Os novos calimeros
O Sporting congelou, o FC Porto pouco conseguiu descongelar. Covid, arbitragens e pouco descanso? Sim, mas já chega
FALEMOS de futebol e não do futebol. O Sporting conseguiu congelar o clássico e o FC Porto só a espaços o conseguiu descongelar. Os leões mantêm os dez pontos de avanço sobre os dragões, o que muito dificilmente tornará o título viável para os (ainda) campeões nacionais. Sérgio Conceição disse, no final da primeira volta, a seguir ao empate com o Belenenses SAD, que estava convencido de que, se ganhasse todos os jogos até final da Liga, seria campeão. Estava, então, a seis pontos do líder. Agora, após os empates frente a SC Braga, Boavista e Sporting, os dragões já não podem alcançar os tais 90 pontos que garantiriam caso tivessem vencido, como era foco do treinador portista, os 17 jogos finais. Podem, no máximo, atingir 84 pontos
Aquestão é que o FC Porto terá de fazer ponta final perfeita para chegar aos 84 pontos: 13 jogos, 13 triunfos, 39 pontos. O que os dragões nunca conseguiram. O máximo que somaram nas 13 jornadas finais foi 37. Em 1994/1995 (Bobby Robson) e em 2010/2011 (André Villas-Boas). E 35 só por mais três vezes: 2000/2001 (Fernando Santos), 2008/2009 (Jesualdo Ferreira) e 2011/2012 (Vítor Pereira). Nos três anos anteriores, com Sérgio Conceição, somaram 33 pontos em 2017/2018, 34 em 2018/2019 e 29 em 2019/2020 e neste século conseguiram, em média, 31 pontos nas últimas 13 rondas. O mais natural, pois, é o FC Porto somar de 33 a 35 pontos. O que fará com que chegue perto dos 80 pontos. Parece pouco, face a este Sporting.
ESTA época temos visto mutações interessantes: dragões e águias mimetizaram o Sporting dos últimos 20 anos. Não apenas pelas fracas pontuações, mas, sobretudo, pelo discurso calimerizado que têm apresentado. Tudo o que Sérgio Conceição e Jorge Jesus têm dito faz sentido: Covid, arbitragens e pouco descanso têm prejudicado ambas as equipas. Mas falar nestes temas até à exaustão, jogo a jogo, dia a dia, pré-conferência a pré-conferência, flash-interview após flash-interview, pós-jogo a pós-jogo, aproxima FC Porto e Benfica dos discursos leoninos dos últimos 20 anos: desculpas, desculpas, desculpas. Estão a transformar-se nos novos calimeros do futebol português. É preciso acabar com o anti-jogo? Acabe-se! É necessário mudar a forma de apitar dos árbitros? Mude-se! É preciso ter menos faltas nos jogos? Eduquem os jogadores! Mas, por favor, alterem o discurso calimerizado. Ouvir palavras como as de Sérgio Oliveira (flash-interview) e atitudes como as de Francisco Conceição (recusando o cumprimento de Porro e cuspindo para o chão) não cabem num grande campeonato.