O 'rastafari' Quenda e os novos 'spin doctors'
O Mundial 2026 começa daqui a um ano e os portugueses já salivam. Salivam por Quenda, Mora, Neves, Vitinha e muitos mais. Noutra área: 'spindoctorismo' sim, mas devagar, meus caros...
É uma espécie de rei dos 'rastafari'. Há o velocíssimo Roger; o patrão Chico Lamba; Flávio Nazinho, o gémeo de Nuno Mendes; e há o rei dos 'rastafari': Geovany Tcherno Quenda. Tem cara de 15 anos, corpo de 18 e futebol de veterano. Destroçou a medíocre Seleção da Polónia em apenas 14 minutos: dois golos e uma assistência. Aliás, dois golaços e uma assistênciazona, se é que esta palavra existe. Se não existe, o inventor é ele, não eu.
Em 2026/2027, em princípio, Quenda estará em Londres. O brasileiro Estevão, seis dias mais velho, já lá está. Tal como Dário Essugo, já batido nos seus 20 anos. João Félix, o veteraníssimo de apenas 25 anos, estará ou não. Quenda fez bem em ficar mais um ano no Sporting, Essugo fez bem em passar por Chaves e Las Palmas antes de dar o grande salto. Félix, percebemos agora, talvez devesse ter feito o mesmo. Em vez de sair para o Atlético Madrid aos 19 anos, teria sido bom ficar mais um ano no Benfica. Mas isto, meus caros, é apenas o que eu penso. E o que verdadeiramente interessa é o que João Félix pensa, não o que cada um de nós pensa. A carreira é dele, a vida é dele, o dinheiro é dele. Tal como a vida, a carreira e o dinheiro de Quenda. A vida do ala leonino, tentando projetar o futuro, parece ser bem promissora. Ontem, frente a insípidos polacos, é certo, destroçou tudo e todos, bem acompanhado pelo grande Roger.
Já repararam que Rodrigo Mora, Geovany Quenda, João Neves, António Silva, Renato Veiga, Francisco Conceição, Nuno Mendes, Gonçalo Inácio, Gonçalo Ramos e Tomás Araújo têm menos de 24 anos? E que Pedro Neto, Francisco Trincão, João Félix, Vitinha, Diogo Costa têm menos de 26? E que o Mundial de 2026 começa daqui a menos de um ano? Deixa os portugueses com um pouco de água na boca, não deixa? Salivemos durante mais uns mesinhos.
Um 'spin doctor' é, por definição, alguém que distorce algo para tentar obter algum benefício. Há muitos em Portugal e cada vez mais ligados ao desporto. Nos últimos meses apareceu uma nova classe de 'spin doctors': os anti-Pedro Proença e, por inerência, os antigos pró-Fernando Gomes. E estou totalmente à vontade: falei com PP durante duas horas em finais de dezembro de 2012, quando, juntamente com Vítor Serpa, o entrevistei a propósito de ter sido escolhido como ‘Homem do Ano’; com Fernando Gomes tive o prazer de o cumprimentar por três ou quatro vezes. Agora, se PP ri, é porque ri; se PP chora, é porque chora; se PP fala, é porque fala; se PP não fala, é porque não fala; se PP elogia Martínez, é porque é cínico; se PP não elogia Martínez, é porque quer despedi-lo. Adaptando o que escreveu Álvaro de Campos há muitos anos, aqui fica a ideia: 'spindoctorismo', sim, mas devagar, meus caros.
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