Revisão da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto tem sido defendida por várias entidades
Revisão da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto tem sido defendida por várias entidades (Foto: Imago)

A Lei do TAD em perspetiva (II)

'Dire(i)to ao Desporto' é o espaço de opinião semanal de Marta Vieira da Cruz, jurista

Várias entidades se têm manifestado no sentido de ser necessária uma revisão da Lei do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), entre elas a Federação Portuguesa de Futebol, cujo presidente, Pedro Proença, deixou bem claro em entrevista dada na passada semana.

No seguimento do artigo anterior, elencamos outras matérias que merecem a reflexão do legislador numa futura revisão legislativa, que toda a comunidade desportiva espera que aconteça em breve.

Em primeiro lugar, deve ser ponderado se o atual número da lista de árbitros (artigo 20.º), limitada a 40 nomes, revela-se (des)ajustada, uma vez que gera repetição de árbitros e atrasos nos processos. A lista deveria ser mais flexível e alargada. Por outro lado, a designação de árbitros (artigo 28.º) sofre de repetição sistemática devido à recorrência dos mesmos litigantes. Deve ser avaliada a possibilidade de uso de árbitro único e clarificar regras em situações de pluralidade de partes.

Por outro lado, o serviço de consulta (artigo 33.º), que permite a emissão de pareceres jurídicos não vinculativos, levanta dúvidas quanto à independência do TAD e deverá equacionar-se a sua eliminação no futuro.

Também o regime dos procedimentos cautelares (artigo 41.º) deveria seguir o Código de Processo nos Tribunais Administrativos, e não o Código de Processo Civil, por razões técnicas de unicidade do sistema. Deve igualmente ser revista a adequabilidade do recurso ao presidente do Tribunal Central Administrativo Sul em casos de extrema urgência.

Por fim, o regime de custas processuais é considerado excessivo e desproporcional, dificultando o acesso ao TAD, sobretudo a atletas e clubes amadores. Este é um tema de especial sensibilidade, que deve merecer reflexão e debate alargado na comunidade, a bem da justiça desportiva.