Rui Costa está refém de João Félix
Novela já leva demasiados episódios e não pode terminar de forma abrupta. Até lá, o presidente tem de acabar com o tabu da recandidatura. Este é o 'Livre sem barreira', espaço de opinião de Hugo do Carmo
O verão é propício a romances e o que se aproxima… promete. Sejam eles para terminarem em casamento ou separação. Em Alvalade, já se percebeu, o caso Gyokeres, inevitavelmente, vai dar em divórcio. Rume o sueco a Inglaterra, Itália, Espanha ou Arábia Saudita, a relação de amor acabou e, quando assim é, o melhor é mesmo cada um começar uma nova vida.
Já na Luz a novela João Félix assemelha-se àquelas mexicanas, intermináveis. A seguir a uma temporada, há uma pausa e depois inicia-se nova sequela. A deste ano começou mais cedo e promete estar para durar, com o aliciante de a cada dia surgir um novo personagem e com a curiosidade de as filmagens decorrerem no estrangeiro, mais propriamente nos Estados Unidos, e com o Mundial de Clubes como cenário. Mais: o próprio ator principal também integra as filmagens, mesmo que na versão americana do enredo tenha aceite um papel secundário, participando apenas em episódio em dia de jogo!
Considero que o internacional português tem um potencial fantástico e sou daqueles que faço parte do grupo de desiludidos. Sempre pensei que quando João Félix trocou o Benfica pelo Atlético Madrid, deixando na Luz fantásticos 120 milhões de euros, não demoraria a afirmar-se entre os melhores do mundo. Enganei-me.
Passaram entretanto seis anos e entendo que o melhor para o avançado neste momento era mesmo voltar a casa. Para o Benfica, então, nem se fala. João Félix seria uma mais-valia indiscutível, até porque reencontraria Bruno Lage, que foi quem o projetou.
Não significa isto que considere que os encarnados estão a proceder da melhor forma. Defendo, aliás, que estão a cometer demasiados erros. Desde logo porque não há um dia em que o tema João Félix não venha à baila no clube. E isto com a equipa em competição e logo no Mundial de Clubes, no qual defende o enorme prestígio e procura milhões preciosos.
A novela é, no mínimo, deselegante para muitos dos jogadores e um risco tanto para o treinador como para o presidente. Rui Costa já procurou colocar água na fervura, frisando que não há nenhuma aproximação que o possa a levar a pensar que o regresso seja possível, mas as palavras, na minha opinião incompreensivelmente, não tiveram qualquer impacto internamente!
Sim, Rui Costa, pelo menos foi assim que entendi, quis tirar João Félix da agenda diária do clube, mas tanto os jogadores como Bruno Lage continuaram e continuam a alimentar o folhetim. E isto a cada conferência de imprensa ou a cada flash interview! Surreal. No mínimo.
Não consigo entender a estratégia de comunicação do Benfica. Há o cuidado de escolher jogadores que conviveram com João Félix, sejam eles Florentino, que jogou com o avançado no Benfica, ou Leandro Santos, que ainda dava os primeiros passos no Seixal quando o internacional português saiu... O importante é que se fale de João Félix, que se está a tornar num verdadeiro D. Sebastião para os benfiquistas.
Não digo que seja um mito e que, numa manhã de nevoeiro, não regresse para salvar o clube de todos os males. O que sei é que é jogador do Chelsea, que pagou 52 milhões de euros ao Atlético Madrid por ele há apenas um ano, e que tem um vencimento incomportável para os bolsos dos encarnados. O mesmo será dizer que a contratação será sempre uma operação muito delicada, mesmo que os ingleses estejam dispostos a abdicar de metade do investimento que fizeram e que o avançado esteja também ele recetivo a abdicar de muitos milhões.
Certo é que a novela já leva demasiados episódios, pelo que não pode terminar de forma abrupta. Provavelmente, só terá o epílogo no final de agosto, no encerramento do mercado. Até lá, Rui Costa tem de acabar com o tabu da recandidatura.
Considero que a decisão está tomada e que o presidente vai mesmo para eleições, pelo que aguarda apenas o timing indicado para fazer o anúncio. Esteja o momento relacionado com João Félix ou o Mundial de Clubes, que pode ajudar os adeptos a esquecer a frustração pela perda do campeonato e da Taça de Portugal.
Rui Costa, como qualquer presidente, está dependente dos resultados, mesmo de uma prova inédita e na qual o Benfica se apresenta com uma equipa que inclui jogadores que já têm novo clube, outros que estão emprestados e não se sabe se contam ou não para a próxima época ou outros que ainda não decidiram se querem ou não permanecer… Não é um bom princípio, mas o pior é mesmo estar refém da novela João Félix.