Inglaterra Kanté destaca «aquela noite na cidade do Porto» no adeus ao Chelsea

O médio internacional francês N’Golo Kanté, que ao fim de sete épocas (desde 2016) deixou o Chelsea e irá representar o campeão da Arábia Saudita, o Al Ittihad – treinado pelo português Nuno Espírito Santo – na próxima temporada, despediu-se do clube londrino com uma longa carta de agradecimento a todos quantos, nos ‘blues’ da capital de Inglaterra, o ajudaram ao chegar ao topo, desde técnicos a fãs e companheiros de equipa, mas recordando em especial a conquista da Champions, a 29 de maio de 2021, no Porto (Estádio do Dragão), como momento especial que guardará para sempre no seu coração.

Além da Premier League, na sua passagem por Inglaterra e pela Premier League, Kanté conquistou Champions e Liga Europa, além de, por França, se ter sagrado campeão mundial na Rússia-2018 e ‘vice’ no Catar-2022. Mas, revela agora o futebolista na extensa missiva de agradecimento, penou muito para ser aceite na academia de um clube, durante a formação.

Eis, na íntegra, a longa missiva de despedida de N’Golo Kanté para o Chelsea e seus adeptos – irá juntar-se ao compatriota Karim Benzema (ex-Real Madrid) no clube de Jeddah, recorde-se -, divulgada esta quinta-feira:

«A transferência perfeita

Lembro-me bem de como aconteceu a transferência para o Chelsea. Estava no Leicester e tivemos uma temporada incrível [campeões ingleses, 2015/16]. Pouco depois de ganharmos o título, o meu empresário ligou-me, a comunicar que o Chelsea estava interessado em contratar-me.

Logo à partida, tive uma boa química com Antonio Conte [treinador italiano então ao leme dos londrinos]. Foi o técnico que me contratou. Senti que sabia o que queria de mim e o que queria, e esperava, do clube. A partir daí decidi jogar no Chelsea. Nunca me arrependi da escolha: foi perfeita para mim.

A deixar a minha marca

Recordo com carinho o meu primeiro encontro pelo Chelsea: jogo grande, um dérbi de Londres, ante o West Ham. Vi um cartão amarelo e até tive sorte em não ser expulso: já tinha sido advertido e fiz outra falta logo após, mas por sorte o árbitro não me puniu com outro amarelo. Foi a minha estreia, um momento especial, a primeira vez a jogar em Stamford Bridge [estádio do Chelsea] com a camisa azul. Ver os adeptos e jogar ante eles pelo Chelsea pela primeira vez foi muito especial, é algo que eu sempre lembrarei com muito carinho.

Crescendo com o Chelsea

Durante a minha passagem pelo Chelsea, trabalhei com alguns técnicos incríveis e de primeira linha, que me ajudaram a desenvolver as minhas qualidades como jogador e me fizeram entender o jogo de maneiras diferentes: as fases ofensivas e defensivas, a coesão coletiva, como pressionar na hora certa e outras coisas do género.

Quando todos jogam unidos, com a mesma mentalidade, forma-se um coletivo. E isso é algo que, realmente, senti no Chelsea. Desde 2016, quando cheguei, até agora, desenvolvi-me como jogador por o clube me ter dado a oportunidade de o fazer.

Aquela noite na cidade do Porto

Vivi tantos bons momentos no Chelsea, mas é claro que vencer a Champions [1-0 ao Man. City na final, a 29 de maio de 2021, no Estádio do Dragão, no Porto, golo do alemão Kai Havertz] se destaca. As últimas fases dessa campanha, foram no seu todo, muito especiais.

Tivemos algumas exibições muito boas ante grandes equipas para chegar até à final e, então, acabar a comemorar com o troféu, foi um sentimento incrível!

Foi a primeira vez que cheguei aos ‘quartos’ e ‘meias’ de uma prova tão importante. Já lá tínhamos chegado [a títulos na UEFA] antes, na Liga Europa, mas a Champions é ainda mais bonita: é… especial! Chegar à final foi uma sensação maravilhosa, mas, uma vez já chegados, queremos é ganhar o jogo.

Tínhamos feito uma boa campanha na Liga dos Campeões até à final, ante grandes equipas, e não éramos os favoritos, recordem. Por isso, ganhar a final foi ótimo e soube ainda melhor. O título foi um bônus, pois, na verdade, o mais importante foi a jornada percorrida até aí. E isso é algo que recordarei para sempre! O sentimento daquela noite ficará connosco por muito tempo. Mesmo agora, quando falo daquela noite no Porto, sorrio.

O espírito do Chelsea

Sempre que vejo imagens dessa noite, sorrio. Quando ganhamos, apenas quero saborear o momento e comemorar com os fãs. Foi o que fizemos, naquela noite na cidade do Porto. Desde que fui contratado, a exigência de vencer esteve sempre presente aqui. É o espírito do Chelsea, que sentes desde a primeira hora. Jogadores e treinadores partilham enorme desejo em vencer títulos e conquistar troféus!

Sempre quis chegar ao topo e estar no Chelsea. Ajudou-me a alcançar meu sonho. Aqui comemorei grandes vitórias, grandes títulos e cresci como jogador.

Sendo N’Golo

Muita gente me questiona porque me mantenho tão humilde. Para mim, não é necessariamente sobre ser humilde: é apenas ser fiel a mim próprio e recordar a jornada que percorri. Chegar ao Chelsea e à seleção francesa foi uma jornada longa para mim, pejada com muitos obstáculos.

Desde jovem, fui barrado em muitas academias e centros de treino da formação de clubes. Falhei em várias tentativas de ingressar num clube profissional. Estes obstáculos formam quem tu é e servem-me de lembrança todos os dias.

Estou grato pela minha jornada. A todos os que conheci ao longo do caminho, pessoas que partilharam o mesmo sonho que eu: de me tornar um jogador profissional e de chegar ao topo. Nem todos podem realizar os seus sonhos. Sei que tenho sorte. Tive sucesso e vou recordar sempre o trajeto até aqui chegar.

Obrigado, Chelsea

Como disse antes, o meu sonho era tornar-me jogador de futebol e conquistar títulos. Chegar ao Chelsea foi a combinação perfeita para realizar esses sonhos. No dia em que cheguei ao clube, logo me avisaram que a meta era, sempre, conquistar troféus. Consegui fazê-lo e estou muito grato aos treinadores, companheiros de equipa e adeptos do Chelsea, pela ajuda a conquistá-los.

Os últimos anos no Chelsea foram ótimos para mim e, espero que também o tenham sido para os adeptos do clube.

NG»