Da justiça desportiva
Ajustiça desportiva portuguesa tem, nos incidentes registados no clássico do Dragão (foi tudo tão vergonhoso, pelo menos que sirva para alguma coisa...), um desafio que não deve desperdiçar e uma oportunidade que não pode perder. O desafio passa por mostrar, de uma vez por todas, ser verdadeiramente independente e indiferente aos nomes, de clubes e jogadores, ou à grandeza dos envolvidos. A oportunidade é de provar que consegue ser célere e punir, sem contemplações, comportamentos que têm de ser erradicados de uma vez do futebol em Portugal.
Sobre os jogadores que podia punir em processo sumário, os que foram expulsos por agressões a companheiros de profissão, mão pesada, como se pedia - não tanto pelas agressões em si, mas pelo momento em que ocorreram: três jogos para Palhinha, dois para Marchesín. Em relação a Pepe e Tabata, suspensão provisória enquanto decorre o processo que conduzirá (só pode conduzir) a penas mais pesadas. Tudo certo. Veremos (e é neste ponto que reside o real desafio e a real oportunidade) o que acontece em relação ao resto: as agressões de pessoal acreditado para colocar publicidade e apanha-bolas a jogadores do Sporting e o inqualificável comportamento de Vítor Baía e Rui Cerqueira depois da conferência de Imprensa de Frederico Varandas - tiremos, por agora, Sérgio Conceição do quadro, porque embora o Sporting insista na presença do treinador do FC Porto no momento dos insultos e tentativas de agressão ao presidente do Sporting não foi, até ao momento, aberto qualquer inquérito que o vise.
No primeiro caso, aquele que aconteceu à vista de todos, a coisa parece de simples resolução. Não precisa, naturalmente, o Conselho de Disciplina que o FC Porto conclua o processo de averiguações que timidamente anunciou e ainda sem resultados conhecidos - não parece, afinal, tão complicado, porque todos os coletes estavam numerados. E a conclusão do processo só pode, naturalmente, terminar num castigo aos dragões, como organizadores do jogo e, por isso, responsáveis por quem tem acesso, com as suas acreditações, à zona do relvado. E não pode ser, naturalmente, um castigo qualquer, porque só assim pode dar um exemplo que acabe, de uma vez, com o sentimento de impunidade que parece reinar nalguns estádios.
Sobre aquele que aconteceu longe da vista, na garagem do Estádio do Dragão, se vierem a ser provadas as acusações contra o vice-presidente e o responsável pela comunicação do FC Porto - e o que o próprio clube e os seus responsáveis têm dito depois do incidente, em que afirmou perceber a reação de alguns dos seus face aos insultos de Varandas a Pinto da Costa, parecem indiciar que serão facilmente provados -, a punição tem, também ela, de ser pesada, para ver se acabamos, de uma vez por todas, com os insultos, ameaças e afins que sofre quem, naquela sala de imprensa, diz ou pergunta aquilo que os responsáveis do FC Porto não gostam. Não vale tudo.
PS - Ainda sobre o que se seguiu ao clássico: incríveis as provocações que o FC Porto tem feito, nos seus órgãos oficiais, ao Sporting depois do clássico, que incluíram, até, uma dedicatória especial depois da goleada na Champions frente ao Manchester City. O FC Porto é um grande clube, português e mundial, mas alguns dos que o servem, aparentemente sem dimensão para servi-lo, teimam em tratá-lo de forma muito pequenina...
AINDA sobre a justiça desportiva: é inenarrável aquilo que aconteceu no caso Palhinha, provavelmente o primeiro jogador da história do futebol mundial e escapar a uma suspensão depois de ter atingido o limite legal de amarelos que pode ver numa época sem cumprir castigo. Depois de o Supremo Tribunal ter dado razão ao Tribunal Central Administrativo Sul, é caso para perguntar: o juiz que aceitou a providência cautelar e os juízes do TAD que, sem competência para tal, anularam o castigo ao médio do Sporting, não deviam ser, eles, alvos de um inquérito e, se calhar, de uma suspensão?