As questões do género celebradas todos os dias 8 de março. Foto Instagram

Calcem lá os 'stilettos', por favor

Sou do tamanho do que vejo

Não sou feminista. Nunca fui e creio que nunca me tornarei. Trabalho desde sempre com homens e gosto. Gosto do ar descomprometido com que, na maioria dos casos, encaram os problemas e da forma desempoeirada com os resolvem. Amanhã celebra-se o Dia da Mulher e não consigo encontrar uma posição firme sobre o que pensar da data. Há anos em que me apetece sair a reclamar da importância que o mesmo tem na procura interminável da igualdade de oportunidades, e de reconhecimento, e gritar alto que só assim é possível continuar a lutar contra a desigualdade de género. Há outros em que me apetece gritar que quando o celebramos acentuamos e marcamos essa mesma diferença. Nunca senti que os meus companheiros de redação olhassem para mim com superioridade pelo simples de facto de serem homens, embora não possa dizer o mesmo de outros com diferentes responsabilidades.

Nesta data lembro-me sempre de uma campanha em que o judoca João Pina e o jogador de râguebi Gonçalo Uva posaram com stilettos, saltos altos para o género masculino, uma produção fotográfica em nome dos direitos das mulheres. Os dois atletas faziam parte do leque de 100 homens que aceitaram o desafio, a que se juntou também a equipa basquetebol do Benfica.

Quando Serena Williams regressou aos courts, cinco meses depois de ter sido mãe, tinha caído de número 1 para 453.ª no ranking. «Não deveríamos ser punidas pelo desejo de ter um bebé», reclamou a americana. A partir de 2019, a WTA deu proteção a quem regressava depois de ser mãe. As jogadoras passaram a poder utilizar o ranking que possuíam antes de interromperem a atividade em 12 torneios, ao longo de um período de três anos e não podiam enfrentar uma cabeça de série numa ronda inaugural. Nada de especial, dirão alguns, mais um passo digo eu.

No último mês, vi notícias de duas tenistas, Petra Kvitova e Belinda Bencic, que regressaram à competição depois de serem mães. É notícia? É. Mas quando um tenista continua a jogar depois de ser pai, raramente damos conta disso. A paragem é por opção das mulheres? Muitas vezes sim, outras talvez não. Ainda não é fácil usar saltos altos no século XXI.

Continuo a acreditar, ingenuamente talvez, que vivemos bem nas nossas diferenças e que são elas que fazem isto tudo andar para a frente. Mas, às vezes, há dias em que me apetece dizer a alguns homens: «Calcem lá uns stilletos, por favor.» Pelo sim, pelo não.