Antes de rumar ao Alenquer, Pedro Gonçalves tem missão no Benim

Hóquei em patins Antes de rumar ao Alenquer, Pedro Gonçalves tem missão no Benim

HÓQUEI EM PATINS08.07.202316:59

«Voluntariado puro e duro» estão já a fazer o treinador Pedro Caeiro Gonçalves e o defesa/médio Ricardo Lopes, com o contributo de outros benfeitores, nos preparativos para 15 dias de intervenção no Benim, um país da África Ocidental produtor de algodão e soja, onde cerca de 100 crianças na asa do antigo internacional Kouokam Kamtchueng aguardam a chegada de conhecimento e de material para poderem evoluir no hóquei em patins que já praticam, em condições difíceis, no EYA Centro Comunitário da cidade de Cotonou. Também uma oportunidade para a modalidade evoluir em território, à falta de iniciativas das entidades oficiais.

Em Portugal, a solidariedade começou numa mensagem de Kouokam Kamtchueng, que jogou em França, «a pedir um treinador para um estágio de verão». Martinha, a avançada do Turquel nascida Marta Vieira, «viu a publicação nas redes sociais e mandou um print screen» a Pedro Gonçalves com um apelo desarmante: «Tenho a certeza que vais dizer ‘sim’». O treinador «estava a precisar de algo puro que fizesse renascer o sentimento pelo hóquei em patins» e demorou pouco tempo a decidir embarcar na aventura. «Decidi ir sem grande noção do que vinha aí. É voluntariado puro e duro», conta Pedro Gonçalves. Também Ricardo Lopes «aceitou na hora».

Ao certo, Pedro Gonçalves, antigo jornalista de A BOLA TV, ex-treinador do Parede FC e já comprometido com o Alenquer e Benfica na próxima época, e Ricardo Lopes, também com ligações a estas duas equipas, têm a garantia de alojamento e comida. Tudo o resto está a sair-lhes do bolso ou em resultado de uma corrida contra o tempo para angariarem material para as 100 crianças e verbas para custear este dispendioso envio para o Benim.

O avançado portista Gonçalo Alves é o embaixador do projeto Hockey for Benim, o presidente do Tojal e designer de profissão, Jorge Gomes, contribui no grafismo da campanha, o avançado Diogo Alves, que troca a Juventude Salesiana pelo Paço de Arcos em 2023/24, gere as redes sociais. São a estrutura «mais permanente» de uma missão a tocar e a mobilizar mais gente, até porque a equipa «foi rápida a construir redes de sinergia», abdicando de formalismos e burocracias. Foram criadas parcerias para a recolha de material e há uma angariação de fundos a decorrer porque «os custos de envio são muito elevados»

De 21 deste mês a seis de agosto espera-os 99 crianças «autodidatas» dos oito aos 13 anos. Quatro guarda-redes e 95 jogadores de campo que já estão familiarizados com o hóquei em patins, mas em pistas modestas ou ao ar livre e sem marcações, com sticks «num estado lastimável» e muitos sem patins de quatro rodas calçados, mas em cima de patins em linha. Pedro Gonçalves e Ricardo Lopes propõe-se «dar treinos às crianças e formação a treinadores». A língua falada, nomeadamente o francês, é um obstáculo desvalorizado pelo técnico, crente numa «linguagem desportiva universal» que possibilitará o entendimento.

Para uma modalidade confrontada com o estigma da pequenez, o chamamento do Benim é enorme. «Há clubes portugueses que não têm 100 jogadores!», frisa Pedro Gonçalves, para quem o crescimento do hóquei em patins requer outra abordagem por parte da federação mundial. «Há instâncias que já deveriam ter olhado para isto. O Kouokam Kamtchueng tem colocado vídeos nas plataformas sobre esta iniciativa. Como a World Skate não olhou para isto?!»

Pedro Gonçalves lembra «o potencial para haver mais um país a tentar praticar a modalidade». E reforça: «Podemos continuar agarrados ao chavão de que temos o melhor campeonato mundial e ignorarmos que o mundo é muito pequeno ou podemos fazer qualquer coisa para aumentar esse mundo. E, para isso, o hóquei em patins tem de ir ao Benim». Até há outras iniciativas já na forja, como o apadrinhamento das crianças do EYA Centro Comunitário gerido por Kouokam Kamtchueng.

O facto deste país estar isolado num continente sem tradição na modalidade também não afasta o treinador. «Portugal, Catalunha e Norte de Itália já são uma ilha em termos do território do hóquei em patins e esta circunstância não impediu o desenvolvimento. Talvez o erro esteja precisamente em não se promover a modalidade noutras zonas.»