Adiada a leitura do acórdão da operação Prova Limpa
A tão aguardada leitura do acórdão da operação 'Prova Limpa', que senta 26 arguidos no banco dos réus - entre eles vários ex-ciclistas da W52-FC Porto - foi adiada para 12 de dezembro. A sessão estava marcada para a tarde desta terça-feira, mas um detalhe jurídico acabou por travar o momento.
A defesa da Associação Calvário Várzea, clube que esteve na génese da equipa, não abriu mão do prazo legal para responder a uma alteração não substancial dos factos, relacionada com a sua qualificação jurídica. Perante este impasse, o presidente do coletivo de juízes decidiu reagendar a leitura para as 14h de 12 de dezembro. O julgamento decorre num pavilhão junto ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, apesar de pertencer ao Tribunal de Penafiel.
Em maio, o Ministério Público pediu penas suspensas para todos os arguidos, desde que estes indemnizem a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC). Para o MP, ficaram comprovados «todos os factos e todos os crimes» descritos na acusação.
A operação 'Prova Limpa' remonta a abril de 2022. Durante o Grande Prémio O Jogo, a Polícia Judiciária realizou dezenas de buscas por todo o país, maioritariamente em casas de ciclistas e dirigentes da W52-FC Porto. Daí resultou a apreensão de centenas de seringas, material para transfusões e várias substâncias dopantes, entre as quais betametasona, somatropina, insulina e Aicar.
Dos 26 arguidos, todos respondem por tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 enfrentam também acusações de administração desses métodos. Entre eles estão nomes como Adriano Quintanilha, a Associação Calvário Várzea, o ex-diretor desportivo Nuno Ribeiro e o adjunto José Rodrigues.
Nas alegações finais, o procurador apontou Quintanilha, Ribeiro e Hugo Veloso, contabilista da equipa, como «os principais mentores» do esquema. O julgamento trouxe versões completamente distintas por parte do ex-diretor desportivo e do ex-patrão da equipa: Ribeiro admitiu o doping e disse ter sido financiado por Quintanilha, que queria «ganhar a todo o custo», enquanto o proprietário negou qualquer envolvimento.
O MP reconheceu que o grande desafio será fixar as penas, uma vez que há também farmacêuticos acusados de fornecer substâncias dopantes. Ainda assim, por serem primários, o procurador defendeu que nenhum dos arguidos deveria cumprir pena efetiva.
Entre os ciclistas julgados estão nomes bem conhecidos do pelotão nacional: João Rodrigues, Rui Vinhas, Ricardo Mestre, Joni Brandão, José Neves, Ricardo Vilela e outros que marcaram uma era na W52-FC Porto - equipa que dominou a Volta a Portugal entre 2016 e 2021. Três dessas conquistas acabariam, contudo, anuladas devido a casos de doping detetados nos vencedores, Raúl Alarcón e Amaro Antunes.