É com este plantel, apresentado nesta segunda-feira, 28 de julho, que o Vitória Sport Clube vai atacar 2025/2026 (FOTO: VSC)
É com este plantel, apresentado nesta segunda-feira, 28 de julho, que o Vitória Sport Clube vai atacar 2025/2026 (FOTO: VSC)

A primeira época do resto das nossas vidas

Sentido de Pertença é o espaço quinzenal de opinião de André Coelho Lima, jurista, empresário e associado do Vitória SC

1 O Vitória completa em setembro 103 anos de vida. Completa um ciclo centenário e termina um período em que conseguiu três apuramentos europeus consecutivos, não o tendo logrado alcançar para esta época 2025/26. Quem tem a paciência para acompanhar estes meus desabafos vitorianos tem verificado que por diversas vezes exultei a circunstância de o Vitória ter conseguido três apuramentos europeus consecutivos, algo que, efetivamente, só havia conseguido por uma vez na sua História: 1986/87, 1987/88 e 1988/89. Muito embora tenha falhado estrondosamente, para mais, após uma performance europeia absolutamente magnífica, o quarto apuramento consecutivo, aí igualando a melhor sequência de sempre: 1995/96, 1996/97, 1997/98 e 1998/99. Volto a estas métricas para dizer que, sendo embora eu um adepto da consciência financeira e defensor acérrimo de que os clubes (tal como sucede com as empresas e com as famílias) não devem ir para além da sua capacidade financeira, embora propugne que o Vitória deve privilegiar o seu equilíbrio financeiro à aposta na sua performance desportiva, até eu sinto que estamos num período da vida do clube onde essas realizações históricas podem/devem ser todas pulverizadas.

2 Encontramo-nos num período de uma estabilidade diretiva única desde a saída de António Pimenta Machado (António Miguel Cardoso, na sua primeira reeleição, foi reconduzido com 90% dos votos), sente-se que os sócios e adeptos do clube se reveem no seu projeto, que estão com o clube, que querem conferir estabilidade ao nosso futuro próximo. O que significa condições de estabilidade únicas para poder implementar projetos de longo prazo. Está em marcha um processo de construção de uma nova Academia (e nunca esquecer do quão inovadora e modelar foi a nossa Academia quando pensada por Pimenta Machado nos inícios dos anos 90, quando ainda nenhum clube português o tinha) que permitirá ao clube condições de formação ainda melhores do que as que já dispõe. E ao nível da equipa de futebol, estando a terminar um ciclo que nos deu muitas alegrias, está a ser construída uma equipa de gente muito jovem, de atletas que, singrando, podem permitir ao nosso clube, finalmente, passar de patamar. Não apenas integrar o top-5 mas passar a disputar posições com os demais emblemas desse top-5 coisa que, temos de reconhecer, não sucede atualmente. Deixar de festejar os apuramentos europeus, mas eles passarem a ser o que nos toca todos os anos.

3 Escrevo no dia da apresentação oficial dos plantéis do Vitória (teve lugar na noite de segunda-feira), pelo que, nesta esteira do que digo em cima, me proponho analisar a medida em que o que está a ser construído pode, ou não, significar a construção de uma equipa que mais do que representar presente, represente futuro. Que nos permita regressar aos palcos internacionais que são nossos, por direito e, mais do que isso, neles nos fazer singrar com consistência e não episodicamente.

4 Apesar de considerar que não deve existir equipa A e equipa B, mas apenas o plantel do Vitória que distribui os seus atletas por duas equipas, uma na Liga 1 e a outra na Liga 3 (e espero que Luís Pinto o veja da mesma forma), começando pela equipa B diria que nas alterações a registar temos o que poderia designar como um rigor oriental: saem os defesas direito e esquerdo (Gonçalo Braga e Martim Alberto) e entram, para os seus lugares, o defesa-direito Rafa Peixoto (20, Covilhã) e o defesa-esquerdo Deivid (20, Leixões); sai o central Dénis Duarte e entra Rafael Alcobia (22, U. Santarém); sai o medio de transição Chico (emprestado ao Salgueiros) e entra para essa posição Diogo Rebelo (21, Gondomar); sai o médio ofensivo Gonçalo Pinto e entra para essa posição Dani Carvalho (21, V. Setúbal); sai o médio ala direito Diogo Ferreira e entra, para essa posição, Guilherme Paula (21, Covilhã). Obviamente que não conheço os jogadores que entram, mas além de confiar em quem os escolhe encaixam no perfil, que penso dever presidir à nossa política de contratações, de procurar jogadores que despontem nos escalões inferior do nosso futebol.

Já na equipa A, o rigor na substituição posição a posição nunca pode ser o mesmo, até porque temos uma alteração tática que obriga a uma adaptação do plantel. Mas para a saída de Bruno Varela tivemos a entrada de Juan Castillo (22, Fortaleza, Colômbia). Entra Lebedenko (26, Vizela) para uma posição onde tínhamos apenas uma opção (João Mendes). Entram quatro centrais para apenas colmatar três saídas (Jorge Fernandes, Mikel Villanueva e Filipe Relvas). Para o meio-campo veio a jovem esperança sérvia Mitrovic (20, Zeleznicar Pancevo) para uma posição onde eram expectáveis saídas de vulto. Entram os extremos Fábio Blanco (21, Marítimo) e Oumar Camara (18, PSG). E, claro, Diogo Sousa (18), Rodrigo Duarte (19) e Rika (19), produto da nossa cantera e que contam agora para estas contas. Em suma, o que se verifica é que temos uma nova equipa em construção. Com (bastantes) atletas da nossa formação, com contratações com perfil bastante jovem (Mitrovic e Camara são, neste particular, grandes esperanças), com margem de amadurecimento e progressão. É, por isso mesmo, a construção do Vitória não do imediato mas do futuro próximo. E isso entusiasma sempre o adepto de futebol. Saibamos ter a paciência que estes processos sempre implicam e iremos, estou certo, colher os frutos que merecemos.

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