Chishkala atira-se a Cassiano Klein: «Disse-me que estava no fundo da hierarquia»
Ivan Chishkala deixou o Benfica para assinar com o Torpedo no final da última época e numa entrevista ao portal russo sports.ru, explicou porque é que, aquando da saída, disse que teve de «lutar contra outras forças» durante a passagem pela Luz.
«Trata-se, em primeiro lugar, das relações entre as pessoas. Em qualquer organização desportiva, especialmente numa tão grande como o Benfica, quanto mais alto é o nível, mais interesses diferentes surgem: financeiros, mediáticos, humanos e assim por diante. E maior é a concorrência dentro da equipa, porque todos querem sobreviver, subir ao pódio e atribuir a vitória a si próprios.»
«E no clube há uma constante mudança de pessoas», continuou, explicando que desde a primeira temporada no Benfica, só restavam ele, Afonso Jesus, Arthur e Silvestre. «Tivemos quatro treinadores e acontece que chegam pessoas novas e simplesmente não se consegue estabelecer uma boa relação. E isso é normal. Agora chegou um momento em que percebemos que os nossos caminhos se separam.»
«Se tivesse recebido uma oferta no início da temporada, teria aceitado»
Explicando essa separação, Chishkala disse que, no início da época 2024/25, estava aberto a renovar e que havia «90% de hipótese» de ficar - «Se tivesse recebido uma oferta no início da temporada, teria aceitado» - só que essa probabilidade foi diminuindo com o passar do tempo: «Depois do Ano Novo a situação já estava 50/50 e, quanto mais perto do fim, menos chances havia. Portanto, em resumo, a questão era: “Quando?”.»
Ainda assim, foi nesta época que conquistou o único título de campeão em Portugal com Casiano Klein no comando da equipa. No entanto, a relação com o brasileiro não foi a melhor.
Ele queria controlo total, tentava controlar-me o tempo todo.
«O treinador dizia que eu devia jogar de uma determinada maneira, como todos, e fazer o que ele mandasse. Ele queria controlo total, tentava controlar-me o tempo todo. Eu respondia: “Eu entendo o que preciso fazer, não é preciso estar a dizê-lo constantemente. Eu posso dar resultados de outra forma e não vou destruir o sistema”. Tentei explicar a minha posição, mas ele simplesmente me dizia de forma direta: "Tens de obedecer, porque estás no nível mais baixo da hierarquia". Mas eu respondia que isso não ia funcionar comigo. E, nesse contexto, havia um mal-entendido constante entre nós.»
Chega o sábado, eu marco no jogo, mas o mais importante é que jogo bem e ajudo a equipa. E depois do jogo, o treinador diz que não foi por causa do treino correto, mas que eu simplesmente tive sorte.
Pedido para dar um exemplo desse controlo de Klein, o jogador, que marcou 27 golos na última época de águia ao peito, disse: «Eu já sou um jogador experiente e sei como me preparar para um jogo. E se temos um jogo no sábado, na quinta-feira, no treino, dou 70%-75% de mim, sabendo que preciso poupar as forças. Observando-me de fora, nem se percebe que estou a fazer algo errado. Não é que eu não esteja a correr, simplesmente não me esforço a 100%. O treinador diz-me que isso não o agrada. Eu respondo: “Espere, no sábado vou mostrar o resultado”. Ele responde que não acredita nisso e que já viu muitos jogadores assim. Chega o sábado, eu marco no jogo, mas o mais importante é que jogo bem e ajudo a equipa. E depois do jogo, o treinador diz que não foi por causa do treino correto, mas que eu simplesmente tive sorte.»
«Não tínhamos questões um com o outro em relação ao jogo em si. Ele é um excelente profissional e eu não sou um mau jogador, e não havia conflito entre nós, porque sempre conversávamos. Mas, ao mesmo tempo, somos simplesmente diferentes. Ele e o diretor desportivo queriam ter controlo total sobre mim, mas eu não lhes dava isso», continuou.
«Tentaram pressionar-me, mas isso também é difícil, porque os adeptos do Benfica gostam muito de mim. E na pirâmide eu estava bastante alto, por isso era preciso falar comigo de igual para igual, e isso não agradava ao treinador. Portanto, se querem saber os pormenores, não vou contar muito, mas isto já é suficiente.»
«A relação com o Benfica é muito boa»
Apesar destes dissabores, Chishkala também está agradecido pelo período que representou os encarnados, não descartando um regresso ao Benfica: «O clube despediu-se de mim com muito carinho e calor humano. Publicaram um vídeo, gravaram uma entrevista sobre os cinco anos que passei lá e agradeceram-me. Ou seja, a nossa relação continua muito boa. E essa porta não está fechada. Simplesmente chegámos a um ponto em que os nossos caminhos se separaram, mas continuamos gratos um ao outro.
«Somos adultos e profissionais, não ficamos ofendidos uns com os outros, simplesmente temos visões diferentes e entendemos que cada um devia seguir o seu caminho. Por isso, considero que não se trata de um conflito», concluiu.