As mil e umas histórias do último Atlético-Benfica
O sorteio da Taça de Portugal ditou que em confronto estejam nesta eliminatória da prova rainha o Benfica se cruze com um dos históricos do futebol nacional, o Atlético.
São muitos os episódios dos encontros e desencontros entre as águias e os alcantarenses mas foquemo-nos no último entre equipas principais dos dois clubes, que já caminha a passos larguíssimos para os 43 anos, pois foi disputado numa tarde fria e chuvosa de dezembro de 1982, mais concretamente no dia 11 e também para a Taça.
Tozé, hoje com 68 anos depois de uma vida dedicada ao futebol como jogador e funcionário do sindicato, na altura tinha 25 anos foi um dos que foi chamado à liça por parte do Atlético.
Passados tantos anos, A BOLA convidou o antigo atleta, que também passou pelo Benfica a ir ao Estádio da Tapadinha e abrir o baú das recordações. Confessa uma certa «nostalgia» quando reentra pela porta do principal do recinto do clube em que se formou e passa às revelações. «O que me lembro é que vi no Estádio da Tapadinha uma moldura humana enorme. Estava cheio, como já não se não se vê hoje, o que lamento. Realisticamente, o jogo teve pouca história, porque perdemos 6 a 0 com o Benfica, mas é sempre o Benfica, e na altura, não querendo ser saudosista, o Benfica era diferente em relação ao atual», afiança, recordando que nessa temporada, a primeira sob o comando de Sven Goran Eriksson, as águias chegaram à final da Taça UEFA, que perderam para os belgas do Anderlecht — na altura a final ainda era a duas mãos e em Bruxelas os encarnados perderam 0-1 e em Lisboa não foram além de um empate a uma bola.
Voltando ao encontro da Tapadinha, os golos benfiquistas foram apontados por Diamantino, Filipovic, Humberto Coelho (2), Pietra e Veloso. Mas o encontro ficou marcado, também por um episódio inusitado com a principal estrela encarnada, Fernando Chalana. «É caricato, é caricato, porque havia dez minutos de jogo, e aqui na lateral dos sócios do Atlético, alguém da famosa V Coluna atirou ao Fernando, como nós dizemos aqui em Alcântara, um pombo sem asas… No fundo é uma pedra… O Fernando estava ali mesmo à mão de semear, levou com a pedra e coitado, teve que sair», relata.
Na bancada esteve o sueco Stromberg, que ainda não era jogador do Benfica em termos oficiais mas fez questão de assistir á partida.
OS ‘DITOS’ DA BANCADA
As gentes do popular Alcântara são conhecidos pela língua afiada e por muitas vezes utilizarem a ironia para relatar certos acontecimentos. Um dos repórteres de A BOLA escalados para o encontro, Vítor Hugo o cronista foi Aurélio Márcio, apontou alguns dos ditos dos sócios do Atlético.
Dois deles passaram pelo facto do guarda-redes da equipa da casa, Caeiro, ter sido substituído pouco depois do intervalo por Adérito — «tínhamos um zarolho e um marreco, ficámos com o marreco» — e o outro pelos defesas benfiquistas terem apontado quatro dos seis golos — «a cabeça do Humberto devia ir para um museu» e « eles não jogam puto, só os defesas é que marcam golos». «É uma forma sui generis de ver as coisas. Se calhar o Caeiro, que é pai do Tiago Caeiro que jogou aqui e no Belenenses, tinha mais uma lesão psicológica do que outra coisa… Não sei se o Caeiro era chamado de zarolho mas ele não era estrábico. Agora o meu amigo Adérito confirmo que tinha a alcunha do marreco», comenta Tozé.
O antigo jogador relembra, também, que ainda o resultado estava apenas em 1-0 para o Benfica fez «um grande passe para o Vítor Manuel, mas este só com o Bento pela frente fez um chapéu que saiu por cima da baliza».
MOURINHO DO OUTRO LADO
O jogo de sexta-feira será no Estádio do Restelo, recinto do eterno rival dos alcantarenses, o Belenenses. «Lembro-me que aqui na Tapadinha, na penúltima jornada da Zona Sul da II Divisão, ganhámos ao Belenenses por 1-0, com um golo meu. Baixámos de divisão, mas os tifossi fizeram a festa», recorda.
Nessa temporada de 1982/83, Mourinho Félix, pai de José Mourinho, começou a temporada nos azuis do Restelo, com o agora técnico do Benfica a fazer parte do plantel na condição de jogador, mesmo que tenha atuado muito pouco. Tanto no jogo da primeira volta como no da segunda não jogou.
O Atlético foi despromovido e Tozé relembra que Rui Águas fazia parte do plantel mas esteve lesionado muito tempo, tal como ele próprio, que partiu o braço duas vezes.