Buscas no Boavista: suspeitas de 10 milhões de lucros ilícitos, seis arguidos
A Polícia Judiciária, sem identificar o Boavista, revelou pormenores sobre o processo que levou à realização de buscas no Estádio do Bessa, esta terça-feira, e em outros locais, nomeadamente na casa de Vítor Murta, antigo presidente do clube e da SAD.
Em causa estão suspeitas dos crimes de «fraude fiscal, frustração de créditos e branqueamento, praticados por quadros dirigentes, contabilistas certificados, escritório de advogado e sociedade de revisores oficiais de contas», num esquema que terá produzido «lucros ilícitos estimados em cerca de 10 milhões de euros» entre 2023 e o final de 2024.
Foram constituídos seis arguidos, «singulares e pessoas coletivas», informou ainda a PJ, que arrombou a porta do Estádio Bessa para poder dar cumprimento ao mandado de busca. Desses seis, três são o Boavista clube, a Boavista SAD e Vítor Murta, segundo a agência Lusa.
Mais tarde, em comunicado do clube e da SAD, ambos negaram ser visados no processo, apesar de fonte judicial o ter avançado à Lusa. «O conselho de administração manifesta total serenidade relativamente ao processo em causa e reafirma a sua inteira disponibilidade para cooperar com transparência, responsabilidade e espírito institucional. De ressalvar que a Boavista FC Futebol, SAD não foi constituída arguida, sendo ela a alegada lesada», lê-se na nota publicada no site do clube.
O Boavista atravessa situação grave, com pedido de insolvência e descida administrativa aos campeonatos distritais, depois de ver tanto a Liga como a Federação Portuguesa de Futebol recusarem-lhe a inscrição, por dívidas ao Estado.
O comunicado da PJ na íntegra
A Polícia Judiciária, através da Diretoria do Norte, procedeu no dia de hoje, no Grande Porto e em Viseu, ao cumprimento de dez mandados de busca domiciliária e não domiciliária, por factos em investigação ocorridos entre 2023 e finais de 2024, relacionados com um grupo de empresas ligadas ao fenómeno desportivo e lucros ilícitos estimados em cerca de 10 milhões de euros.
Em causa estão crimes de fraude fiscal, frustração de créditos e branqueamento, praticados por quadros dirigentes, contabilistas certificados, escritório de advogado e sociedade de revisores oficiais de contas.
O modus operandi em causa implicou a utilização de contas bancárias de passagem tituladas por terceiros singulares, transferências internacionais e depósitos em numerário de origem e destino não clarificados, movimentos esses justificados apenas parcialmente e por contratos de empréstimos cruzados que levantavam suspeitas quanto à ocultação de rendimentos, desvio de fundos com vista a prejudicar credores e ulterior branqueamento.
As diligências em causa, efetuadas no âmbito de um inquérito titulado pela DIAP do Porto, foram presididas por um juiz de instrução criminal e acompanhadas por uma procuradora da república, visando a recolha de prova documental e pessoal sobre a natureza de diversas transferências bancárias suspeitas, comunicadas pelas entidades bancárias, e ainda movimentações em numerário e outras operativas relacionadas com a transferência de ativos das empresas e com isso esclarecer a prática dos ilícitos descritos.
Foi apreendida diversa documentação relacionada com os crimes em investigação assim como equipamento informático.
Foram constituídos seis arguidos, singulares e pessoas coletivas.