um bocado de vento na direção daquela baliza. Por isso, tentei chutar a bola com força, que acabou por bater no chão, passar por cima do guarda-redes e, com o vento, entrou. Os três avançados ainda estavam a correr para a frente e eu acabei por chutar rápido a bola. Não foi nada trabalhado, nem indicação de ninguém. Foi do momento.»

«Há uma reação que é hilariante. Quando o Chastre bate a bola, o nosso ponta de lança vê a bola a sair muito longa e começa a reclamar com ele, porque a bola não foi para ele. Ele nem viu o golo, porque estava a reclamar com o Chastre. Foi hilariante ver a reação do Gustavo, quando vimos o vídeo no balneário», nota Diogo Valente.

O golo da reviravolta foi marcado aos 87' e, a partir dali, foi sofrer até ao fim. O Salgueiros ainda viria a ficar reduzido a nove jogadores, com a expulsão de Gustavo Coutinho aos 90+14'.

No final, após a vitória com contornos homéricos, a equipa sentiu que poderia ter nascido ali um «ponto de viragem» de uma época que não está a correr com a maior das feições para o velho salgueiral. «Não vínhamos de uma boa fase, já não ganhávamos há alguns jogos. Agora vamos tentar pegar nisto como um ponto de viragem e tentar subir na tabela para chegar aos lugares de acesso à fase de subida», perspetivou o guardião ex-Oliveira do Hospital.

«Sentimos que pode ter sido um momento de viragem», confirmou Diogo Valente. «Ainda por cima da maneira que foi, com todas as contrariedades, mas com a alma que nos caracteriza. Foi incrível. Foi uma vitória muito importante, porque estávamos a atravessar uma fase difícil. E ainda estamos. Estamos longe dos objetivos que foram propostos esta época. Quem joga no Salgueiros sabe que o foco é sempre a subida de divisão, que é o objetivo do clube já há alguns anos», acrescentou.

Neste momento, a equipa portuense ocupa o 6.º lugar da Série B. Apenas os dois primeiros ficam apurados para a fase se subida (neste momento, Rebordosa e Leça).