Estreou-se no United com Mourinho, mas lesões arruinaram-lhe promissora carreira
Josh Harrop tocou o céu, passou pelos infernos e agora procura reerguer-se
Há quase oito anos, Josh Harrop viveu o sonho de qualquer jovem futebolista formado na academia do Manchester United. A 21 de maio de 2017, com 21 anos, foi lançado por José Mourinho na última jornada dessa edição da Premier League, naquela que foi a estreia com a camisola dos red devils e logo no mítico Old Trafford.
Mas não foi apenas uma estreia simbólica: Harrop foi titular, jogou os 90 minutos e ainda apontou um golo na vitória por 2-0 sobre o Crystal Palace, ao lado de ícones como Wayne Rooney e Paul Pogba, levando para casa o prémio de melhor em campo.
A promessa de um novo contrato estava sobre a mesa, mas a vontade de jogar regularmente levou-o a tomas a surpreendente decisão de rumar ao Preston North End, deixando esses 90 minutos em 2017 como a sua marca na história do United. Em entrevista ao The Guardian, Harrop recordou o momento.
«Se fosse só uma vez, já era suficiente para mim. O meu sonho era jogar em Old Trafford. Nem sequer era para marcar, era só para jogar e estrear-me», disse, revelando, de seguinda, que ainda tem a camisola desse jogo e o champanhe oferecido como lembrança da estreia.
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«Sempre que as pessoas entram, eu digo: 'Não toque nessa garrafa'. Porque eu nunca vou abri-la. Acho que o vou levar comigo para o resto da vida. É engraçado, porque algumas pessoas pegam nela e dão uma olhadela. É como um ornamento para mim. Devia ter uma caixa de vidro à volta», confessou.
Calvário começou em Preston
Foi em Preston que, apesar de um início promissor, a carreira do médio começou a ser atormentada pelas lesões. Na segunda época, uma rutura do ligamento cruzado anterior afastou-o durante 11 meses, dificultando a adaptação ao futebol físico do Championship.
Contudo, tal como a estreia pelo United, o regresso à competição foi rico em emoção e momentos inesquecíveis: «“Disse ao Alex Neil [treinador do Preston] qualquer coisa como: 'Eu devia estar a jogar'. Depois ele chamou-me ao escritório e disse: 'Vais pôr toda a tua conversa em ação no sábado, porque vou pôr-te a jogar'. Eu pensei: 'Perfeito'. Estava a pensar: 'Tenho de dar o meu melhor agora'. Foi o meu primeiro jogo de regresso [após a lesão] no campeonato. Acho que ganhámos 3-1, marquei um golo e voltei a ter um pouco de confiança.»
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A qualidade de Harrop era inegável, mas as lesões contribuíram para estagnar a carreira do médio, que continuou a enfrentar contratempos físicos. Um problema persistente no tendão, de difícil diagnóstico e tratamento, colocou-o num longo ciclo de exames e injeções.
«Já tinha consultado todos os especialistas possíveis. Exame após exame, injeção após injeção. Nada estava a melhorar a situação. Treinava, ia para casa e tinha de me sentar porque fisicamente não conseguia andar», revelou Harrop, descrevendo os momentos mais difíceis da sua jornada.
«Este é o lado que as pessoas não vêem. Eu estava de férias com a minha namorada e não podia ir a pé do hotel para o restaurante, por isso tive de apanhar uma mini-scooter. Tinha de levar uma mochila às costas porque era preciso levar um capacete... Para onde quer que fôssemos, eu costumava ir de férias nesta mini-scooter. Pensava para mim próprio: 'Isto não é normal'», recordou.
Novo clube... e nova lesão
Os tratamentos com plasma rico em plaquetas pareciam finalmente ter resolvido o problema, mas o destino voltou a ser cruel. Depois de se mudar para o Northampton, uma nova lesão – desta vez na cartilagem do joelho – atrapalhou qualquer possibilidade de sequência no relvado.
O médio de 29 anos está sem clube desde que deixou o Cheltenham no verão, vítima de uma mistura de infortúnios e problemas financeiros dos clubes interessados. Agora, Harrop procura uma nova oportunidade para mostrar o seu talento.
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«Não é fácil, porque toda a gente que conhecemos à nossa volta nos conhece sempre como futebolistas. Neste momento, nada está a correr bem. Tive muitas oportunidades no estrangeiro e na Escócia, mas vivo fora há dois anos. Estou na melhor forma física de sempre, sem problemas. Passei duas épocas completas em forma. Na minha cabeça, ainda me restam cinco anos de carreira», afirmou.
Novo rumo
Inscreveu-se na Baller League, uma competição de seis jogadores apoiada por nomes como Gary Lineker, Luís Figo, Alan Shearer e Micah Richards. O torneio, transmitido pelo Twitch, YouTube e Sky Sports, promete dar-lhe visibilidade e uma nova plataforma para reerguer a sua carreira.
«Como sou um jogador livre, isto dá-me algo em que me concentrar - também é futebol e é isso que adoro fazer», diz Harrop, que quer provar que ainda tem muito para dar.
Se a Baller League pode relançar a sua trajetória, só o tempo dirá. Mas a garrafa de champanhe que guarda desde a estreia pelo Manchester United continuará fechada. Aquele momento, intocado, é a lembrança de que um dia Harrop viveu o sonho... e a esperança de que possa voltar a vivê-lo.