Do Benfica à turma das quinas: os 321 dias de João Neves num foguetão
A imagem da praxe de João Neves no balneário da Seleção Nacional (D.R.)

Do Benfica à turma das quinas: os 321 dias de João Neves num foguetão

NACIONAL18.10.202308:00

Dez meses e meio de ascensão meteórica entre a estreia de águia ao peito e pela Seleção; ainda tão jovem e já tão... unânime: de Schmidt a Rui Jorge e, agora, Roberto Martínez

Os jogadores não se medem aos palmos. No caso de João Neves, trata-se de diamante de 174 centímetros de talento e garra em estado puro, ainda a ser lapidado, mas a irradiar brilho imenso desde há dez meses e meio, com 321 dias de ascensão meteórica entre a estreia pelo Benfica e pela Seleção.

O rol de elogios já é extenso e não vai parar de aumentar. Tem sido autêntico encantador de técnicos, alvo de elogios que não são em vão, mas que antes refletem a qualidade do desempenho nos treinos e nos jogos. 

Depois da estreia oficial em Braga a 30 de dezembro de 2022, substituindo Gonçalo Ramos aos 89’, numa altura em que o Benfica já perdia por 0-3, seguiram-se 13 partidas como suplente utilizado para João Neves, pelo meio com a estreia na Champions, na Bélgica, diante do Club Brugge, nos oitavos de final. 

Quase quatro meses volvidos sobre Braga, a 23 de abril de 2023, estreia-se a titular, na Luz, diante do Estoril, na jornada 29. 

«Se fosse risco, não o teria escolhido. É jogador muito talentoso e já fez muitos minutos na equipa, estando sempre bem. É excelente mistura de alegria, confiança e qualidade. Acho que foi a altura de dar-lhe a oportunidade para jogar de início [...]. Todos viram que ele está à altura de jogar neste nível e neste momento decisivo da época. Não tive dúvidas sobre a qualidade e dedicação», disse Roger Schmidt no final. 

Neves não mais saiu do onze até ao fim da época, coroada com o 38. Duas jornadas depois Estoril, segue-se vitória na Luz diante do Braga, e Schmidt justifica no final porque preteriu Florentino por Neves

«São sempre decisões difíceis, mas, na minha opinião, o João está a jogar muito bem, já tinha entrado bem, depois dei-lhe a oportunidade de ser titular e deu-nos algo especial, frescura, tem 18 anos e já é tão completo. É muito bom com a bola, sem a bola, no comportamento tático. Fisicamente intenso [...] Dá-nos algo especial», justificou. 

Na jornada 33, dérbi em Alvalade. Neves resgata precioso ponto aos 90+4’, faz o 2-2 final frente ao Sporting, na estreia a marcar - e logo num dérbi! Schmidt já não escondia certa incredulidade com a explosão do miúdo... 

«É grande surpresa, até para mim. Começou a treinar connosco antes do inverno, ganhou alguns minutos na equipa principal porque esteve muito bem nos treinos. Taticamente, sabe o que fazer no campo, e a determinado ponto estava pronto para ser titular. Dá-se a oportunidade e vê-se se está ou não. Mas joga com tanta confiança, com tanto foco, é muito bom na pressão, muito bom com a bola, sempre disponível, muito corajoso. É grande surpresa no final da época [...]. Se os jogadores estão prontos, estão prontos, não interessa se têm 18, 20, 25 ou 28 anos», advogou o alemão. 

Segue-se a festa no Marquês, mas para Neves era apenas mais uma curta paragem na carreira. Seguiu-se a entrada direta na lista de Rui Jorge para o Europeu sub-21, tudo isto, já, é bom lembrar, com apenas 18 anos. 

«Tem capacidade para jogar na Seleção sub-21. Está num contexto de alto nível», explicou Rui Jorge, sublinhando que chamava jogadores «em patamares de excelência» e que Neves «tem demonstrado estar à altura desse patamar no Benfica». 

Estava consumado o salto direto dos sub-19, que tinha ajudado a apurar para o Europeu da categoria, para os sub-21. Portugal, nesse Euro-2023 na Geórgia e Roménia, cai aos pés da Inglaterra nos quartos de final. Neves é titular nos quatro jogos e marca um golo. 

Vem a nova época, entrada com o pé direito. É titular na vitória na Supertaça frente ao FC Porto - e considerado o melhor em campo n’A BOLA. Continua sem sair do onze na esmagadora maioria dos sete jogos que se seguiram até… à 7.ª jornada: dia de clássico na Luz com o FC Porto, nova vitória, nova titularidade de Neves e uma exibição, mais uma, que fica na retina. 

«Não preciso de descrever, acho que toda a gente vê o quão feliz é a jogar futebol, está a evoluir muito rapidamente. Está na primeira equipa há ano e meio, mas evolui quase todos os dias. Está a fazer as coisas cada vez melhor, a ter cada vez mais responsabilidade e tem tudo o que precisa. Não é o jogador mais alto que há, mas como viram ganhou muitos duelos também no ar. É muito inteligente com bola, muito bom com ela, disciplinado e motivado. É muito completo», elogiou Schmidt pela enésima vez. 

Estávamos no final de setembro, com os jogos de qualificação de outubro para o Euro-2024 à porta, e o inevitável acontece: Martínez chama-o aos AA. 

«É mais um passo na evolução como futebolista. Está a liderar a sua equipa. Contra o FC Porto foi o homem do jogo e tem tido muito bons desempenhos na Champions. É um passo em frente e agora tem de lutar ainda mais para dar outros passos em frente na carreira», justificaria o selecionador. 

Para Rui Jorge, o que era doce, cedo… acabou-se. 

«Muito satisfeito por passar a outro patamar, teve sempre comportamento exemplar connosco. Espero que não volte, se voltar será sempre bem recebido», disse o selecionador sub-21. 

Já Schmidt, questionado sobre se Neves estava feliz pela chamada, salientou: «Está sempre feliz, mesmo quando não é chamado [risos]. Quando calça as chuteiras e toca na bola no relvado está sempre feliz. É recompensa, uma grande honra.» 

Na Seleção, e depois dos primeiros treinos às ordens de Martínez, o selecionador ficou… rendido. 

«Acho que o João nasceu para jogar futebol e jogar na seleção. Vi um jogador muito natural que está a desfrutar de cada minuto. Gosto muito da sua energia e personalidade. É jogador que tem potencial muito grande, de nível mundial», vincou Martínez antes do jogo com a Eslováquia. 

Neves não se estreou no Dragão, ficou reservado para a Bósnia o encontro com o destino. Tornou-se no segundo estreante da era-Martínez. 

O selecionador gostou do que viu: «Teve impacto na Seleção maior do que os minutos que jogou. Tem personalidade e forma de ler o jogo diferente.». 

Os colegas também gostaram do que viram, no jogo, nos treinos e fora de campo. A fotografia que emergiu da praxe de João Neves no balneário da Seleção dispensa palavras. A imagem vale mesmo por mil palavras...