O médio que falta
Domingos Soares DE Oliveira vai continuar no conselho de administração da SAD benfiquista. Foi essa a sua decisão, recusando os convites que lhe foram endereçados por considerar que ainda há «muito para fazer» onde está, como revelou à televisão do clube.
O anúncio mil vezes repetido da sua saída alimentou uma questão muito sensível. A mais sensível de todas para Luís Filipe Vieira solucionar no dealbar deste mandato, caso o seu principal respaldo tivesse optado por outro rumo na vida profissional.
Assim não aconteceu, porém, e, quanto a mim, duas razões fundamentais presidiram a este desfecho:
Primeira, a que o próprio DSO comunicou na entrevista à BTV, reconhecendo que, apesar do longo e árduo caminho que já foi cumprido, é imenso o que ainda está por percorrer, sem receio das tempestades que o futuro reservará. Há uma série de empreitadas para executar com mesma força interior que lhe advém da competência e da seriedade com que exerce as suas funções num meio complexo e infestado de mexeriqueiros, que já estariam a preparar candidaturas ao preenchimento de tão aliciante cargo. Que aborrecimento, há meses que havia quem jurava de pés juntos que o homem sairia mas, afinal, o homem fica e com essa posição arranjou mais uns quantos amigos que viram esboroar-se a pretensão de aspirarem a um patamar profissional e social de excelência.
Segunda, mais relevante, prende-se com a lealdade e a gratidão, dois sentimentos tão apoucados quando se trata de chegar lá acima, que DSO valorizou. Há quem argumente que é a vida, pois sim, mas também há regras que, independentemente dos tempos e das circunstâncias, são para respeitar.
Soares DE Oliveira tomou a sua opção de livre vontade. Vai ganhar mais? Talvez. Não sei quanto recebe, nem tenho de saber, mas presumo que existiria muito boa gente desejosa de vê-lo pelas costas. O que mais sublinho na sua atitude, contudo, tem a ver com a nobreza que a amparou, ao valorizar princípios que, independentemente dos euros em cima da mesa, jamais devem ser apagados. Creio que foi assim que procedeu ao colocar o sucesso do projeto-Benfica, tal como está delineado, e o apoio ao presidente Luís Flipe Vieira na primeira linha das suas prioridades, apesar da pressão de forças apostadas num divórcio que, a meu ver, seria péssimo para o estabilidade do emblema: resquícios das últimas eleições e das expectativas geradas em alguns espíritos irrequietos e tentados pelo poder.
A confirmação da continuidade de DSO na administração da SAD e como CEO do grupo empresarial do Benfica foi uma boa notícia para o adepto comum, que quer o melhor para o clube, e uma má notícia para quantos investiram no seu rompimento com Luís Filipe Vieira, a trave mestra do imponente edifício encarnado e, por isso mesmo, alvo de todas as invejas e difamações.
Escreveu o jornalista Luís Mateus, na edição de ontem de A BOLA (pág. 31), o seguinte: «Jesus quer reforços, o CEO diz que o Benfica tem é de vender e o técnico volta atrás. Duas vozes, dois… projetos, tal como a questão da formação - já se pode dizer que emprestar Florentino foi um erro?»
Não sei se foi erro ou não, mas não é preciso ter curso de treinador para ver que a equipa joga pouco, não entusiasma, sendo necessário e urgente que se dilua esta imagem de duas vozes e dois projetos através de um equilíbrio entre a estabilidade financeira da sociedade desportiva e o investimento que o futebol profissional reclama, não só para eliminar um Arsenal descaracterizado nos 16 avos de final da Liga Europa, mas também para poder assumir-se como sério pretendente à vitória na competição.
Com o comboio em andamento não há muito que se possa fazer, mas qualquer coisa é melhor do que nada e em face do esquema tático de que Jorge Jesus não abdica até o jogo com o Vilafranquense permitiu observar que não é possível pedir muito mais com médios que tantos passes falham e tantas bolas perdem, que ora jogam devagar, ora correm muito e mal. A equipa do Benfica, neste momento, tem alas, tem avançados, tem centrais experientes, mas é oca por dentro, falta-lhe consistência e uma voz de comando que encha o campo e segure nas pontas da manta.
Oplantel é farto em médios que não passam de bons suplentes, mas falta-lhe um titular indiscutível, daqueles que não suscitam dúvidas, nem aqui nem no outro lado do mundo. Pelo menos um, no imediato, um médio centro, tipo todo-o-terreno com autonomia física de noventa minutos, que engrosse o coletivo e o robusteça.
O tempo não está para gastos. Exige-se, por isso, rigor na escolha, sendo certo que não será mau negócio trocar um jogador realmente bom por dois ou três que nada acrescentam. Ou seja, dos que estão, embora por diferentes motivos, Weigl, Taarabt, Samaris e Gabriel, além de Chiquinho e outros, são, em minha opinião, moedas para vender, trocar e… lucrar, se for possível. De modo a falar-se a uma só voz, e em obediência a um projeto único, a Luís Filipe Vieira e Domingos Soares de Oliveira pede-se-lhes um esforço adicional para darem a Jesus o médio que lhe falta. Ele pede dois, é o que se consta, mas tem que ter paciência e fazer a festa com um.