Os meninos à volta da fogueira

OPINIÃO22.08.201804:24

BENFICA-SPORTING. Fogo que arde à vista de todos… na cidade. Mais um derby, o primeiro em nove anos sem a carismática presença de Jorge Jesus. Benfica, no ano 4 da era Vitória, surge mais entrosado e calejado: parte favorito independentemente do que tiver acontecido na noite de ontem com o PAOK; Sporting com treinador novo e direção interina ainda está a recompor-se do Brunamoto sofrido em maio. Bom era que antes, durante e depois do duelo prevalecesse o civismo que tão arredio tem andado na relacionamento entre os velhos rivais. Que se apresentam iguaizinhos em pontos (6), em golos marcados (5) e sofridos (2)… e  em promessas de amanhãs que cantam. Do lado do Benfica, o calmeirão Gedson Fernandes (19 anos) chegou-se à frente e tem feito sensação. Rui Vitória deu-lhe uma oportunidade e ele agarrou-a com gana. Tem impressionado pela dimensão física do seu jogo, pelo desplante e pelos slalons que lembram os de Renato Sanches há dois anos. Não sei se Gedson será um segundo menino de ouro e cumprirá trajetória tão fulgurante como a de Renato. Mas vejo que traz a nação benfiquista pelo beiço (os adeptos seguem sempre com carinho especial os produtos da casa) e parece ter qualidade para voar alto e cumprir a histórica sintonia do Benfica com a boa e velha magia africana - lembre-se que Gedson veio de São Tomé, um dos sítios mais belos e luxuriantes do Mundo Lusófono. 

Jovane Cabral (20 anos) também chegou de uma ilha atlântica Lusófona - Santiago, Cabo Verde - e teve participação decisiva nas duas vitórias do Sporting - assim que entrou virou o jogo do avesso. Felino, potente, felino e explosivo, Jovane tem dado nas vistas pela velocidade, pelo descaramento e pela verticalidade, na melhor tradição dos agitadores» formados em Alcochete. Perdidos (à má fila) Gelson Martins, Rafael Leão e Podence, os sportinguistas começam a ver em Jovane o enésimo continuador da mais famosa dinastia mundial de extremos e interiores - a que produziu, entre outros, Futre, Dani, Figo, Porfírio, Boa Morte, Simão, Hugo Viana, Quaresma, Ronaldo, Nani, João Mário, Bruma, Iuri Medeiros, Gelson e Rafael Leão.

Deixemos os meninos à volta da fogueira. Falemos agora dos graúdos.

Depois de Luís F. Vieira ter dito umas baboseiras sobre a necessidade de «pacificação» do futebol português, a comunicação do Benfica desatou a disparar sobre o FC Porto numa inversão da estratégia da época passada. Mesmo aceitando que a hipocrisia no futebol não conhece limites, julgo que esta última publicação benfiquista (no Twitter) relativamente ao FCP - «Prendam-nos. Enquanto não os prenderem isto vai continuar a palhaçada de sempre» - é uma tirada demasiado arriscada para quem se habituou a ter a PJ em casa e está envolvido em vários processos judiciais constrangedores. O Benfica de Vieira & Gonçalves tem telhados de vidro demasiado fininhos para se poder dar a estes desplantes. Mas pronto. O Sporting fica a saber que, consoante as incidências do derby, pode ser o próximo destinatário da hiperativa propaganda encarnada; Sporting que, por outro lado, não consegue livrar-se do homem (Bruno de Carvalho) que passou os últimos tempos a disparar contra o mundo e a safar Vieira de aparecer nas primeiras páginas. Mesmo depois de ter sido implacavelmente expulso da presidência do SCP por larga maioria de sócios, Bruno diz que ainda é o boss e continua a tentar desestabilizar a equipa de futebol com iniciativas difíceis de avaliar por quem não seja versado em psiquiatria. Todos estes disparates seriam hilariantes se não revelassem o estado patológico das lideranças. Pela amostra dos últimos dias, esta época não será diferente da última - que foi miserável. Benfica e FC Porto continuarão a agredir-se sem descanso e o ruído será cada vez mais insuportável. A ver se o próximo presidente do Sporting escolhe outro caminho.

Os Silvas em boa forma

ANDRÉ SILVA marcou três golos no primeiro jogo com o Sevilha. Creio que foi o primeiro português a fazer um hat-trick na estreia numa Liga de topo. Espetacular! Como ele precisava de uma proeza deste tipo para atirar para trás das costas o falhanço no Milan e no Mundial. Agora é dar corda às chuteiras. Vai a tempo. Outro Silva em bom  momento é Bernardo: faz parte do riquíssimo Abu Dhabi-Man City, recebe elogios de Guardiola e está a criar condições para um dia poder vir a jogar num grande europeu a sério - daqueles que ganham a Champions. O outro Silva da Premier (o treinador Marco) começa a mostrar serviço no Everton muito por culpa da segunda aposta no miúdo (21 anos) Richarlison. Há um ano, Marco convenceu o Watford a pagar 12,5 milhões ao Fluminense pelo avançado brasileiro. Agora insistiu com o Everton para o resgatar ao Watford por 40 milhões. Dois jogos, três belos golos e quatro pontos depois, Richarlison cala os críticos e recoloca Marco nas boas graças da crítica inglesa.

Cristiano sempre na luta

Ronaldo é um dos três finalistas-candidatos a Jogador do Ano da UEFA, ao lado do ex-colega realista Modric e de Salah. O jogador português luta por uma quarta consagração (em cinco anos) depois dos triunfos em 2014, 2016 e 2017 e mantém-se como único totalista de pódios nas oito edições deste prémio. Que foi criado pela UEFA em 2011 e permitiu a dois outsiders (Iniesta em 2012 e Ribéry em 2013) furarem a implacável hegemonia de Cristiano e Messi no futebol mundial. Lembre-se que na última década eles repartiram (5-5) todos os prémios atribuídos pela FIFA e pelo France Football. Messi, vencedor do UEFA Player of the Year em 2011 e 2015, falha o pódio pela terceira vez (!...) nos últimos cinco anos, pagando o preço de não ter brilhado na Champions e no Mundial. Griezmann e Mbapée também ficaram de fora, o que pode ser um sinal importante para o Ballon d’Or e para o The Best da FIFA.